A Torre Inversa

04

- Desculpe chamar assim, de última hora doutor... - A enfermeira de cabelos loiros diz, sua feição era de pesar. 

- Nós sabemos que é seu horário de descanso, mas precisamos dessa autópsia urgente! - A de cabelos morenos completa, puxando o lençol preto que cobria o corpo, o mantendo tampado.

- Não tem problema! Quer dizer... - Ele diz ajeitando a máscara. - O único problema são esses insetos! 

Sim, os insetos aos poucos estavam tomando conta de todo o hospital, e a sala da autópsia não estava diferente, infestada de moscas, como se algo podre tomasse conta do lugar. 

- Já não sabemos mais o que fazer! - A enfermeira diz arrumando a mesa. - Eles estão praticamente tomando conta do prédio inteiro! É uma verdadeira manifestação! 

- Muito bem, chega de papo, vamos focar nossa atenção aqui, no falecido... - O especialista diz, colocando suas luvas. - Há quanto tempo o senhor Samir está morto? 

- Faz apenas alguns minutos! - A loira diz. 

- Bom... Isso é impossível! 

- Como assim doutor? - Ela se aproxima do corpo. 

- O corpo já está num grau avançado de decomposição! - Ele diz, verificando um pouco debaixo do lençol, logo o tampando. - O corpo já está num grau avançado de decomposição! É como se ele tivesse apodrecendo antes mesmo de morrer. O que tinha? - Ele indaga curioso, ajeitando os óculos. 

- Não sabemos ainda. - A morena diz ajeitando os óculos. - Nenhum laboratório conseguiu identificar sua doença! 

- É por isso que precisamos de uma autópsia urgente, para pelo menos descobrirmos o que aconteceu com seus órgãos internos! - A loira completa e o Doutor assente. 

- Gente! Vocês viram isso? - A enfermeira morena arfa de susto. - Um bicho enorme entrou debaixo do lençol! 

Sim, ela havia visto claramente uma centopeia adentrar por debaixo dos lençóis, fazendo todo seu corpo arrepiar de medo e nojo. Curiosa, a mesma se aproximou levantando o tecido, e recebendo um arranhão. Ele se afasta gritando de susto e dor, por ter seus olhos feridos, apesar de estar de óculos. Ela simplesmente não entendia como. 

- O bicho me atacou! Meus olhos! Ele arranhou meus olhos! - Ela gritava enquanto tentava se equilibrar, se apoiando na mesa, que logo caiu. 

 - Rápido, vá lavar o rosto antes que infecione! - O médico empurra a morena. - Nós cuidamos da... 

Ele foi interrompido por um grito de pavor da outra enfermeira. 

Havia um centopeia bem em cima do corpo do falecido Senhor Samir, sua estrutura era grande para centopeias comuns, o que assustou a loira. 

"Bem vindos, á era da escuridão!" 

A frase dita foi ouvida como um chiado. 

- Eu... A-acho que ouvi a voz da centopeia dentro da minha cabeça! - Ela diz assustada, enquanto o doutor a encarava confuso, não havia escutado nada. - E-eu devo estar imaginando coisas! 

Ela repetia isso para si mesma, até as luzes do local se apagarem completamente. 

- O hospital não tem gerador de emergência? - Ele indaga, começando a ficar nervoso, a situação toda era estranha. 

- E-eu não sei, pode ter sido um problema na fiação! 

De costas para a mesa, eles seguravam a mão um do outro, estava um completo breu, então o doutor decide pegar o celular que estava no jaleco, ligaria a lanterna e sairiam de lá.