A Torre Inversa

05

Jungkook 

Ando devagar pelo corredor enquanto o ilumino com a lanterna do celular. 

- Olá? Tem alguém aí? - Pergunto um pouco alto. 

Estranhamente esta ala hospitalar estava completamente vazia, como se fosse abandonada, com macas e cadeiras de rodas pelo corredor, instrumentos medicinais pelo chão. Onde estão os pacientes? E os enfermeiros? Cadê todo mundo? 

Ilumino um das portas e noto um cavalo de balanço para crianças, e desenhos espalhados pelo chão, minha nossa estou na ala infantil, mas onde estão as crianças? De repente sinto um toque leve em minha perna e me viro assustado, vendo uma garotinha com uma boneca de pano, seus cabelos eram cacheados e pretos, ela também usava um colar, o que estaria fazendo aqui?

- Desculpa tio! E-eu não queria te assustar! - Ela gagueja com os olhos arregalados. 

- Minha nossa! É só uma menina! - Eu me ajoelho em sua frente, e ela me encara curiosa. - Eu é quem tenho que pedir desculpas! Quase te acertei sem querer pelo susto, qual é o seu nome querida? 

- É Dahyun e o seu? 

- Dahyun? Que nome lindo! O meu é Jungkook. - Me levanto e agarro sua mãozinha enquanto ilumino o corredor para que possamos sair dali. - Onde estão seus pais? Você tá sozinha? 

- Não, eu to com a minha boneca! - Dou um sorriso fraco. 

- Você se parece muito comigo quando eu tinha a sua idade sabia? Também tive um boneco que eu levava pra todo lugar, ele me protegia... - Sorrio me lembrando da minha pelúcia de brinquedo. - A sua boneca, ela também te protege? 

- Você tá doido, tio? Minha boneca não protege ninguém, você não vê? Ela não tem vida! 

- Como você é esperta! Bonecos são mesmo seres inanimados! - Dou uma risada. - E ai? O que você tá fazendo aqui no hospital? 

- Ah, eu to procurando o meu irmão! Sei que ele trabalha aqui, o nome dele é Samuel Stavros! Você conhece ele? 

- Conheço sim! Ele tá ali no andar de cima, eu te ajudo a... - Ela me interrompe apontando para uma sala. 

- Nossa! Quase que eu esqueci! Aquela menina pediu pra eu te chamar! - Menina? Que menina? - Ela tá aqui na ala infantil. 

- Mas, essa ala está vazia! 

- Não está não. 

Respiro fundo e tomo coragem. 

- Fica ai, eu vou lá ver! - Digo para a criança e volto um pouco no corredor até a sala onde a mesma apontou, talvez eu deveria ter puxado ela comigo. Mas também, como é possível? Do que ela está falando? Eu não vi nenhuma menina na... 

- Olá JungKook! Há quanto tempo... - Uma voz doce ecoa, na mesma sala onde havia um cavalo de balanço, que agora estava ocupado por uma menina de cabelos loiros e escorridos, pelo reflexo da luz deu pra ver que ela estava fantasiada com asas. 

- Quem? Quem é você? - Pergunto reprimindo o medo. 

- Você não se lembra de mim? Mas nós já nos encontramos uma vez... Há algum tempo! - Meus olhos se arregalam ao reconhecer sua estrutura, não é possível... - Bom... Eu só vim agradecer... Por vocês terem... Me libertado! - Ela se vira em minha direção, e seu rosto não tinha boca nem olhos. 

Era a filha da Berenice! 

Jin

Aperto a cabeça e caio de joelhos pela forte sensação que me invade. Sinto os braços de Namjoon me ampararem. 

- O que aconteceu? - Ele pergunta apreensivo. 

- Alguma coisa... Está muito errada! - Eu digo, minha cabeça doía fortemente. 

- Do que você tá falando? - Jimin questiona, noto a preocupação em sua voz. 

- Uma escuridão imensa... Um sentimento de desesperança... É como se um abismo gigantesco tivesse sido aberto bem debaixo de nossos pés e... - Falo desesperado, era apenas isso que rondava minha mente. - Oh, meu Deus! Ele está sofrendo muito! Alguém faça alguma coisa! - Me encolho no chão, doía tudo. 

- Mas, quem? - Taehyung pergunta. 

Antes que eu pudesse dizer algo, um grito alto e agudo foi escutado, poderia tremer as paredes. 

- Era a voz do JungKook?! - Jimin grita e Taehyung logo se põem a correr para fora do quarto, fico paralisado, é tarde demais, todos saem do quarto parando no corredor sem saber a onde ir, deixando apenas eu, Bogum e Yoongi no quarto. 

- De onde veio o grito? 

- Do andar de baixo... - Eu digo, não sei como eu sabia, mas algo dentro de mim era como se já soubesse. 

- O que tem lá? 

- A ala infantil, venham comigo! - Doutor Stavros passa por nós como um furacão sendo seguido por Taehyung, e Namjoon. 

- Erra só o que faltava, correr pra ajudar o coelho dentuço! Eu não vou dar um passo pra... - Bogum reclama quando sem ter tempo para processar, Yoongi o puxa pelo braço dizendo que o levaria, então todos fomos atrás. 

Assim que chegamos no andar debaixo os meninos já vasculhavam em cada sala, estava ao lado do Doutor quando o mesmo tropeça em algo e quase cai, mas seus olhos se arregalam ao ver a boneca de pano.

- Esta boneca... Como é possível? - Ele murmura e eu franzo a sobrancelha mas minha atenção se volta quando escuto novamente a voz do Jungkook. 

- Pessoal? São vocês? - A voz vinha do fundo do corredor. - O que aconteceu? E-eu desmaiei? Tinha duas meninas aqui e... 

Concentramos as lanternas de onde ele vinha, e podemos ver o mesmo se arrastando no chão, com dificuldade. Eu vou em sua direção. 

- Você está bem amigo? 

- E-eu não consigo me levantar! Por que eu não consigo me levantar ? O que aconteceu comigo? - Sinto um aperto no coração ao ver se rastejando mas me espanto ao ver seu corpo. - Turma? Que caras são essas? Por que eu não consigo sentir minhas pernas? 

Jungkook não tinha mais pernas, no lugar, era mais comparado a um corpo de lesma. Ponho as mãos na boca, reprimindo um grito. 

- O que aconteceu com minhas pernas? - Ele questiona, sua voz estava embargada, e eu podia sentir seu braço tremer então o abraço. 

- Eu aconteci! - Uma voz rouca se fez presente da mesma direção onde Jungkook veio. 

- É o Senhor Samir! - Jimin diz e eu arregalo os olhos. 

- Mas, ele não tava morto? - Eu pergunto. 

- Eu já falei que meu nome, não é Senhor Samir! - Ele diz rangendo os dentes. 

- Então quem é você? - Namjoon pergunta, se pondo a frente de todos nós. 

- Quem sou eu? - Ele ri, de forma perversa. - Eu sou a voz dos insetos... - Uma Centopeia passa entre suas pernas, e pude ver moscas e baratas vindo junto com ele. - O chamado do vazio... Eu sou o medo da escuridão... O silêncio do abismo... - Seu corpo estala, dobrando de tamanho, começa a sair por entre as faixas de seu corpo, a cada medida mais dois pares de braço, o mesmo para sua perna. 

Ele literalmente se transformou numa centopeia humana1 

- Eu sou o escultor de pesadelos, o término da inocência... A decepção de cada sonho destruído... O crepúsculo da existência... O fim inevitável de todas as coisas... Eu sou... 

O CAVALO BRANCO DA DECADÊNCIA!!