Capítulo 7

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Um rei para os antigos narnianos

– Quem disse isso? – replicou o texugo. – Nárnia não é terra dos homens (quem vai me ensinar isso?), mas é uma terra que deve ser governada por um Homem. Nós, os texugos, temos razões de sobra para acreditar nisso. Pois o Grande Rei Pedro também não era um Homem?

– Você acredita nessa história? – perguntou Trumpkin.

– Já disse! Nós não mudamos de opinião todos os dias. Não esquecemos facilmente. Acredito no rei Pedro, na esperança Lya, no filho que eles tiveram e nos outros que reinaram em Cair Paravel, com a mesma certeza que acredito no próprio Aslam.

– Com a mesma certeza? Mas quem é que ainda acredita em Aslam? – indagou Trumpkin.

– Eu acredito – disse Caspian. – E, mesmo que não acreditasse antes, acreditaria agora. Entre os humanos, os que se riem de Aslam também zombariam se eu lhes dissesse que existem anões e animais falantes. Já cheguei a perguntar a mim mesmo se Aslam de fato existiria, mas a verdade é que também muitas vezes duvidei da existência de gente como vocês. E vocês não estão aí?

– Tem razão, rei Caspian – disse Caça-trufas. – Enquanto for fiel à antiga Nárnia você será o meu rei, haja o que houver. Vida longa ao rei!

– Você me faz perder a cabeça, texugo! – resmungou Nikabrik. – O Rei Pedro e os outros talvez tenham sido Homens, mas eram com certeza de uma raça diferente. Este não, este é um dos malditos telmarinos. Aposto que já andou caçando para se divertir! Diga que não, diga! – acrescentou, voltando-se bruscamente para Caspian.

– Sim, é verdade – concordou Caspian. – Mas nunca na minha vida cacei animais falantes.

– Dá tudo na mesma! – resmungou Nikabrik.

– Ah, isso não! – falou Caça-trufas. – E você bem sabe disso! Sabe muito bem que os animais que hoje se encontram em Nárnia não são como os de antigamente. São até menores do que antes! Entre eles e nós há uma diferença muito maior do que entre vocês e os meio-anões.

Houve ainda muita discussão, mas acabaram todos concordando que Caspian ficaria. Prometeram até que, logo que estivesse bom, seria apresentado ao que Trumpkin chamava “os Outros”. Pois, ao que parece, naquelas regiões selvagens viviam ainda, escondidas, inúmeras criaturas sobreviventes da antiga Nárnia.

No mesmo dia, ensolarado de verão, decidiram visitar a casa dos três ursos, que ficava próximo à casa do texugo. Avançando por uma clareira, chegaram a um velho carvalho oco e revestido de musgo, em cujo tronco Caça-trufas deu três pancadinhas com a pata, sem que obtivesse resposta. Bateu de novo e lá de dentro uma voz rouca protestou:

– Vá embora. Ainda não está na hora de acordar.

Mas, quando o texugo bateu pela terceira vez, ouviu-se um ruído como de tremor de terra, abriu-se uma porta e apareceram três enormes ursos castanhos, muito barrigudos mesmo, a piscar os olhinhos. Depois que terminaram de lhes contar tudo o que passava (o que demorou muito tempo, pois estavam caindo de sono), eles concordaram com Caça-trufas: um filho de Adão devia ser o rei de Nárnia – e todos beijaram Caspian, com uns beijos molhados e barulhentos. E o rei foi logo convidado para comer mel. Caspian não gostava muito de mel, sem pão, àquela hora da manhã, mas por delicadeza achou que deveria aceitar. Só depois de muito tempo deixou de sentir as mãos meladas. Continuaram depois a andar e chegaram perto de umas faias muito altas.

Plummer e o chamado de Caspian: as crônicas de Nárnia Onde histórias criam vida. Descubra agora