Nota 05: Aliados Penitenciários

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Após ouvir aquilo, Yuri permanece em silêncio, olhando nos olhos do detento cinquenta e sete.

Rapidamente, o detento noventa e nove sai da cama onde estava deitado e vai até o lado do cinquenta e sete, dizendo:

Você não vai nos responder, setenta e sete?

Yuri finalmente faz ouvir sua voz:

Acredito que seja desnecessário comentar sobre isso aqui, nesse local. Não importa de qualquer forma.

O cinquenta e sete franze a testa e começa a ficar furioso, respondendo a Yuri:

Não é assim que os novatos aqui devem se comportar...

Remangando as mangas de sua camisa, o detento noventa e nove fala para Yuri:

Você vai se arrepender, "garoto"!

O prisioneiro noventa e nove era um homem musculoso, medindo um metro e oitenta e cinco de altura, mas sua barba e cabelos brancos denunciavam o longo tempo que passara na prisão. Sua pele estava levemente enrugada, especialmente no rosto, provavelmente devido a muitos anos de tabagismo, já que exalava o distintivo cheiro do fumo.

O detento cinquenta e sete, por sua vez, tinha um metro e oitenta e sete, um pouco mais alto que o noventa e nove. Assim como seu colega, possuía um físico imponente, o que o tornava o mais arrogante naquele ambiente. Ele frequentemente se envolvia em brigas, o que resultava em aumento de pena.

Apesar disso, Yuri era um soldado experiente e lidava bem com pessoas como eles. Com um metro e oitenta e três de altura e boa forma física, mesmo não se comparando a eles em força bruta, ele possuía a técnica e a experiência de suas missões, algo que o noventa e nove e o cinquenta e sete não tinham.

O soldado sabia que aquilo era um teste dos detentos para verificar se ele era mais um fraco ou se possuía a mesma força dos dois à sua frente. Demonstrar confiança era crucial.

Yuri se levanta da cama em que estava sentado, fica de frente para os dois e responde o noventa e nove com firmeza nos olhos:

Se eu fosse você, voltaria para a sua cama onde estava confortável.

Sua resposta desencadeia a reação do prisioneiro trinta e quatro, que estava adormecido. Ele acorda, testemunhando a cena e ficando ansioso pelo que estava por vir.

As palavras de Yuri fazem até o detento oitenta e cinco, que estava tomando banho, se apressar em se vestir e se juntar ao grupo.

Nesse momento, tanto o noventa e nove quanto o cinquenta e sete ficam furiosos. Antes que pudessem reagir, um tiro é disparado para o alto na frente da cela, assustando a todos.

Era um dos guardas que haviam levado Yuri para a cela. Após o disparo, ele começa a gritar com todos na cela.

TODOS VOCÊS, AFASTEM-SE DELE! SEM BRIGAS AQUI, OU TERÃO PROBLEMAS COM O CARCEREIRO!

Os detentos olham para trás e obedecem ao guarda, afastando-se de Yuri, ainda lançando olhares furiosos.

Yuri continua parado, olhando seriamente para eles, mantendo sua postura de confiança e coragem, apesar do medo interior.

Ele entende que a partir desse momento, haveria um guarda supervisionando a cela para evitar conflitos, o que o tranquiliza um pouco.

A noite cai e todos vão para suas camas, com vários guardas fazendo rondas para manter a segurança na prisão de segurança máxima.

Enquanto isso, Yuri deita-se olhando para o teto, refletindo sobre como sua vida havia mudado em menos de um mês.

Há quinze dias atrás, ele estava com sua esposa, dormindo na casa que haviam construído juntos recentemente, com uma reserva confortável de dinheiro em suas contas e empregos estáveis. Mas tudo isso tinha acabado.

Refletindo sobre isso, Yuri relembra algo que tinha ficado em segundo plano nos últimos dias, devido à comoção causada pelo assassinato de sua esposa.

Ele começa a relembrar do grande mistério que envolvia TODOS OS SOLDADOS do EXÉRCITO BRASILEIRO e as declarações do presidente da república.

O que estaria por trás de todos os eventos que se desenrolaram no Rio de Janeiro? Seria verdade que a imprensa brasileira permanecia completamente alheia a tudo até agora?

Essas questões povoavam a mente de Yuri incessantemente. Preso e sem acesso a um celular ou computador por pelo menos quinze dias, ele estava desinformado sobre os acontecimentos no país.

Porém, algo surge em sua mente, uma das primeiras declarações do presidente da república naquele fatídico dia:

"Todas as palavras ditas aqui NÃO PODEM SAIR DAQUI! Essas informações são extremamente confidenciais."

Sob essa perspectiva, Yuri percebe que não poderia continuar preso, pelo menos não com outros detentos. Além de possuir informações que poderiam prejudicar a paz do país e talvez de toda a América Latina, ele agora era um prisioneiro visto como inimigo da sociedade.

Yuri sabia que era apenas questão de tempo até algo acontecer com ele, então começou a se preparar para o pior.

Imerso em seus pensamentos, Yuri não percebe que o prisioneiro trinta e quatro e o oitenta e cinco o observavam por alguns minutos.

Percebendo a distração de Yuri, os dois detentos se aproximam com calma, deixando-se ver por ele.

Rapidamente, Yuri se senta em sua cama, adotando uma postura de vigilância enquanto observa atentamente os dois.

O detento trinta e quatro toma a palavra...

Fique tranquilo, queremos apenas conversar e formar uma aliança, seremos Aliados Penitenciários.

O detento oitenta e cinco complementa a fala de seu colega:

Não temos intenção de causar dano ou desrespeito. Queremos apenas um acordo, porque vemos que você é diferente.

Yuri responde, mantendo sua postura firme:

O que vocês querem?

O oitenta e cinco responde prontamente:

Resumindo, queremos ser seus aliados. Você já deve ter percebido que lidar com aqueles dois não é fácil...

Yuri franze a testa, respondendo de forma direta:

Esse tipo de conversa não me engana. Voltem para suas camas, o guarda já deve tê-los visto!

Após ouvirem isso, os dois detentos olham para trás e percebem que o guarda estava com o rádio de comunicação piscando em vermelho. Isso os enche de pânico.

Yuri não compreende totalmente a reação deles, mas nota que, de certa forma, era um sinal ruim, já que os dois rapidamente voltam para suas camas.

Após alguns segundos, Yuri ignora aquilo e deita-se na cama, olhando para o teto, começando a sentir sono, mas algo o desperta: o ranger de sua cela.

Alguém estava entrando, e esse alguém era o temido Carcereiro!




continua...

ARAJA - O Que Há Abaixo De Nós? (LIVRO 02 - Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora