No dia em que minha filha nasceu, tive meu coração arrancado do peito.
O órgão ainda continua aqui, é claro, batendo de forma constante. Mas ele só serve pra isso. Bombear sangue. O resto de suas funções não existe mais. Pelo menos não pra mim.
Quando Hope nasceu, eu morri. Eu devia ter morrido. Meu coração parou, e eu estava pronta pra ir. Cheguei até a sentir uma paz estranha. E então, tudo começou a queimar. Meu corpo estava em chamas, e eu pensei que estava sendo arrastada pro inferno. De certa forma, eu estava.
Maddox surgiu no meu campo de visão, o alívio em seus olhos me deixando tonta. Eu não morri. Eu estava viva, e minha filha também. Minha filha. A razão por eu continuar lutando.
Nos primeiros dias, achei que era apenas a exaustão e todo o trauma do parto. Hope não dava muito trabalho, ela mamava um pouco e dormia um dia inteiro. Maddox e Izabelly estavam me ajudando até demais, sempre ficando com ela e trocando suas fraldas quando eu não conseguia ter forças pra levantar da cama.
Minha cabeça doía o tempo todo, minha boca estava sempre seca e eu não conseguia sentir nada além de exaustão completa. Só a completa necessidade de me desligar do mundo. Thomas vinha me ver e dizia que eu só precisava descansar. Mas você nunca consegue descansar depois que se torna mãe.
Hope não deu trabalho nenhum até completar três meses de vida. Foi quando ela descobriu o poder do choro. E foi quando eu descobri no que tinha me tornado.
Dezembro de 2015.
A chuva lá fora está forte, e a noite fria só piora tudo. Os raios iluminam a escuridão do cômodo. Ando com a bebê pelo quarto, implorando pra ela parar de chorar. Sinto minhas próprias lágrimas molhando meu rosto, cansada e transtornada. Minha cabeça lateja no mesmo ritmo do choro estridente de Hope.
— Shh... tudo bem, meu amor. — Sussurro, pressionando meus lábios em sua testa. — Você está bem. Nós estamos bem.
Mas ela não está nada bem, e eu estou pior ainda.
Seu choro faz meus ouvidos doerem, o que só piora minha enxaqueca, e consequentemente piora meu humor. Ela tem me irritado bastante nas últimas semanas.
— Eu estou me esforçando pra ser legal. — Posso sentir o tremor de raiva em minha voz.
Mas ela só chora ainda mais alto, e a raiva explode dentro de mim.
Aperto ela com mais força contra meu corpo enquanto saio do meu quarto. Bato na porta de Izabelly, e nem espero ela responder antes de abrir a porta e entrar com pressa. Ela está dormindo, mas acorda assustada com o barulho.
— Megan? O que aconteceu?
Passo Hope pros braços dela como se ela fosse um saco de batata, e antes que Iza sequer me encare, o choro para. Olho pra minha filha completamente indignada.
— Fica com essa coisa insuportável, ela me odeia mesmo. — Esbravejo, e minha cabeça lateja com mais força.
Izabelly a segura com todo o cuidado, e Hope parece tão tranquila nos braços dela. Eu sou uma péssima mãe.
— Megan, ela não te odeia. — Iza diz com cautela. — Ela só... ela consegue sentir que você está cansada.
— E você quer que eu faça o quê? Não fique cansada? — Solto uma risada furiosa. — Se eu estou assim, é por culpa dela. Ela devia ser mais grata.
Dou as costas ás duas e volto pro meu quarto, ignorando os chamados de Iza.
Janeiro de 2016.
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Countdown #3 (atualizações quando dá)
RomantikNa guerra entre heróis e vilões, o verdadeiro inimigo sempre foi o tempo. Após dois anos reconstruindo suas vidas e tentando se recuperar de seus traumas, Jason e Natalie são brutalmente arrastados de volta pro caos quando Megan retorna a Weston hil...