Capítulo 2: afraid

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"Quando acordo, eu tenho medo
que alguém possa ter tomado meu lugar"
afraid, the neighborhood.

JASON MARTINELLI.

Sinto o vento frio da noite bater contra meu rosto enquanto corro. Meus pulmões queimam dolorosamente, respirar é impossível, e eu posso sentir minhas pernas vacilando, mas não paro.

Me sinto preso dentro do meu pior pesadelo.

Corro até dentro de casa, abrindo a porta com uma força exagerada que a faz ranger. Minhas mãos estão tão suadas que escorregam na maçaneta.

— Hope!?— Chamo com a voz alterada, meu corpo inteiros tremendo enquanto atravesso a sala.

Alguns brinquedos estão largados pelo chão, e eu quase piso no maldito dinossauro outra vez, mas estou alerta demais e o vejo a tempo.

Ouço passos na escada e me viro pra ver minha filha descendo os degraus, usando um pijama lilás cheio de corações amarelos e segurando Hugsy em uma das mãos. Ela me encara com o cenho franzido.

— Pai? Por que você voltou tão cedo?

Ruth, nossa babá, vem atrás dela, segurando Toby no colo com uma expressão confusa.

— Está tudo bem, Sr. Scott?

Não consigo responder. Estou ocupado demais olhando pra Hope e seu rosto inocente, o total oposto das duas pessoas responsáveis por trazê-la ao mundo.

Ela tem um tom mais ruivo de moreno, herdado não sei de quem. Seu cabelo está batendo no meio das costas, e ela me disse que quer que ele seja tão grande quanto o da Rapunzel. Seus olhos azuis celeste foram herança do avô, embora eu não goste de pensar nisso. Ela tem o mesmo sorriso de Megan, as mesmas expressões, até os mesmos gostos. Ela gosta de mistérios, mas nenhum óbvio demais. É inteligente demais pra sua idade e sempre sabe o que dizer. Ela gosta de torta de limão, mas não suporta comer mais de duas vezes seguidas. Ela conquista qualquer um com sua personalidade extrovertida e suas perguntas nada comuns.

Passei os últimos dois anos sendo feliz identificando todas as semelhanças que ela tem com a mãe, dessa forma, eu ainda tinha um pedaço de Megan comigo, alguém que nunca me deixaria esquecer de tudo o que eu amava naquela mulher.

Nesse momento, só consigo sentir o pânico me consumir até os ossos.

Porque mesmo com todas as qualidades, Hope herdou o temperamento de Megan. Ela é gentil e tem um coração puro, mas também possui uma facilidade assustadora de explodir por coisas pequenas. Ela já teve algumas crises de raiva e acabou quebrando coisas que não queria, mas que estavam fora de seu controle emocional no momento. Ela já disse coisas que não queria e que me magoaram, mas que no momento de impulsividade simplesmente saíram.

Ela é explosiva. E se for instigada desde cedo, treinada com violência a sangue frio, vai acabar se tornando uma máquina de matar antes mesmo de atingir a vida adulta.

É no que Megan Martinelli quer transformá-la. Megan, que um dia foi a única pessoa que importava no mundo pra mim, a única pessoa com quem eu gostaria de passar o resto da vida, e agora não passa de uma ameaça iminente. Mais uma inimiga a ser derrotada.

Talvez a pior que já enfrentei, considerando todo o histórico que temos.

Ela não vai encostar um dedo na minha filha. Se depender de mim, Hope nunca vai nem saber que sua mãe continua viva. Ela não merece e nem vai passar por um trauma enorme desses.

Preciso desaparecer com ela antes que Megan tente fazer sua primeira jogada. Posso mandar ela pra um outro país enquanto elimino a ameaça e restauro nossa segurança. Posso pedir pra Lizzie ficar com ela. Eu só preciso fazer uma ou duas ligações, e ela já não vai mais estar aqui quando o dia amanhecer.

Countdown #3 (atualizações quando dá)Onde histórias criam vida. Descubra agora