capítulo 3.2: você pode lembrar da chuva?

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"Você me deixou por outra pessoa
Agora devo enfrentar a vida sozinho
Você quebrou tantas regras na escola
Eu assumi a culpa por você
Eu acho que eu era um tolo"
—  remember the rain, the sylvers.

JASON MARTINELLI.

Viro a garrafa de whisky que Tony me trouxe em um longo gole na boca, e minha garganta queima horrivelmente enquanto encaro a morena desgraçada ao meu lado desacreditado.

— Que porra de pergunta é essa?

Eu continuo encarando ela com uma careta confusa, querendo mais que tudo ir embora pisando fundo. Quando cheguei aqui, tinha certeza que ela estaria me esperando com um exército armado, pronto pra me matar. Mas é muito pior que isso, ela parece só estar brincando com a pouca sanidade que ainda tenho.

Me sinto ridículo e enganado.

— É uma pergunta simples. Você só precisa dizer sim ou não. — Ela responde com um encolher de ombros.

Coço a ponta do meu nariz, respiro fundo e tento manter a compostura.

— Corta o joguinho psicológico, Megan. Eu não vim aqui perder meu tempo adivinhando o que você quer.

— Não tem nenhum joguinho. Eu só quero saber se você-

— Tá, tá, essa parte eu já entendi, mas e depois? — Interrompo-a, não querendo ouvir a pergunta pela terceira vez. — Se a minha resposta te chatear, você vai me matar? Destruir minha vida? Fazer um colar elegante com meus ossos?

Ela solta uma gargalhada alta, fechando os olhos por um momento, parecendo se divertir. Desvio o olhar imediatamente, tentando afastar a memória dela fazendo a mesma coisa anos atrás, de uma forma bem mais pura.

Sua risada não é mais leve e divertida. É algo grave, afiado, quase ameaçador.

— Você costumava ser mais divertido. O que aconteceu com seu senso de humor?

— Enterrei junto com seu caixão vazio. — Respondo secamente.

Ela ergue uma sobrancelha, parecendo surpresa. Reviro os olhos.

— Não vou te machucar, Jason. Só quero ter uma conversa civilizada.

Dessa vez sou eu quem gargalho, embora o que realmente queira é estrangular ela.

— Me intimar a vir aqui foi uma ótima forma de demonstrar isso. — Ironizo.

— Eu poderia ter simplesmente aparecido na nossa casa e tocado a campainha.

Minha casa. — Digo entredentes. A imagem dela aparecendo na frente de Hope e traumatizando a menina pelo resto da vida me deixa enjoado.

— Eu estava lá quando ela era só um espaço vazio e poeira, estava lá quando ela foi mobiliada, e estava lá quando você sorriu orgulhoso e me disse que ela seria nosso lar pelo resto das nossas vidas. — Ela diz em um tom nostálgico, e eu me sinto ainda pior com as lembranças. — Ou você se esqueceu?

Volto a encará-la, meu coração sendo bruscamente pressionado pela dor, me impedindo de respirar.

— Você também estava lá quando planejamos como seria o resto da nossa vida e combinamos que teríamos dois filhos. Um casal. — Suspiro, afastando a dor. — Não esqueci de nada. Guardei tudo como um idiota, desesperado pelo dia que estaríamos juntos outra vez.

— Você fala como se estivesse sozinho e infeliz. — Ela sorri de um jeito amargo. — Até onde sei, você tem dois filhos, e uma é minha também. Ainda dá tempo de termos um menino.

Countdown #3 (atualizações quando dá)Onde histórias criam vida. Descubra agora