Pedaços

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(Point of view - Lis)

Desde a Queda das Estrelas, Cassian dava seu jeito para ficar comigo, nem que fosse por pouquíssimos minutos e isso estava sendo bom para mim, eu acreditava que para ele também.

Até hoje de manhã, quando ele não apareceu no café e estranhei por não ter me falado de nada, já que ele sempre me dava satisfação de onde ia, o que faria e coisas assim, mesmo sem ter motivos, mesmo eu não merecendo suas explicações.

Azriel estava estranho, silencioso demais até para ele, Rhys não estava diferente e isso fez minha monstruosa imaginação plantar coisas em minha mente.

Encerrei meu café, deixando boa parte das panquecas no prato, subi para meu quarto e procurei um papel qualquer, há pouco tempo descobri que consigo manter contato através do fogo.

"Oi, não te vi hoje no café, você está bem?" - terminei de escrever e incendiei o pequeno papel.

Esperei um tempo e nada vinha, nenhuma resposta.

"Não precisa me dar satisfações, não é isso que quis passar, eu só queria saber se você estava bem.."

Meus dedos batucavam fortemente a mesa de vidro, para não estraçalha-lá, me levantei e fui até a banheira preparar um banho, talvez me acalmasse.

Mas não funcionou, não funcionou quando senti fúria e medo e ressentimento se apossar de mim, eu sabia que aquele sentimento não era meu, porque não era.

Eram de Cassian.

Sai rapidamente do banho, me vesti e nem me preocupei com o resto, o cabelo molhado, o corpo ainda úmido, eu não me importava.

Desci as escadas desesperadamente.

– Lis, o que foi? - Feyre se levantava com um semblante preocupado em minha direção.

– Onde ele está?

Silêncio e olhares, eles conversavam entre os olhares e esqueceram de me incluir nessa conversa.

– Onde Cassian está? - não me importei se o tom de voz estava mais alto que o comum.

– No acampamento - Mor respondeu recebendo olhares raivosos.

– Preciso ir até lá, preciso ir! - eu estava suplicando.

– Não podemos! Você não pode Lis, não agora - Azriel dizia com culpa.

– O que? Por que? Eu preciso ir, vocês não entendem?

Mas ninguém se moveu, nem mesmo Mor e eu sabia que tinha algo errado, muito errado.

Olhei mais uma vez para cada um deles, com ódio e sai às pressas daquela casa.

Não havia parado para pensar em como corri rápido, ou se atravessei, o que eu tenha feito para chegar na porta da casa de Lucien, bati uma única vez e ele já me olhava preocupado.

– Lis, o que faz aqui?

– P-preciso ir para o acampamento, me leve até lá, eu imploro!

Ele me pegou pelos braços, a fim de fazer o que eu pedia.

– Droga Lis, está congelando!

Mas eu não sentia nada, precisava ir logo, ir agora.

– Só vamos logo, por favor!

Atravessamos e eu ainda estava submersa nos sentimentos que não eram meus.

Quando cheguei no acampamento illyriano, procurei Cassian pelo campo de treinamento, pelos ringues, mas não o encontrei.

Algo me dizia para ir até o quarto em que ficamos, mas meu subconsciente dizia para não ir, mesmo precisando.

Lutando contra isso, me direcionei até o chalé, recebendo os olhares temerosos dos guerreiros que estavam por lá, pisando firme nas escadas.

Quando cheguei no andar do quarto, a porta estava entreaberta e escutei duas vozes muito bem conhecidas por mim.

– Estava brincando comigo esse tempo todo? Para que? Uma Archeron só não lhe foi suficiente? - Nestha estava enfurecida.

– Eu sinto muito por isso, não foi minha intenção fazer mal a nenhuma das duas, não foi, mas isso é maior, maior do que posso explicar - Cassian estava penoso, seu tom estava diferente do que eu conhecia.

– Isso o que? Pare de mentir, pare de encobrir suas merdas! - gritos raivosos incomodavam meus ouvidos.

Me aproximei da porta, devagar para que não tivessem visão do meu corpo curioso entre eles.

– Ela é minha parceira, porra! É isso que estou dizendo, nunca quis brincar com nenhuma de vocês, mas isso é incontrolável, Lisdryam é minha parceira, consegue entender?

O que? Como ele pode?

Nestha me olhou com vingança nos olhos, ela havia me visto.

– Isso não impediu você de me foder quando chegou - ela me olhava enquanto falava isso, me olhava com orgulho do que acabará de dizer.

Meu corpo doía de dentro para fora, eu tinha que sair dali, tinha que correr para fora daquele lugar.

Estavam certos, todos estavam certos, eu não devia ter vindo, não devia.

No desespero, tropecei em meus pés causando um barulho no assoalho, fazendo com que Cassian escancarasse a porta para saber quem estava ouvindo a conversa.

E quando seus olhos encontraram os meus, lágrimas caiam lentamente pelo meu rosto, enfeitando a minha pele.

– Lis?

Eu corri, entrelaçando as pernas, meu peito afundava e afundava, achei que isso me mataria antes de chegar ao lado de fora.

Desci as escadas sem olhar para os degraus, descia três ou quatro de vez, porque meu corpo não sentia o impacto da altura e eu estava submersa em dor para conseguir pensar.

Sai desesperada atrás de Lucien, onde ele estava?

Corri mais rápido, vendo que todos me olhavam, nos olhavam, já que Cassian estava atrás de mim.

Corri tão rápido até Lucien que se ele não estivesse atento, os dois iriam para o chão.

O soluço preso na garganta não me deixava falar.

– Me leve embora! Por favor Lucien, me tire daqui! - lágrimas ainda escorriam dos meus olhos.

E quando percebi que estávamos na sala quente e aconchegante de Lucien, deslizei meu corpo do seu até o chão, o barulho do meu coração despedaçando junto aos soluços que agora me corrompiam.

A Corte de Asas e SifõesOnde histórias criam vida. Descubra agora