Um ato de coragem

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Quando chegamos no local haviam mesas reservadas para Rhys e o resto da turma, pontos positivos de ser grão-senhor de uma corte.

As taças começaram a encher e eu olhava tudo como uma criança conhecendo o mundo pela primeira vez.

Estava sentada entre Mor e Rhysand, eu olhava o ambiente inteiro, estava dispersa e maravilhada com tão pouco.

– Esse lugar é aconchegante e um dos meus preferidos, minhas melhores lembranças foram feitas aqui, com muita bagunça. Aproveite! Estamos aqui, um de olho no outro. Deveria experimentar o vinho.

Eu sorria de forma grata e satisfeita, era a primeira vez que eu saia assim.

Nestha estava conosco, ela e mais duas. Uma que impressionantemente lembrava Lucien, estava sempre olhando de um para o outro, talvez seja só impressão minha, a outra era morena, sua pele escura reluzia com os lustres.

Uma taça do que eu suspeitava ser vinho, apareceu bem na minha frente e Lucien piscou para mim, como se aprovasse algo.

Sorri e tomei um gole, uma fusão de doce, ácido e seco, parecia tão forte, mas também tão bom.

Tomei mais um gole e mais outro, a cada gole eu estava mais leve e tudo parecia mais colorido.

– Nós vamos para frente, provavelmente iremos dançar, se quiser ir também - Mor nos avisa.

– Tudo bem, daqui a pouco eu vou!

Lucien havia se mudado de lugar e estava ao meu lado, riamos de como as pessoas não se importavam com nada ali, as roupas pareciam loucura ao meus olhos.

– Vamos procurá-los? - Lucien propõe.

– Por que? Quer dançar?

– Já está mais engraçadinha que o normal, você bebeu muito rápido.

– Esse vinho é muito bom, agora entendo Nestha.

– É, você bebeu o suficiente, está até concordando com sua irmã.

– Ah pare com isso e vamos logo! - minha voz saía mole, era engraçado.

– Acho que estão por aqui - Lucien me direcionou, indo na frente e me segurando pelo antebraço.

Vi um par de asas passando por nós, mas não era de nenhum dos que eu conhecia, minha visão estava embaçada, mas eu ainda tinha consciência de tudo.

Um esbarrão forte no ombro de Lucien.

– O que pensa que está fazendo aqui? Se acha digno de aparecer em Velaris, depois de tudo que fez? Mas é isso o que acontece quando o grão-senhor de uma corte recepciona qualquer coisa que foi jogada fora, um bastardo traidor, eu te mataria antes mesmo de pisar fora da Primaveril.

Lucien estava rígido a minha frente, sério e centrado naquela situação de merda.
Eu sabia como esse assunto mexia com ele e como ele se culpava por tudo.

Mas alguma coisa estava diferente em mim, eu borbulhava e de repente meu ser se encheu de coragem.

– O que esperar de uma coisa bruta e suja como você? Ofenda ele mais uma vez e perderá essas asas minúsculas, talvez seja esse o motivo da sua frustração, sabe o que dizem sobre as asas, Lucien? A envergadura diz muito sobre aquilo que tanto importa aos machos, deve ser por isso que esse monstrengo é amargurado - Lucien me olhava quase gritando para calar a boca, mas eu não queria ser a vítima indefesa, dessa vez eu queria estar na posição de ataque.

– Sua vadiazinha! Eu vou te mostrar muito sobre minha envergadura e aí quero ver você repetir o que acabou de dizer! - suas mãos ásperas me puxaram pela nuca e antes que Lucien o socasse, outro par de asas entrou em minha frente.

– Toque nela mais uma vez e perderá as mãos!

– Veio defender essa qualquer a troco de que "general"? - ele falava tudo com deboche e veneno destilado.

– Não abuse da minha bondade! - eu não enxergava a face de Cassian, mas apostaria que ele estava espumando de ódio e louco para arrancar a cabeça do imbecil a nossa frente.

– Vamos nos encontrar outra vez, mas você não vai me escapar, escóriazinha! - o grandalhão dizia enquanto apontava o dedo em meu rosto.

E tudo virou um grande borrão, Cassian voou para cima dele, Lucien me trouxe mais para trás, mas eu não podia deixar que Cassian se machucasse por mim, ninguém podia.

– Cassian, chega, ele já entendeu! - ele não me escutava, Rhys e Azriel olhavam tudo com sorriso satisfeito no rosto, não se importavam com nada, pareciam se divertir, vendo a justiça feita.

– CASSIAN PARE! - falei mais alto.

Ele parou e me olhou, ele se levantou deixando o macho estirado no chão, chegou próximo do meu rosto, próximo demais, seu polegar acariciou minhas bochechas, seu olhar manso e afetuoso direcionada a mim.

– Porra morceguinha, te ver daquela forma me tirou dos eixos, mas por favor não faça mais isso, pelo bem de minha sanidade mental e emocional, hm?

– Tudo bem, eu preciso ir para fora, preciso respirar!

– Eu vou com você, só preciso avisar Rhys.

Ele foi até a mesa e explicou a situação, todos estavam tranquilos como se isso fosse normal para eles, talvez fosse mesmo, Nestha tinha uma carranca no rosto, mas eu estava acostumada com isso, Lucien sorria para mim e mandava um beijo no ar, esse idiota me causou problemas e ainda está debochando?

Levantei o dedo em um ato vulgar e fui até o banco que ficava no lado de fora.

Me sentei e olhei o céu, daqui ele conseguia ser mais lindo ainda.

Me concentrei no casal que dançava em cima da ponte e aquilo confortou meu coração.

– Os treinos resultaram em algo, pelo jeito - Cassian disse se sentando ao meu lado.

– Não sei se isso foi resultado dos treinos - eu disse olhando para um Cassian confuso e gargalhei, uma risada alta, esse vinho era muito bom.

Mas Cassian não acompanhou, ele ficou sério, seus olhos brilhavam a ponto de sair faíscas.

– E o que seria então? - sua voz estava calma, como um cão domado.

– O vinho! Só pode ser isso - eu disse ainda risonha.

– Então botamos a culpa nele amanhã!

– Amanhã?

– Amanhã! - ele me entrelaçou em seus braços e senti seu nariz se arrastar pelo meu pescoço, ele respirou fundo em busca de meu perfume e aumentou mais o aperto, deixando leves selares perto de minha orelha, foi inevitável o arrepio em minha nuca, mais um selar é depositado, mas dessa vez em minha testa.

– Vamos entrar, antes que eu perca o controle! - o sorriso malicioso estava lá, minhas pernas estavam moles como gelatina, porque não senti medo quando ele me tocou, senti carinho e cuidado e isso mexeu comigo.

A Corte de Asas e SifõesOnde histórias criam vida. Descubra agora