capítulo 14, reencontros e acertos de contas.

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capítulo 14, reencontros e acertos de contas.

"então o senhor está querendo me dizer que no dia em que a luna esteve na confeitaria, ela estava com o senhor?". alan abriu um sorriso na companhia de isaac com o tom de voz perplexo de natália.

"era eu quem estava dirigindo filha e nós só fomos embora na velocidade da luz porque ela estava tentando me segurar porque eu queria te ver).

"então era por isso que ela me olhava daquele jeito, era alegria por me conhecer". a constatação foi acompanhada por um sorriso.

"foi por isso sim filha, só imagino o olhar, ela tem um olhar muito intenso mesmo". "não vejo a hora de revela".

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trabalhando na faxina daquele hospital, micaela jamais pensou em rever a família.

eram tantas mágoas não ditas, tantas coisas que há impediam de ser feliz com a filha e o marido.

a constatação de que o irmão amado por ela, seu principal e único protetor além do marido em toda sua vida estava lutando contra a morte era o que faltava para saber ainda existirem lágrimas em seus olhos.

aproveitando-se de que o médico exigiu a retirada da família para exames, micaela utilizou-se do tempo que teria até o profissional voltar a chamar eugênia para ficar perto do irmão.

os monitores aptavam freneticamente, o irmão não dava sinal de que acordaria tão cedo.

"como foi que você veio parar aqui, seu cabeção?". "eu ouvi os médicos comentando que você pode até ter saído do risco de morte mas ainda está com o coração muito fraco, mas eu espero que você sobreviva porque eu não aguento mais perder". "você vê se levanta logo dessa cama para voltar a me provocar, não vejo a hora de você me ameaçar como fazia quando nós éramos crianças". "o rafael era o bonzinho da turma, você sempre foi o gêmeo malvado e o meu preferido dos dois". eugênia aproximou-se com os olhos marejados, sem que micaela percebesse.

"mika?". a incredulidade estava refletida na voz de eugênia.

"como vai, dona eugênia?". a palavra mãe ameaçou escapar de seus lábios, sendo impedida com a lembrança de eugênia dizendo que naquele momento não tinha mais filha nenhuma.

o semblante da mãe estava diferente da última vez que a viu, aos 17 anos de micaela quando buscou apoio materno depois de ter sido abandonada pelo homem que dizia a mala sozinha grávida.

os 60 anos pareciam ter lhe dado a maturidade que tanto precisava para criar os filhos durante a infância, pois com exceção de rafael, que sabia esconder seus traumas muito bem escondidos dentro de uma caixinha de auto proteção micaela e thiago fizeram suas escolhas que os levaram por caminhos irreversíveis.

"será que nós podemos conversar fora do quarto?". "a esposa do seu irmão vai entrar agora, precisa de um tempo sozinha com o marido e nós precisamos conversar também".

"a senhora quer mesmo falar comigo?". não existia sarcasmo nas palavras de micaela, apenas surpresa.

eugênia segurou em uma das mãos da filha, conduzindo a mesma para fora do hospital, as duas sentaram-se em um banco.

"agora eu quero que você seja sincera comigo, diga para mamãe tudo que você queria ter dito quando eu não te deixei fazer isso". a mulher olhou com ternura para micaela, que desabou em lágrimas.

"o que eu e os meus irmãos fizemos para a senhora priorizar o samuel?". "foi alguma coisa que eu fiz quando era criança?". "mãe, o homem batia na senhora, esfaqueou o meu irmão e quase matou ele porque o pobre coitado foi defender a senhora e ainda saiu como ruim da história". "ele maltratava a senhora, tentava matar a todos nós direto e depois que a polícia era chamada e ele era preso, a gente achava que teria a nossa mãe só para nós"."tudo ficava bem até ele voltar e a senhora perdoar, só porque ele dizia que tinha se convertido de novo". "foi por isso que eu dormi com o primeiro que dizia me amar, foi por isso que eu me entreguei daquela forma, porque eu não tinha orientação materna, eu tinha um pai psicopata e uma família totalmente desestruturada que mantinha a aparência dentro da igreja só para mostrar para os irmãos que nós éramos felizes". "no dia em que eu contei que estava grávida para senhora, a senhora simplesmente me chamou dos piores nomes possíveis e disse que eu não era mais a sua filha". as palavras foram como facadas no coração de eugênia.

cinderela, granville livro 3.Onde histórias criam vida. Descubra agora