Observado

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Lily's pov

A sua risada baixa ecoava pelas paredes, tornando difícil saber a sua exata localização. Se ele sequer estivesse ali dentro.

_O que você quer?_ perguntei, levemente nervosa. _Aparece!_

_E estragar a brincadeira?_ mais uma risada ecoou pelo andar. _Porquê que eu faria isso?_

Suspirei e comecei a caminhar pelos corredores na esperança de encontrar o Henri.

_Sabe, tenho que ser sincero. Sempre achei que, entre você e o Gaspar, seria você por cima_ ele comentou, causando um leve rubor nas minhas bochechas.

Ignorei e continuei pelo corredor que levava até às celas. O meu foco era encontrá-lo.

_Não sabia que estava tão interessado em espiar momentos tão íntimos. Mas conhecendo você, era de se esperar que descesse nesse nível_

Ouvi uma risadinha, que claramente era forçada.

_Tão... engraçadinha. Tenho certeza que a sua mãe acharia graça também. Pena que você a matou_

Parei de me mexer no mesmo instante. Os meus punhos, que estavam fechados ao redor da minha lança, apertaram contra o material forte da arma.

O Henri riu novamente, provavelmente consciente da expressão de ódio no meu rosto.

_Você não tem o direito..._ murmurei entre dentes.

_O direito de quê? Falar a verdade? Sabe, eu estava lá quando você cravou aquela espada bem no peito dela_

_Cala a boca_

_Abriu um buraco tão grande no peito dela que ela- _

_CALA A BOCA!_ esbravejei com ódio, cortando o seu discurso.

O silêncio encheu o corredor, enquanto os meus olhos se enchiam de lágrimas. Estava coberta de fúria.

Não porque ele me acusava sem fundamento, ou por conseguir me afetar desse jeito. Eu chorava por acreditar no que ele falava.

Era muito fácil falarem que a culpa não foi minha. Mas a verdade é que eu fui a única a ver a luz sumir dos olhos da Elizabeth. Fui a única a segurar a arma que estava coberta com o seu sangue.

_Vocês são covardes... Vocês pegam no amor que nós, pessoas boas, sentimos por outras, e usam a seu favor. Usam como arma para nos enfraquecer e deixar sem chão! Mas NINGUÉM tem o direito de me usar desse jeito! Não irei permitir que vocês sequer PENSEM NELA E SE ATREVAM A ME CULPAR! A CULPA É DE UM MENININHO PATÉTICO E FRACO, CUJA ÚNICA ARMA É O SEU SORRISO FRIO. DEBAIXO DAS SUAS ESCRITURAS NÃO TEM NADA ALÉM DE UM VERME, UMA DESILUSÃO! UM FRACASSO!

Senti a minha garganta arranhar com o volume dos meus gritos. A voz do Henri cessou, e uma mão tocou o meu ombro.

Como reflexo, me virei para atacar. Mas me detive de imediato. Era o Dante.

O mesmo tomou um susto com o meu movimento brusco e deu um passo para trás.

_Lucille?_

Respirei fundo. O Dante agora tinha uma espécie de venda sobre os olhos, feita de um pedaço de pano velho. As suas mãos estavam erguidas, como se estivesse em alerta.

_Como que você chegou aqui?_ perguntei, baixando a lança de imediato.

_Fui tateando as paredes e, bom, basicamente fui tentando lembrar o caminho até ao elevador. O que aconteceu?_ o loiro perguntou novamente.

Suspirei, ainda sentindo o ódio do que tinha acabado de acontecer.

_Eu ouvi o Henri. Ele não parecia estar aqui fisicamente, mas a sua voz ecoava pelas paredes_ informei num tom sério.

_O que ele te falou? O que ele queria?_ o Dante perguntou de imediato, visivelmente incomodado.

_Ele está nos observando. Desde que chegamos, aparentemente. Não sei como, mas eles sabem que a gente... bom..._ expliquei.

O Dante assentiu, percebendo o que eu queria dizer.

_Talvez seja como..._ ele parou de falar subitamente, ficando apreensivo.

_O quê?_

_Melhor não. Se eles conseguem nos ver e ouvir, prefiro manter a minha teoria para mim mesmo por enquanto_ ele explicou.

_Sim, é melhor_ concordei, olhando ao redor.

Eu continuava me questionando. Como que eles nos viam? Mesmo que o orfanato um dia tivesse utilizado câmeras de vigilância, elas teriam sido destruídas no incêndio. Então, como que eles conseguiam nos ver?

Talvez através de algum ritual, pensei para mim mesma. Com certeza deve ser essa a teoria do Dante. Pode até ser o mesmo ritual que foi descoberta nas costas do Arthur, depois que derrotamos aquela criatura asquerosa.

_Dante_ chamei e olhei para ele.

O mesmo apenas se virou levemente na direção da minha voz, sendo agora impossível de perceber para onde ele olhava exatamente.

Só aí que parei para pensar. Para realizar um ritual, a pessoa precisa de tocar ou ver o símbolo. Cego, seria praticamente impossível o Dante realizar qualquer tipo de ritual.

_Esquece..._ murmurei, desviando o olhar.

_Não, pode falar_ o loiro deu um passo em frente, curioso.

Respirei fundo e voltei a encará-lo.

_Eu ia perguntar se você conseguia usar um ritual para ver o paranormal. Mas... bom..._ tentei explicar, mas não sabia como falar sobre a sua recente condição.

_É..._ o Dante murmurou, massageando as próprias mãos. _Agora será meio difícil. A menos...

Esperei que terminasse a frase. Podia ver a ideia na sua mente ser organizada e confirmada como possível.

_Lucille, você tem algum tipo de tinta ou lápis? Ou um caderno vazio?_

_Não, não trouxe nada disso para a missão..._ respondi.

Imediatamente comecei a procurar por algo do tipo ao meu redor. Mas estávamos na ala das celas, certamente não teria nenhum caderno ou tinta ali.

_Talvez tenha algo nos dormitórios, ou no andar de baixo. Vem_ peguei na sua mão e comecei a guiá-lo pelo corredor.

Rapidamente alcançámos o meu antigo dormitório.

_A Lilian adorava pintar_ mr recordei, enquanto abria as gavetas da sua cômoda.

Rapidamente encontrei algum giz e lápis. Peguei em um lápis de carvão preto.

_Se conseguir achar algo para marcar um livro a ponto de eu conseguir tocar e focar no símbolo, seria ótimo_ o loiro afirmou.

_Ótimo, agora só falta um caderno_

_E se a gente usar os livros da Divina Comédia?_ o Dante sugeriu. Assenti.

_Claro, acho que qualquer um serve_ afirmei e logo nos levei ao primeiro andar.

Lembrava perfeitamente de ter um exemplar de Divina Comédia sobre o longo e baixo armário do quarto onde dormimos a noite passada.

Assim que entreguei tudo para o Dante, o mesmo sentou na cama e começou a marcar os símbolos sobre as páginas cobertas por palavras, de forma a que ele pudesse tocar no símbolo e conseguisse usar os seus rituais.

_Vou dar uma olhada lá fora, ok?_ avisei e o mesmo assentiu, levantando o rosto na minha direção.

_Tenha cuidado_

Segurei o seu rosto e deixei um beijo na sua bochecha, me retirando.

Queria ser rápida e apenas verificar se havia algo fora do comum no exterior do edifício. Que sorte eles não terem tentado nada com o Dante, pensei, suspirando de alívio.

Mas, ao ir até à grande árvore, desejei que tudo não passasse de um pesadelo. A cova onde havíamos enterrado a Lilian estava aberto, e o seu corpo não estava lá.

Ordem Paranormal Desconjuração//Universo AlternativoOnde histórias criam vida. Descubra agora