Capitão Balsano

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       Matteo

        Porcaria de dia!

        Bati a porta do meu apartamento com força demasiada ecoando o barulho por todo o lugar.

        Foda-se se os vizinhos reclamassem!

        Foda-se os vizinhos!

        Foda-se a vizinha enxerida!

        Mulherzinha mal educada. Além de se enfiar no elevador quando eu claramente não quis segurar a porta para ela e de ser uma fuxiqueira de primeira, ainda fechou a porta na minha cara!

        Eu sei que estava errado, mas como eu iria saber que ela não era uma maluca curiosa me seguindo?

        Eu poderia ter me desculpado, mas ela com sua grosseria toda não me deu nem chance.

       O que tem de bonita tem de grosseira.

        Não que eu tenha reparado, mas com aqueles olhos verdes curiosos era impossível não prestar atenção. Algo dentro deles faíscava e prendia qualquer um que olhasse por mais de 2 segundos. Lindos...

        Não! Nada disso Matteo.

        Sacudi a cabeça disperçando meus  pensamentos e larguei a chave no aparador antes de retirar minha jaqueta e pendura-la. Usei os calcanhares e tirei os sapatos guardando eles atrás da porta.

        Caminhei até o banheiro tirando a roupa e liguei o chuveiro permitindo que a água gelada levasse embora qualquer que tenha sido o pensamento que tive sobre outra mulher. A unica que merecia eles era Ámbar e assim seria pelo resto da minha vida.

        Escorei a testa no azulejo branco do box e deixei que a água escorresse pelo meu corpo. Não demorou muito para que a imagem da minha esposa viesse em minhas lembranças. A dor conhecida apertou meu peito ao recordar de seu olhar azul límpido e seu sorriso com a pequena falha que ela tentava sempre esconder mas que eu achava lindo. Ela era linda. Doía lembrar, mas é assim que deve ser, certo?

        Finalizei o banho me ensaboando e enxaguando rapidamente antes de girar o registro desligando o chuveiro.

        Sequei os cabelos e enrolei uma toalha na cintura antes de ir pro quarto colocar uma roupa limpa.

        Parei em frente ao espelho e observei a tatuagem na minha costela em forma de asas de anjo rodeando a letra "A".

        Meu olhos logo se escaparam para a tatuagem mais dolorosa em meu peito esquerdo logo acima do coração. A unica lembrança que me restou do meu filho e que foi gravado na minha pele para que nunca o esquecesse. Não que isso fosse possível.

        A imagem da ultima ultrasonografia feita, onde visualizamos perfeitamente o rostinho do nosso pequeno Noah em 3D agora poderia ser carregada para onde eu fosse.

        Fechei meus olhos e acariciei com as pontas dos dedos as duas nos lugares onde eu já havia decorado.

        — Sempre e pra sempre...

        Sussurrei para que apenas eu e eles escutássemos.

                  

                           ★ ★ ★

        O céu rosado do pôr-do-sol brilhava pelo vidro da janela enquanto eu terminava de me arrumar.

        Abotoei a camisa azul da farda e coloquei para dentro da calça fechando o cinto. Alisei a insígnia do batalhão no lado direito do peito com minha nova patente logo abaixo dela: "Capitão Balsano".

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