MATTEO
Puxei a coberta até os ombros de Théo e me levantei cuidadosamente evitando fazer qualquer barulho que o pudesse acordar.
Estava prestes a apagar a luz de sua pequena luminária quando uma mão delicada com unhas pintadas de cor-de-rosa cobriu a minha impedindo-me de seguir com o movimento.
— Essa fica acesa — Luna sussurrou ao meu lado e inclinou a cabeça indicando a saída. Caminhei até a porta e antes de sair me virei a tempo de ve-la depositar um beijo na testa do filho e me seguir para fora do cômodo — Ele não gosta de ficar no escuro — Esclareceu assim que voltamos à sala.
Acenei em compreensão.
— Obrigada por isso — Continuou — Ele sempre me pede para ler aquele livro mas nunca tive coragem de tocar nele outra vez. Talvez agora que sei o quanto é importante para ele, eu me sinta mais confortável em tentar.
Suas mãos se cruzaram abraçando os próprios braços. Um sentimento tão grande me preencheu que tive que guardar minhas mãos nos bolsos das calças antes que involuntariamente elas tomassem a decisão de fazer o que estava com vontade de fazer. Toma-la em meus braços e acolhe-la para sempre no meu abraço.
Principalmente quando ela me encarava de volta com aqueles olhos verdes que pareciam penetrar a minha alma.
Tossi, limpando a garganta e quebrando um pouco da tensão em nossa volta.
— Eu acho melhor eu ir, já está ficando tarde — Falei recebendo um aceno e um sorriso contido de Luna — Obrigado pelo jantar, estava uma delícia. Desculpe ter aparecido sem avisar.
Seu sorriso se expandiu enquanto caminhávamos lado à lado na pequena distância até a porta.
— Não tem de quê, pode aparecer sempre que quiser. Deve ser difícil manter a rotina no trabalho, com os plantões e tudo mais, então quando estiver com vontade de uma comida caseira de qualidade ao invés das congeladas pode bater aqui.
— Quem te disse que eu só como comida congelada?
Luna levantou a sobrancelha em desafio.
— E não é? — Questionou.
— É claro que não, fast-food também são boas escolhas.
— Você está de brincadeira né?
Neguei com a cabeça.
— Eu não sou um cara que tem muito tempo para cozinhar, quando não estou de plantão, estou cansado demais para sequer preparar algo no microondas. Minha única alternativa é pedir algo em um restaurante qualquer que esteja entregando na hora que chego em casa.
Luna balançou a cabeça de um lado a outro parecendo ponderar minha justificativa.
— Tá, você tem um ponto — Colocou as mãos na cintura e empinou o nariz em minha direção. Estávamos tão perto que eu conseguia ver as pequenas sardas salpicadas em seu rosto e, céus... como ela é linda — Mas eu confesso que sendo bombeiro e todo forte assim, pensei que tivesse uma alimentação mais saudável.
Dei de ombros e cocei a cabeça envergonhado.
— Eu deveria ter na verdade, mas detesto comida light e amo um hambúrguer com muita carne e queijo. Eu poderia dizer que sou abençoado com um metabolismo rápido, mas as horas que gasto na academia durante minhas folgas não me deixariam mentir.
Luna apertou os olhos e me olhou descrente com o que acabara de ouvir e eu tinha certeza do que viria a seguir.
— Você tem tempo para malhar mas não para fazer a própria comida?
Soltei uma risada alta que logo foi interrompida pelas mãos macias e pequenas que pressionaram minha boca calando-me.
— Shhh — Me advertiu — Vai acordar o Théo.
Eu teria pedido desculpas se ela tivesse se afastado, mas ela continuou alí próxima demais, com seu corpo colado ao meu, com seu toque faíscando em minha pele. E de repente toda a diversão sumiu, dando lugar a uma tensão palpável a nossa volta.
Peguei em suas mãos as afastando do meu rosto mas permaneci segurando-as e mantendo Luna no mesmo lugar.
Ainda que já estivesse livre para falar, minha voz parecia presa quando engoli em seco perdido na imensidão verde do seu olhar.
Descí meus olhos para seus lábios entreabertos e me peguei imaginando qual seria o sabor deles, será que seriam tão macios quanto pareciam ser. Com toda a certeza era algo que eu gostaria muito de provar.
Com a respiração acelerada, busquei resquícios da minha voz, tirando coragem de onde eu não fazia ideia que tinha para falar.
— Eu vou beijar você Luna, e se não for algo que queira é melhor que me avise agora.
Aguardei apenas três segundos e diante do seu silêncio, inclinei-me sobre ela quebrando a distância que nos separava encaixando meus lábios nos seus.
Seu beijo era doce como imaginei que seria e quando abriu mais os lábios dando passagem para minha língua, descí uma das mãos para sua cintura e adentrei a outra em seus cabelos segurando os fios entre os dedos, o movimento a fazendo suspirar contra a minha boca.
De um beijo que começou tranquilo, aos poucos foi se transformando em algo maior e mais quente. Eu a beijava a cada segundo com mais possessividade, apertando sua cintura e colando-a mais e mais ao meu corpo.
Eu tinha certeza que meu cabelo estava uma bagunça depois que Luna enfiou seus dedos nele, mas foi quando adentrou sua mão por dentro da minha camiseta que precisei interromper nosso beijo.
Permaneci de olhos fechados, com a testa colada na dela enquanto aguardava minha respiração descompassada voltar ao normal, e mesmo sem ver eu sabia que Luna estava do mesmo jeito.
Quando por fim tomei coragem e abri meus olhos me deparei com a visão mais linda ainda da mulher que eu havia acabado de compartilhar um dos beijos mais incríveis da minha vida. Talvez o melhor.
Com as bochechas rubras, Luna abriu os olhos e me encarou de volta.
— Isso foi...
— Incrível!
Completei.
— É...
— Eu realmente não sei o que fazer agora — Joguei uma mecha do seu cabelo para trás prendendo-a atrás de sua orelha — Eu queria muito continuar de onde paramos mas...
— Ainda não estamos prontos.
Dessa vez foi Luna quem completou.
— É... — Afirmei — Acho melhor eu ir agora pra minha casa, mas não quero que pense que estou fugindo, ou algo do tipo.
— Tudo bem — Respondeu com um sorriso sincero — Eu também tenho que ir dormir, já está tarde.
Caminhamos em silêncio até a porta e Luna a abriu. Passei pela soleira da porta e me virei em sua direção.
— Boa noite Luna.
— Boa noite Matteo, durma bem.
— Com toda a certeza vou dormir — Afirmei, sem conseguir conter o sorriso idiota no rosto.
Já estava me virando quando em um ato impulsivo olhei outra vez para Luna e cortando nossa distância lhe roubei mais um beijo rápido.
Minha vizinha então sorriu e esperou que eu abrisse minha porta para somente então, fechar a sua após abanar em despedida.
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Resgate - LUTTEO
Fiksi PenggemarLuna e Matteo. Duas almas castigadas por uma vida cruel que lhes tirou aqueles a quem eles mais amavam. Matteo é bombeiro e utiliza da adrenalina e dos riscos que o trabalho traz para aplacar a dor da perda. Ao se mudar para um novo apartamento, co...