Maluca ou Perfeita para mim?

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MATTEO

        Ok.

       Definitivamente essa mulher tem algum problema.

       Tem quase 10 minutos que ela está andando de um lado a outro no corredor, indo e voltando da minha porta para a dela.

       Como eu sei disso? Estava pegando as minha chaves no aparador para sair e fazer compras e escutei um barulho do lado de fora. Espiei pelo olho mágico e lá estava a criatura de baixa estatura e olhos de jade mais bonitos que ja ví.

       Eu certamente tinha sérias duvidas sobre a sanidade dela desde que se enfiou perigosamente pelas portas do elevador, mas agora estava realmente cogitando questiona-la sobre isso.

       Aguardei que refizesse o mesmo trajeto mais 2 vezes e quando parou mais uma vez em frente à minha porta, a abri fazendo com que se assustasse dando um passo para trás e levando a mão ao peito.

       — Vai tocar a campainha ou vai ficar andando igual a uma barata tonta no corredor? — Perguntei falhando miseravelmente ao tentar não ser grosseiro.

       Sua boca abriu e fechou algumas vezes, talvez buscando as palavras certas. Seu belos olhos antes arregalados pelo susto, agora me analisavam de cima a baixo parando-se demoradamente no meus braços e abdômen marcados pela camiseta branca e justa que eu usava.

       Não costumava me atentar aos olhares que recebia, nem mesmo após ficar viúvo me importei com isso, mas tenho que admitir que ter os olhos dessa mulher me secando estava despertando lugares em meu corpo que há muito tempo não era despertado, e já sentia minha calça ficando um pouquinho mais apertada logo abaixo da cintura. Fato que também não passou despercebido por ela.

       Cruzei os braços e me escorei no batente da porta.

       O movimento pareceu desperta-la, fazendo-a voltar seus olhos para os meus. Ergui uma sobrancelha em desafio, esperando que ela começasse a falar.

       Percebendo que havia sido pega no flagra, seu rosto corou por inteiro. Linda.

       — Eu... é... — Luna apertou os olhos por um instante e respirou fundo antes de começar a explicar — Desculpe, é que eu fiz esse bolo que é o favorito do Théo e se chama bolo de tres leches, é muito comum no México sabe? É receita de família, minha mamá fazia para mim quando era criança e agora eu faço pra ele, é muito gostoso. Eu não sei se você gosta de doce ou não, mas eu trouxe um pedaço para agradecer pela ajuda do outro dia.

       Como? Como uma pessoa era capaz de falar tantas palavra de uma só vez em um só fôlego?

       Franzi a testa e a encarei, tentando assimilar tudo o que havia falado, só então percebendo o prato em suas mãos, com um guardanapo por cima que deveria estar cobrindo o tal bolo.

       Com um sorriso amplo nos lábios ela esticou as mãos para me dar o doce. Levei alguns segundos para que meu cérebro conseguisse processar tudo.

       — Não é necessário senhora, eu fiz o que qualquer pessoa faria. — consegui por fim falar.

       Ela jogou a cabeça para trás e gargalhou em divertimento. Os cabelos escuros se espalharam ainda mais pelos ombros delicados. Só não entendi o motivo da risada.

       — Meu Deus, você me chamando de senhora, faz eu me sentir com 50 anos quando eu nem mesmo passei dos 30.

       — Desculpe, não quis ofender.

       — Não me ofendeu, não se preocupe.

       Um silêncio estranho pairou no ar enquanto nos olhávamos nos olhos um do outro.

       Em um movimento muito rápido, Luna deu um passo a frente ficando muito próxima de mim. Com sua mão livre puxou meu braço descruzando-o e colocou o prato que até então carregava em minhas mãos.

       — Realmente não precisa se preocupar com isso, nem agradecer. — Tentei devolver pra ela, mas suas mãos ergueram-se na frente do corpo impedindo. — Eu só fiz meu trabalho.

       — Seu trabalho é socorrer vizinhas doidas que quase colocam fogo na casa com uma frigideira?

       Seu tom tinha um ar de divertimento, e não pude deixar de sorrir. Se é que o pequeno movimento que meus lábios fizeram pode ser chamado de sorriso.

       — Bom... eu sou bombeiro, meu trabalho é socorrer qualquer tipo de incêndio, ainda que pequeno e causado por um utensílio doméstico. — Luna meneou a cabeça ponderando meu argumento — Então, não precisa agradecer.

       — Olha, meu marido era polícial e também só fazia o trabalho dele. Ainda assim não deixava de ser um risco, e bom... — Ela desviou os olhos como se estivesse mergulhando em difíceis lembranças por um breve momento. Eu conhecia aquele olhar e aquela dor, sentia ela diariamente — Enfim... acho que mesmo sendo seu trabalho não me custa nada agradecer de alguma forma. A não ser que não goste de doces, ou seja diabético. Ah meu Deus você é diabético?

       Levou as duas mãos à boca e seus olhos olhos dobraram de tamanho com a possível descoberta.

Balancei a cabeça negando e segurei para não rir. Ela tem uma cabeça muito criativa, eu diria.

       — Eu não sou diabético — Esclareci em voz alta. Luna baixou as mãos ao lado do corpo e suspirou em alívio — Eu apenas não tenho o costume de comer doces com frequência, mas se insiste, agradeço a gentileza.

       O sorriso bonito voltou a enfeitar seus lábios.

       — Sendo assim, espero que goste. Agora tenho que voltar, obrigada mais uma vez.

       Assenti em resposta e observei enquanto ela girava e caminhava em direção ao próprio apartamento.

       Seis passos. Essa era a distância de uma porta para a outra, mas observa-la enquanto rebolava involuntariamente os quadris dentro daquele jeans malditamente apertado, pareceu uma agonizante e tentadora eternidade.

       Gostosa para um caralho.

       Quando por fim chegou ao destino, olhou novamente na minha direção com o mesmo sorriso e ergueu a mão em uma despedida.

       E assim ela sumiu, me deixando igual um idiota parado em frente à minha porta, com um prato de bolo nas mãos e uma puta ereção dentro das calças, sem entender o que estava acontecendo comigo.

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