UM DIA DIVERTIDO

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Em cada instante das nossas vidas temos um pé nos contos de fadas e o outro no abismo.

— Paulo Coelho.

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Lílian passou boa parte da noite arrependida de ter questionado a escolhas do seu chefe em se casar, afinal, não era da conta dela e aquela atitude intrometida poderia lhe custar o seu emprego. Mas já estava feito de qualquer forma, e a única coisa que poderia fazer era dormir e aguardar pelo dia seguinte, que Deus tivesse piedade do seu senso de justiça demasiado.

E quando o dia seguinte finalmente chegou, a secretária acordou bem cedo e organizou sua bolsa. Já haviam fechado o contrato e com certeza voltariam para casa logo depois do almoço, tinha quase certeza que Eduardo havia falado algo sobre. Apenas pegou sua carteira de documentos e deixou o quarto, se surpreendendo ao encontrar o chefe parado no meio do corredor mexendo no celular. Ele estava com roupas despojadas e confortáveis e parecia ter tomado banho já que o cabelo estava molhado. Lílian imaginou que ele fosse ficar na cama até mais tarde, já que não tinham absolutamente mais nada de importante para realizarem em Nova York.

— Bom dia Sr Eduardo. — disse um pouco sem jeito, ainda estava esperando por uma bronca.

— Ah ! Lílian, bom dia! — disse um tanto quanto "animado" e guardou o celular no bolso da calça. — Vamos tomar café?

— Ham...tomar café? — questionou surpresa. Estava esperando que ele fosse a xingar pelo dia anterior ou até mesmo falar sobre demissão.

— Isso, ou você já tomou? — questionou.— Depois, podemos dar uma volta pela cidade, já esteve aqui antes?

— Não senhor, nunca estive. — responde sincera, mas sem deixar de achar aquilo tudo meio estranho. — Bom, eu já fiz minha bolsa, então tranquilo.

— Ah não tenha pressa, podemos ir amanhã de manhã ! — diz enquanto começa a andar e sua secretária o acompanha.

— Amanhã? Temos algo para resolver hoje? — disse já pegando seu celular para checar.

— Não, apenas quero ficar mais um dia e aproveitar, você não? — a encarou.

— É...


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Após tomarem café, ambos foram dar uma volta pela cidade, visitaram pontos turísticos, foram ao shopping, e por fim, acabaram em uma sorveteria e quem visse de fora diria...bom... diria que eles eram bons amigos talvez? Não, nunca ninguém diria que eles eram um casal, ou nem mesmo parentes.

Não eram um casal porque Lílian era muito feia no ponto de vista social e Eduardo era um tremendo galã, e também não poderiam ser parentes porque era inadmissível alguém tão feio como a secretária carregar o sangue de alguém tão lindo como seu chefe nas veias. Mas, o mais aceitável seria que fossem amigos que se davam muito bem.

— Sabe, você tem razão. — disse após alguns segundos de silêncio. — Na verdade, eu não sei mais porque vou me casar.

— O quê? — Lílian questionou de olhos arregalados. — C-como assim?

— Bom, no início era porque meus pais e os de Angelique eram muito amigos e sócios, depois, passei a gostar dela de verdade, mas com o tempo vi que era apenas paixão e a paixão passou sabe? Eu não amo ela, mas passamos tanto tempo planejando esse casamento, nossas famílias, que parece tão certo, eu não conseguiria cancelar ou decepcionar a todos, entende? — desabafou e sentiu como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros.

— Entendo Sr Eduardo, mas por quê está me contando essas coisas? — questionou com certo receio.

— Ontem você não perguntou a respeito do casamento? Fiquei irritado sim mas também fiquei pensando a respeito. — suspirou. — Sei que não devo traí-la nem agir como uma cafajeste, você foi muito sensata ontem, e talvez o que mais me irritou foi que você estava certa.

Lílian não soube o que falar, o seu chefe estava concordando com ela? O seu chefe estava confiando nele para lhe contar coisas pessoais ! Estava se sentindo muito importante.

— Eu acho que...o senhor tinha que fazer o que é melhor para si mesmo, pois se não é isso que o senhor quer, vai viver infeliz! — o encarou. — Acho que devia ser sincero consigo mesmo e com os outros.

— Mas como Lílian? Como eu vou falar para a Angelique que não quero me casar? Como vou falar para os meus pais? Se eu fizer isso, vou perder o apoio de todos! — disse meio desesperado, mas cogitando a ideia.

— É verdade, mas pelo menos estaria seguindo o seu coração e sendo fiel a si mesmo.

Eduardo não disse mais nada, no fundo ele sabia que realmente era aquilo que deveria fazer, mas não podia, simplesmente não conseguia.

E quanto finalmente retornaram ao hotel, ele fez algo que nem ao menos sabia o motivo, ele simplesmente abraçou Lílian por um tempo e disse a palavra mais difícil e menos proferida por ele em toda a sua vida:

— Obrigado, por hoje. — sorriu sem mostrar os dentes e antes que sua secretária pudesse processar, se afastou.

Ele não fazia a menor ideia, mas havia deixado uma mulher com o coração acelerado no meio do corredor, e tudo isso, porque ganhou um abraço, um simples abraço.

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Oi vidas 🫀 tô voltando aos poucos.

Beiju




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