Capítulo 2

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O barulho do avião era sempre um incomodo, o que me fazia repensar todas as vezes no motivo de ter aceitado entrar para as forças especiais. A marinha era muito mais tranquila e eu não precisava entrar em nenhum maldito avião. Não era medo literal de voar e sim da sensação de não ter nada além de uma caixa de metal sobre os meus pés.

Carregamos o avião que nos deixaria em uma das bases militares que tínhamos em Omã e viajaríamos de carro até Dubai, a missão ficava em um dos prédios comerciais onde um dos agentes encontrou diversas movimentações estranhas no prédio. Foi reportado também conversas sobre uma possível invasão e isso nós não podíamos deixar passar batido.

Então eu entraria com uma turista enquanto meus homens me dariam cobertura de fora, em cima dos edifícios e entre os prédios.

— Vamos gata, é só mais um voo. — Olhei feio para Zac que trombou o ombro em mim antes de subir a rampa.

— Vá se foder, imbecil. — Chiei fazendo ele rir e se jogar nos bancos.

— Ele vai acabar nos entregando de novo, ah vai. — Jace suspirou chateado antes de entrar, olhou para mim com as duas pérolas esverdeadas que tinha no lugar dos olhos e cochichou. — Podemos jogá-lo do avião quando estivermos no ar? — Eu sorri com a possibilidade, Jace odiava quando Zac se empolgava com a missão, isso queria dizer que seriamos descobertos antes mesmo de começarmos.

Retirei uma lata de cerveja de dentro da minha bolsa, não iria enfrentar essa droga de viagem sem estar completamente tonta.

Trabalhar com homens armados era mais do que um grande porre e as vezes todos eles se comportavam como um bando de crianças.

— E lá vamos nós, seus filhos da puta! — Marco entrou gritando e jogando as bolsas no fundo do avião.

Eu bufei, a viagem seria longa...

*

Eu realmente odiava voar, principalmente com um bando de marmanjos.

Já estava na sexta lata de cerveja enquanto parte dos homens riam e brincavam antes de pousarmos, não os culpava, se eu não me sentisse um lixo por causa da sensação do voo, também estaria me preparando psicologicamente para entrar em ação caso precisasse.

— É capaz de não conseguir levantar quando pousarmos, Sam. — Walle debochou de mim, eu virei a latinha e a amassei com a minha bota.

Meus homens podiam me chamar pelo meu apelido, eu conhecia a família deles, eu morreria por eles e eles por mim, ao contrário de Gerard.

— Aguento muito mais do que você imagina, bonitão. — Walle sorriu, ele parecia uma montanha com cabelos claros e curtos.

Os homens vaiaram Walle e eu pisquei para ele, eles eram a minha família e zoar com a integridade deles era o meu papel principal; pelo menos até que precisássemos vestir a farda.

— Sua sorte é que é minha capitã, senão eu já teria descoberto o quando aguenta. — Dessa vez a vaia foi para mim.

Eu dobrei o corpo por cima das minhas coxas só para encarar melhor os olhos azuis de Walle, ele fez o mesmo e os homens ficaram quietos esperando a minha resposta.

— Aposto que sim, o problema é que você não daria conta e duvido que você seja proporcional, bonitão. — Fiz questão de medir ele com os olhos apenas para que Walle soubesse exatamente do que eu estava falando.

Dessa vez eu ri junto com a vaia, eu sabia o que eles estavam fazendo e agradeci mentalmente pela distração enquanto o avião começava a inclinar para pousar.

— Se surpreenderia com a quantidade de mulheres que dizem o contrário.

— Você se surpreenderia com a quantidade de mulheres que eu roubaria de você. — Estalei a língua e os homens enlouqueceram gritando.

— Um desafio! — Zac gritou. — Caralho isso vai ser demais!

— Eu te desafio, capitã. — Walle fechou os olhos como uma linha, eu olhei de soslaio para Zac, o maldito piscou para mim e eu soube que ele estava se vingando do jogo que perdeu no dia anterior. — Depois da missão, no bar. Dez mulheres. — Walle mordeu o lábio.

Todos eles sabiam que eu era hétero, mas eu não conseguia recusar uma aposta e essa merda me faria transar com todas elas pelo puro prazer de sair como vitoriosa.

Olhei feio para Zac e voltei a olhar para Walle, o silêncio me incomodou lembrando que estávamos descendo antes de eu finalmente responder.

— Feito.

— Ai caralho! — Jhon respirou fundo. — Isso vai dar uma merda... — O único homem sensato, eu também sabia que essa aposta iria causar um grande problema.

— Só se Walle não aguentar. — Segurei firme no cinto e respirei fundo quando o avião bateu as rodas no chão. — Se ele perder vai ter que pagar todas as minhas bebidas durante um ano em todas as nossas missões.

Ele abriu a boca para reclamar, mas Lendon gritou do fundo do avião. Avisando que finalmente tínhamos pousado.

— Com esse visual, a capitã vai comer todas as menininhas que pensar em olhar para Walle. Você parece uma montanha, cara. Às vezes nem parece que consegue se mexer!

Eu gargalhei soltando o cinto, minha aparência não era uma prioridade principalmente durante as missões. Eu mantinha meu cabelo na altura do queixo e isso me dava liberdade para conseguir mantê-los soltos de um jeito que não me atrapalhasse, além de manter um pouco da aparência feminina quando não estávamos de farda e carregados de munições por todos os bolsos possíveis.

— Obrigada Lendon. — Murmurei agradecendo finalmente pelo avião ter parado. — Pelo menos eu não preciso reafirmar minha sexualidade cantando todos os homens que eu vejo pela frente, os que me conhecem já sabem o que precisam, não é mesmo Walle?

A gargalhada estrondou no avião silencioso enquanto Walle me olhava com a boca aberta.

— Porra, essa aí doeu. — Zac pulou sobre os ombros de Walle zombando dele. — Aí, depois dessa eu já começaria a me preparar para não faltar bebida na mesa dessa mulher, você vai ser detonado cara.

Eles continuaram fazendo da vida de Walle um inferno enquanto descarregávamos o avião, a região árida me fez suspirar, fazia tempo que eu não viajava para não longe e nem mesmo utilizava a entrada de pessoas comuns para entrar nos países. Precisávamos levar equipamentos e a segurança dos aeroportos não cooperariam com isso, além de denunciar nossa missão. Então fazíamos basicamente uma entrada de clandestinos e nos infiltrávamos nas cidades com documentos e passaportes falsos.

Mas tudo indicava que essa missão seria rápida e fácil, nada de mortos pelo caminho e risco de ser um desses corpos. Talvez nem mesmo demorássemos mais de um dia em Dabai, isso nos daria tempo para aproveitar mais um dia da viagem e eu poderia também ganhar a aposta de Walle. Um ano de bebida, eu precisava ganhar de qualquer jeito.

— Os carros estão carregados. — Eu acenei para Zac, era hora de continuar a viagem nos carros e seriam cerca de mais quatro ou cinco horas de viagem até chegarmos onde precisávamos.

Ao contrário do avião, a viagem foi mais tranquila do que eu esperava, conseguimos carregar as armas enquanto percorríamos a estrada de areia e relaxamos o máximo que podíamos antes de chegarmos ao alojamento. Como sempre, não ficaríamos muito tempo, eu sempre dizia que "o quanto mais rápido fizermos, mais rápido estaríamos em casa". Isso sempre nos ajudava a terminar a missão antes do previsto.

— Estou com a porra de uma péssima impressão desde que saímos de casa. — Zac disse baixo olhando para a estrada.

Eu suspirei, eu tinha essa impressão em todas as nossas missões. Para mim não era uma novidade.

— Vamos fazer como sempre, rápido e direto. Quero sair do prédio antes que pensem no próximo passo.

(DEGUSTAÇÃO) QUEIME - Não Se Apaixone Pelo InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora