Capítulo 4

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A onda de dores eram constantes, tão fortes que eu quase não conseguia abrir os olhos. Talvez nada fosse tão ruim quanto estar presa debaixo de algumas toneladas de concreto, ao menos, esperava que não.

Aquela explosão deveria ter derrubado todo o prédio, mesmo assim, pela pequena fresta que eu consegui ter acesso, parecia que a estrutura estava intacta. Prédio forte, sem falar dos tetos que quebraram como vidro quando os estilhaços da granada explodiram sobre ele e se despedaçou com facilidade.

Eu não consegui me mover e mesmo que pudesse, os escombros e meu tornozelo dolorido não me levariam a lugar algum. Zac e meus homens não poderiam voltar tão cedo para perto desse prédio e eu não queria uma atenção maior além da ambulância que deveria estar socorrendo os feridos.

Procurem por ali. — Ouvi de longe.
No entanto, eu não tinha certeza se eram homens da maldita organização que fomos investigar ou se era apenas socorristas.

Só tem civil aqui, olhe mais para o fundo. — Eles falavam o meu idioma e isso me fez entender que provavelmente fomos entregues de bandeja para eles.

Mais para lá, aqui está vazio. — Os passos aumentaram e meu coração pulava a cada um deles.

Os escombros foram revirados e pouco a pouco o barulho foi se aproximando de mim, eu não tinha mais do que duas opções, permanecer quieta e com sorte, ser encontrada mais tarde pela minha equipe ou tentar a sorte e pedir por ajuda.
Eu estaria ferrada de qualquer jeito.

Esses filhos da puta quebraram tudo. — Eu sorri mesmo com a pontada de dor que me atingiu por causa da falta de ar.

Minha equipe fazia uma bagunça e eu não me importava em derrubar a porra do lugar antes de ir embora, principalmente se fosse um lugar como esse.

Parei de respirar quando cascalhos rolaram para perto do meu rosto, caindo uma a uma, meu corpo começou a tremer por causa do frio. Eu tinha entrado em choque, logo voltaria a desmaiar e se me encontrassem agora, eu sabia que nunca mais voltaria para casa.

Talvez, eu deva ter perdido a consciência enquanto esperava que os homens fossem embora, o tremor havia se tornado um frio doloroso. Eu estava perdendo sangue, joguei os braços para cima tentando empurrar uma parte da placa de concreto aproveitando o silêncio. Por hora e pela primeira vez, rezei para que eu estivesse realmente sozinha.

A placa era pesada demais e não obtive sucesso. Mordi o lábio com força e me arrependi, havia um corte vertical na parte macia inferior. Eu gemi pela dor e logo um par de braços me ajudaram a empurrar. Eu precisava de um médico.

— Achei você, coelhinha fujona.

Eu ofeguei vendo os olhos castanhos por um estreito buraco de uma máscara de esqui, então a base de uma espingarda bateu contra a minha testa.

*

Acordei com um maldito balançar, minha boca estava levemente aberta e presa com algum tipo de pano imundo dentro dela. Eu também não podia abrir os olhos, não só pela dor que irradiava por toda a minha cabeça, mas também pelo saco escuro que estava amarrado ao meu pescoço.

Tentei mover o restante do meu corpo e mesmo com a dor consegui perceber minhas mãos e meus tornozelos firmemente presos.

— Acho melhor não se mover tanto, ou faremos questão de quebrar seu outro tornozelo.

Grunhi quando os dedos enrolaram em cima da fratura e a apertou com força suficiente para mover meus ossos. Eu parei de tentar me soltar e o aperto diminuiu deixando um latejar incômodo.

— Muito bem princesa. — Ele disse suavemente e eu engoli o ódio dentro da minha garganta, esse seria o primeiro maldito que eu cortaria o pescoço.

O silêncio continuou sendo interrompido pelo barulho dos pneus destruindo pedras enquanto rodava. Não parecia ser a cidade e o silêncio ao redor estava me levando a acreditar que tínhamos saído de Dubai, eu estava perdida se não fizesse nada para me soltar.

Eles voltaram a conversar em árabe, algo que eu não tinha nenhum conhecimento. Eu precisava de mais informações e principalmente de uma rota de fuga.
Consegui identificar duas vozes e nada mais, o som do que parecia ser de um Jipe. Pneus em chão árido e um vento quase cortante fora das janelas, eu estava longe de Dubai, muito mais do que eu imaginava estar.

Eles continuaram discutindo enquanto meu corpo sacudia em cima daquele lugar desconfortável.

— A casa está segura? — Essa voz eu conhecia, a mesma que ouvi antes de apagar dentro dos escombros.

— Está. — O outro respondeu seco, mais perto de mim do que eu imaginava estar.

Movi o corpo outra vez e meu tornozelo e pescoço foram apertados, o ar voltou a faltar e eu precisei morder o maldito pano imundo dentro da minha boca para suportar.

— Não me faça repetir, princesa. Vai acabar puxando o pino de uma das minhas granadas e eu não me importaria de te jogar para fora do carro com ela.
Ouvi um suspirar inquieto vindo do que agora eu conseguia distinguir ser o banco da frente do Jipe, o motorista.

— Pare com isso, sabe quais são as ordens.

Eles falaram em árabe por mais algum tempo, virando o Jipe várias vezes até finalmente pararem, as portas da frente abriram e bateram com força. Para depois ser as detrás, moveram meu corpo e eu grunhi alto tentando xingar aquele filho da puta que estava me levando no colo. Agora o desconforto fazia sentido, eu deveria estar sendo levada de qualquer jeito apenas por não ser uma das mulheres de seu país. Maldito.

Ele segurou debaixo dos meus joelhos e das minhas costas para sair. Me debati provavelmente parecendo um peixe prestes a morrer, mas eu precisava tentar me soltar, eu queria matá-lo.

Fui carregada de um jeito desconfortável nos braços dele, então a dor de um corte me fez choramingar. Minhas costelas foram rasgadas me lembrando da faca de plástico. Sim, ela parecia ser inofensiva até que entrasse em contato com a pele. Eu estava odiando ela nesse momento.

— Jogue ela ali, vou preparar o porão. — Foi rápido e o que me carregava obedeceu.

Eu me debati outra vez antes do meu corpo bater contra o chão, o barulho oco de madeira rangiu embaixo de mim assim que me soltaram. Minha pele ardeu e senti a faca perfurar o fim das minhas costelas.

— Caralho, é pra manter ela viva. — Ouvi alto, então o barulho de molas soou perto de mim.

— Não seja tão caridoso, nenhum daqueles filhos da puta deveria ter sobrevivido. Não tem que ser diferente com ela, mas não se preocupe, conheço as ordens, as ouvi junto com você. Vou manter essa princesa bem viva.

— Imbecil, não consigo entender como ainda não nos matamos. — A voz do que estava no banco da frente resmungou inquieto.

A risada alta ecoou pelo cômodo trazendo malditos arrepios dolorosos pelo meu corpo.

— Porque fazemos a porra do trabalho direito.

— Vá se foder. — O outro riu parecendo não aguentar segurar. — Pare de ser um idiota e fique de olho nela, essa coisinha tem um currículo fodido.

Eu sorri, ao menos sabiam que não arrancariam merda nenhuma de mim. Mesmo que estar aqui fosse a minha passagem direta para o inferno.

— Ah, com esse pezinho quebrado ela não vai para lugar nenhum.

Não, eu não iria a lugar algum por enquanto. Mas isso não queria dizer que eu ficaria quieta como a porra de uma boneca enquanto tentam tirar toda e qualquer informação de mim, eu iria acabar com a maldita raça deles e de qualquer outro que ousasse aparecer no meu caminho quando saísse daqui.

Os arrastaria pela areia até que não sobrasse nada além de ossos limpos.

(DEGUSTAÇÃO) QUEIME - Não Se Apaixone Pelo InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora