Capítulo 5

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Aquele maldito saco estava me deixando louca, o cheiro da minha própria respiração, o calor abafado e nada de soltarem as minhas mãos para eu poder arrancar aquilo da minha cabeça.

Me deixaram no chão durante tanto tempo que pude sentir o músculo do meu braço e parte do meu quadril achatar e adormecer, mas também, sentia que ainda estava sendo observada.

Comecei a ofegar, nem mesmo Jhon, que já havia sido torturado aguentaria tanto tempo com a porra da cabeça dentro de um saco, era úmido, quente e insuportável.

— Merda! — Finalmente ouvi e comecei a tossir. — Se ficasse quieta não estaria afogando.

Continuei ofegando e tossindo até que o nó que prendia aquela maldição na minha garganta foi solta e o saco foi arrancado da minha cabeça. Ar fresco invadiu meus pulmões e não me importei com a mordaça de pano na minha boca, era ar fresco, empoeirado, mas fresco.

A tosse piorou e meu corpo ardeu com o excesso de oxigênio, foi tão doloroso quanto nascer de novo.

Me joguei para o lado e empurrei os pés contra o peito da sombra em cima de mim, não era muito, mas foi o tempo suficiente que encontrei para me afastar dele.

— Coelhinha espertinha. — Ele riu jogando o corpo para cima de mim e voltando a apertar meu tornozelo ferido.

Eu gritei e me debati até ele soltar a minha pele.

— Tente não ser tão arisca, não pode ir a lugar algum. — Fechei o rosto mordendo o pano úmido de saliva, ele riu me olhando pelo pequeno buraco da máscara. — Vamos, fiquei sabendo que era mais esperta que isso. Está me decepcionando. — Ele estalou a língua.

Eu grunhi me afastando o máximo que pude, os olhos castanhos me observaram calmos demais para quem tinha uma equipe de quinze homens na sua cola. Minha equipe não deixaria de me procurar, jamais fariam isso comigo.

Ele tinha a voz levemente rouca, o mesmo cara que me tirou dos escombros e que provavelmente dirigia o Jipe até chegarmos aqui.

— Traga ela, já finalizei. — O outro voltou à sala e parou antes da porta, passou os olhos também contornados pela máscara de esqui do colega para mim e uniu as sobrancelhas cruzando os braços sobre o peito. — Disse para ficar de olho nela, que porra está fazendo?

— Essa espertinha fingiu estar se afogando na própria saliva e como eu disse, conheço as ordens, deixá-la viva faz parte do combinado, então... foda-se.

O colega revirou os olhos e se aproximou de mim, me empurrei o máximo que podia contra a parede e minhas costelas arderam me lembrando da faca.

— Vou pegar você, então me faça o favor de ficar quieta ou vou te arrastar até lá embaixo pelos cabelos.

— Achei que era para pegar leve.

— Cale a boca.

O colega olhou feio para o engraçadinho de olhos castanhos e me pegou no colo, eu grunhi insatisfeita e com uma vontade louca de enfiar minha faca em seu pescoço. Mas não me debati, sabia que a faca poderia perfurar ainda mais minhas costelas e não era isso o que eu precisava no momento, então apenas me deixei ser levada para baixo.

Parecia ser uma cabana de madeira no meio do deserto, ao que tudo indicava, eu estava longe demais do alojamento e principalmente da cidade. As janelas estavam cobertas por papelões e não tinha nenhuma mobília a não ser o sofá velho que o engraçadinho de olhos castanhos estava sentado; acho que consegui ver uma mesa redonda no fim do corredor onde deveria ser a cozinha e algumas lâmpadas para que não ficassem no completo breu.

Suspirei odiando a minha condição, nunca fui capturada e isso tinha me deixado com mais ódio do que medo. Se as ordens eram para me manter viva, eu viveria fazendo um inferno na vida deles.

Descemos um conjunto de escadas escuras e ele abriu uma grossa porta de madeira no fim dela, o porão se surgiu com nenhuma janela e luzes amarelas penduradas de qualquer jeito no teto. Se esse cômodo não me enlouquecesse, eu apostava as minhas fichas que esses dois fariam isso com muito empenho.
Inferno.

Ele me colocou sentada sobre uma cadeira no canto, coberta por algumas voltas de cordas; as enrolou sobre o meu peito e abdômen fazendo meu sangue gelar quando a corda passou por cima da faca e desceu para o meu quadril.

Foi por pouco.

— Não se mova muito, princesa ou vai acabar fatiada pela corda.

Mordi o pano e olhei para aquela brecha na máscara dele imaginando as possíveis formas de matá-lo, enquanto ele estava concentrado demais me amarrando na cadeira para me pegar encarando-o. Eu pisquei algumas vezes quando ele olhou para mim, apertei os olhos indicando que eu não cederia a porra nenhuma recebendo o mesmo olhar de volta.

Ele moveu o olhar sobre meu rosto e eu não baixei a guarda, ele não fugiria de mim da mesma forma que seu parceiro também não teria essa chance. Mas algo nele me chamou a atenção, ele tinha o olho direito verde e o esquerdo castanho, mas era tão claro quanto mel, talvez tenha sido um dos olhos mais bonitos que já vi.

Balancei a cabeça levemente tentando espantar meus pensamentos enquanto ele dava voltas com a corda em mim, ele parecia ser um pouco menos filho da puta que o colega, ao menos não tinha me machucado, ainda.

Talvez eu o matasse por último.

Ele finalizou e deu o último nó próximo ao meu tornozelo, eu grunhi pela dor que ainda estava irradiando por toda a minha panturrilha e ele voltou a levantar os olhos para mim.

— Eu vou soltar essa corda do seu tornozelo. — Disse indicando para a amarra que mantinham meus pés juntos. — Sem gracinhas, princesa, ou eu te deixarei com essa fratura exposta. — Ele piscou para mim, ao contrario do outro, ele tinha uma leve suavidade na voz e isso me lembrou de que poderia ser um grande problema para mim.

Os mais calmos tinham mais probabilidade de ter o sangue frio, ele poderia me matar sem pestanejar.

Acenei, por hora, eu não poderia ir a lugar algum principalmente com a perna nesse estado.

Ele soltou o nó e separou devagar os dois; mordi o pano tentando suportar a dor e não gritar enquanto ele examinava a fratura.

— Vou buscar algumas coisas e colocar ele no lugar, isso pode te matar, ou não; vamos descobrir em breve.

Eu ergui uma sobrancelha para a maldita falta de noção desse filho da puta e encostei as costas na cadeira, seria a merda de um dia difícil além do que já estava sendo.

Ele saiu rápido e tudo o que eu pude fazer antes dele voltar com uma caixa de primeiros socorros foi examinar o cômodo, afinal, eu passaria um bom tempo ali até que meu tornozelo me deixasse por o peso do meu corpo sobre ele.

Uma cama, uma porta pequena no canto esquerdo que deveria ser o banheiro, as escadas que ainda me levariam para fora desse maldito lugar e uma pia. Nada além do necessário para manter alguém em cativeiro, eu teria o mesmo se fosse manter alguém assim.

— Tente não se mover. — Ele disse tirando a minha bota e fixando meu pé no chão; grunhi me remexendo na cadeira tentando fazê-lo soltar aquele pano imundo da minha boca e logo ela foi abaixada para o meu pescoço.

— Parece que a coelhinha quer dizer alguma coisa. — Olhei para o lado e o engraçadinho levava uma diversão nos olhos castanhos. Eu não o vi descer, ele deveria ter vindo logo atrás do outro.

— Vá se foder. — Ofeguei vendo ele cruzar os braços no peito coberto por todo o equipamento militar, esses filhos da puta eram proficionais e eu teria problemas para sair se fosse do jeito que eu imaginava. — Vou mostrar a porra da coelhinha quando eu tiver o cano de uma arma no fundo da sua garganta.

Ele riu e se abaixou do meu lado sem se importar com a invasão no meu espaço pessoal.

— Te desejo boa sorte, coelhinha. — Ele piscou e meu tornozelo estralou fazendo todo o teto acima de mim girar.

(DEGUSTAÇÃO) QUEIME - Não Se Apaixone Pelo InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora