Dor, mágoas e um redemoinho de raiva

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Foram 7 anos, 7 longos anos que me despedacei por inteiro.

Eu aguentei tudo o que não deveria, alimentei vagas esperanças de que você mudaria seu caráter duvidoso ou que pararia de voltar para casa com aquele cheiro de álcool impregnado nas suas roupas.

Também havia um cheiro maior e mais agonizante que o anterior, o perfume de outra mulher ou sabe se lá Deus quantas outras mulheres poderiam estar com você naqueles ambientes inóspitos nos quais você se enfiava. Quando era na minha vez de termos algo íntimo, você não conseguia nem me olhar direito  e me tratava como um osso largado, velho e mastigado por um cão.

Aquilo me sufocava, você não faz idéia do quanto eu pensei...o quanto eu pensei que era insuficiente, feia ou enjoativa. Eu tentava me encaixar no seu padrão doloroso e me quebrava por inteiro para tentar me encaixar dentro da sua realidade.

Isso sem falar nas cicatrizes que você colocou em mim, hoje eu as vejo  como marcas e lembretes do cárcere  que vivi com você. São lembranças cruéis que em meu íntimo, preferia esquecer, mas nessa nova jornada vejo que é necessário olhar para elas e dizer:

"Sou muito maior do que vocês, e não vou limitar minhas emoções as dores que vocês me causam"

Gastei minha energia, a minha esperança em um relacionamento no qual só recebi migalhas afetivas, porém há de se lembrar de uma coisa: migalha não enche barriga e eu muito menos sou uma formiga para comer suas migalhas imundas!

Migalhas amargas que muitas vezes me fizeram com que eu me sentisse sem valor, sem eira ou beira! Quanto tempo tive de me anular por suas vontades? Meus lindos cachos, os meus lindos cachos, os mesmos que você me falava que eram "coisa de criola" agora me trazem à tona um novo recomeço!

Posso assegurar à você, que dessa prisão árdua e nojenta de 7 anos, só tive 3 coisas boas vindas de você: nossos filhos! É por eles que resolvi não desistir e seguir firme na minha decisão! Farei o papel que você não fez questão alguma de cumprir: serei o pai e a mãe deles.

Me pergunto como consegue ser tão monstruoso? Como conseguiu dormir à noite sem se incomodar com o fato de que você levantou a mão para o nosso filho, uma criança de 6 anos com deficiência é o ato mais repugnante que você poderia ter cometido.

Vou ensinar ao Theo e ao Breno que homem de verdade não levanta mão para uma mulher! Em relação a Miriam, vou ensinar a ela a escolher um homem que a ame e que a valorize para que ela não se anule em prol de alguém que não a mereça!

Já eu, recomeçarei a minha vida do zero! Não sei por onde começar, só tenho comigo a certeza de que PRECISO e IREI recomeçar a minha trajetória. Sai do meu nordeste por causa da sua boa lábia, que sejamos francos, não me teve serventia alguma!

Farei questão de calar a sua boca e a de muitos outros encostos quando eu estiver usando uma beca e com meu diploma de pedagogia na mão! Com minha ânsia pelo conhecimento e a sede de dar uma vida melhor para os MEUS filhos irei superar obstáculos que me levaram para algum lugar e que não me façam perder tempo, tempo esse que já gastei com você e do qual me arrependo amargamente.

Agora será eu, meus filhos e Deus nessa jornada difícil, mas o que me conforta é ver que não estou sozinha. Meus filhos são meus alicerces e Deus é o pilar da minha vida, finalmente poderei adorar a ele da forma que desejo!

Posso dizer que meu fardo ficou mais leve, gostaria de gritar aos vizinhos coisas como: "Estou livre! Livre! Louvado seja Deus!". Claro que não farei isso, mas vontade não me falta!

Agora consigo perceber que em nada me diferencio de um ex condenado que acabou de sair da cadeia. O incerto, o medo e a esperança que eu e um condenado  temos em comum são o ponto chave da minha jornada rumo à uma vida melhor.

Hoje é 13 de Abril de 1994.

Hoje me reinventei, me alegrarei, e esperarei na certeza de que meu Deus e Senhor irá me guiar.

Finalmente, estou livre para ser quem sou.

O diário de Debórah, da dor ao islam.Onde histórias criam vida. Descubra agora