Hoje é o quinto dia do recomeço.
Às vezes me pego pensando nova vida que venho levando.
Me custa muito acreditar que consegui ter coragem o suficiente para libertar à mim e meus filhos daquele cativeiro matrimonial.
Sempre que me pego lembrando daquele mar de sofrimento, me pego pedindo à Deus me dê mais coragem para enfrentar esses novos desafios recomeços.
Sou muito grata pela nova vida que venho tendo em São Paulo
Nunca me senti tão livre como me senti ultimamente,é como se uma mochila pesada cheia de pedras tivesse saído das minhas costas.
Pela primeira vez depois de tanto tempo, senti uma calma duradoura e uma liberdade tão grandes que mal sei por onde vou começar.
Meus sonhos adiados finalmente vão poder sair do papel, são tantos que não poderei nem listá-los!
Mas tenho em mente os 4 principais que são:
Cursar pedagogia, trazer minha família para cá, reformar meu apartamento e encontrar uma religião para mim e meus filhos.
Desde que saí da minha terrinha que não vejo minha família, morro de saudades deles e principalmente do aconchego do meu pai! Até os meus momentos em família aquele crápula roubou de mim!
O nosso apartamento é uma reforma que sonho desde o tempo que eu era casada, mas como quase nunca sobrava dinheiro, ele só vai poder sair do papel quando eu puder trabalhar e arranjar um emprego.
Falando em emprego, sempre sonhei em fazer pedagogia, quando terminei a escola, queria muito concorrer para uma bolsa de estudos na universidade pública lá no Maranhão, mas acabei casando e deixei esse sonho de lado. Que burra que fui! Espero conseguir entrar em alguma faculdade.
Agora sobre a parte da religião vou precisar abrir o jogo, nunca fui uma pessoa muito religiosa, meus pais e irmãos são católicos mas só iam na igreja aos domingos ou em dias de festividades.
A religião é a meta que preciso realizar com uma certa urgência, pode parecer bobagem, mas a fé é muito importante para mim.
Penso que há pilares da nossa vida, em que ela se faz necessária. Nesse período novo da minha vida, ela realmente se faz necessária.
Falo com propriedade que em toda a minha vida nunca cogitei ser atéia ou tampouco agnóstica, creio na existência de Deus e creio na existência de Jesus Cristo.
Por algum motivo não consigo crer na trindade, não acredito que Deus deva ser adorado dessa forma e também nunca vi sentido algum em Deus ser 3, para mim não há lógica ou tampouco sentido.
Antes de vir para São Paulo fui em muitos centros religiosos mas não me encaixei em nenhum dos que vi.
Já estudei muitas religiões durante meu tempo livre , mas a única religião que nunca estudei muito à fundo, porém consegue cativar minha atenção: Islamismo.
Eu nunca soube dizer o porquê de forma exata mas acredito que tenha haver com uma aula que tive de religião. Nossa professora falava algumas coisas um pouco pejorativas sobre outras religiões nas aulas que tínhamos, então acredito que com o islamismo não tenha sido diferente.
Já São Paulo, diferente de onde eu vim, é uma cidade muito grande e muito diversa, então há muitos povos vivendo juntos.
Ontem quando fui levar meu filho Theo em uma consulta, passei perto de duas muçulmanas, elas usavam lenços bem coloridos mas que entravam em contraste com seus vestidos que eram pretos e seus rostos pareciam ser jovens ( pareciam ter minha idade) eu as admirei por apenas 3 segundos, mas foi o tempo suficiente para Theo deixar um brinquedo que ele havia trazido cair no chão.
Assim que me abaixei para pegar, uma das duas muçulmanas pegou o brinquedo e me entregou e ela ainda me entregou com um sorriso no rosto.
Fiquei totalmente perplexa com o ato de gentileza, acho que fiquei tão chocada que a outra muçulmana que estava em pé deu uma risadinha discreta.
Quando a outra muçulmana pegou o brinquedo eu a agradeci e ela retribuiu o agradecimento falando algo em árabe mas não consegui identificar o que era. Assim que as vi se distanciando senti que precisava escrever sobre esse momento assim que chegasse em casa.
Fiquei o caminho inteiro, ida e volta pensando na cena que vivenciei.
Quando estava casada não costumava sair muito, e me limitei muito dentro da realidade na qual eu vivia. Por isso eu não tinha muita ciência da grandeza daqui.
É como se eu tivesse acordado de um coma profundo, a minha nova realidade ainda é uma sensação única para mim.
A diversidade de pessoas, línguas, culturas e povos sempre me encantou muito quando eu estava na época de escola e agora que moro em São Paulo vejo uma infinita gama de coisas que posso estudar.
Claro, assim que eu tiver um tempo livre.
Ah! Quase ia me esquecendo!
Tem um ponto que preciso compartilhar com você, consegui um emprego como recepcionista! É uma maravilha, o salário é muito bom e alto!
Mas há um problema.
Esse novo emprego irá exigir muito tempo meu fora de casa e eu não posso ficar tanto tempo fora porque não tenho com quem deixar meus filhos.
Me encontro em uma saia justa!Minhas mãos estão atadas!
Não posso recusar essa proposta de trabalho já que ela é importante para que eu crie experiência financeira e recomece dando uma vida melhor para os meus filhos, mas eu também não posso deixar os 3 sozinhos!
Agora seria um bom momento para surgir uma luz no fim do túnel, preciso dessa oportunidade ,mas não posso fazer esse recomeço acontecer se eu tiver de escolher entre meus filhos e um emprego.
É uma pena que o conselho tutelar não pense assim, morro de medo só de imaginar eles 3 sozinhos em casa e alguém chamando a assistência social.
Não sei o que seria de mim sem eles. Tudo que fiz até agora foi por eles.
Terei de conversar com alguma vizinha sobre o assunto. Se for necessário terei que pagar alguém para ficar com eles. Marta, minha vizinha, diz que não compensa e que as babás daqui de SP são muito caras mas vou ter que fazer um sacrifício.
Da minha parte, gostaria de só escrever coisas boas, mas infelizmente, minha vida não é um conto de fadas e prometi que seria 100% franca comigo mesma.
Acho que vou parar de escrever por hoje, não quero acordar as crianças e estou morta de sono!
Se não me falha a memória, mais tarde vou precisar passar no mercadinho para comprar algumas coisas para casa. Bom, isso não tem importância agora.
Tenha um bom dia, ou uma boa madrugada.
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O diário de Debórah, da dor ao islam.
Ficción GeneralA história irá relatar o cotidiano de Debórah, uma mãe solo de 3 filhos em uma São Paulo dos anos 90. Após 7 anos vivendo em um relacionamento abusivo, ela decide recomeçar ao lado de seus 3 filhos pequenos , Theo, Breno e Miriam. No meio de sua jo...