Capítulo 1 - O Sono Profundo

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Os últimos traços da luz do sol deixavam o céu, dando lugar ao brilho das estrelas e marcando mais um fim de dia para Rip Vaan Winckler, que agora fechava as portas da pequena farmácia em que trabalhava como atendente.

*click*

"Até que o dia foi calmo." — suspirou Vaan, se preparando para seu percurso até a parada de ônibus mais próxima.

Aquela era uma expressão frequentemente usada pelo rapaz, que gostava da vida monótona no subúrbio da cidade. Foi por esse gosto que resolveu permanecer mais algum tempo onde vivia antes de ter que se mudar para cursar alguma faculdade.

Apesar de não ter muitos amigos e ser considerado um isolado por alguns, o rapaz estava satisfeito com seu estilo de vida. Preferindo não estar no centro das atenções, os costumes da maioria das outras pessoas de sua idade não eram muito agradáveis a ele. Ficar em casa na frente de uma tela de computador ou televisão já eram o suficiente para suprir suas necessidades de lazer. Quando tinha vontade de sair de casa e sentir o clima, pegava sua velha bicicleta e pedalava até as áreas mais rurais de sua cidade nos finais de semana. E assim se passavam a maioria de seus dias.

Em seu caminho Vaan observava lojas se fechando enquanto restaurantes e bares abriam suas portas, admirando os letreiros que brilhavam em neon nos estabelecimentos mais requintados. Sua distração foi quebrada com o som da buzina do ônibus que parava em um ponto ainda um pouco longe dele.

"Oh porra!" — voltando à realidade o rapaz tentou correr, mas seu esforço foi barrado pelos carros que agora aproveitavam o sinal aberto.

Aquela não era a primeira vez que perdia seu ônibus. O horário em que deixava seu trabalho e chegava no ponto não era muito amigável com o que seu ônibus passava, mas na maiora das vezes Vaan conseguia chegar na parada a tempo.

"Haah... que merda! E o pior é que não tem mais ninguém aqui." — ele pôs a palma de sua mão na cara e resmungou, se sentando no meio do banco vazio.

Olhando para os lados, o rapaz se preocupou com a falta de vida no lugar. Aquela parte da cidade não era tão perigosa, mas também não exatamente segura. O relógio de seu celular indicava que ainda eram 19h13, um horário um tanto cedo para não haver nenhuma pessoa na rua. Com todos os estabelecimentos próximos fechados, a única coisa que iluminava a parada era a luz piscante do poste mais próximo.

"Tá parecendo filme de terror." — ele pensou com um sorriso no rosto — "Agora só falta-"

"Vaan! Vaan Winckler!"

A voz grossa e distante quase o fez pular do banco e correr rua abaixo, principalmente por não conseguir distinguir de onde ela vinha e como sabia seu nome. Mas com mais um "Vaan Winckler" uma silhueta surgiu das sombras.

O dono da voz era um homem velho, gordo, baixo e com uma barba grande ainda preta adornando seu rosto redondo. O modo com que ele se vestia o dava uma aparência de vaqueiro nordestino, com um chapéu de cangaceiro para completar seu traje. Vaan acharia que o homem era um louco varrido se não tivesse notado a cesta de compras repleta de doces que carregava em uma das mãos.

"Oba. Parece que eu num sô o único que perdeu o buzão, né, Vaanzão." — disse o homem em um sotaque nordestino forçado. Aparentemente o velho era um ambulante que aproveitava o ônibus para vender seus produtos, usando o traje de vaqueiro como forma de atrair clientes.

"B-boa noite. Quem... é o senhor?" — o rapaz ainda estava um pouco preocupado. Afinal, nunca havia visto aquela pessoa.

"Marrapaz tu num me conhece? Ah, mar tu tinha só dois ano, dá pra intendê." — ele riu, se sentando em um dos cantos do banco — "Eu era um amigo do teu vô. Depois que o véi morreu, perdi o contato com a famia. Eu só tô te recunhecendo agora porque meu fi me mostra ar foto do négocio lá, o... Insta! Isso."

O Último Humano do Velho MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora