Capítulo 4 - O Primeiro Dia

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Os raios de sol do entardecer invadiam a sala escurecida, batendo direto na face de Vaan, que acordou com calor fraco da luz. Aquele foi um dos piores sonos que já teve e era pouco o que ele lembrava sobre o que aconteceu antes de adormecer.

“Eu dormi por tanto tempo assim?” — Vaan olhou para a janela, coçando sua garganta que por algum motivo estava um tanto dolorida.

Ele sentiu algo pesado em seu estômago, e o gosto estranho em sua boca o fez pensar que algo na comida de Reed havia causado aqueles sintomas, mas no fim não era nada que o afetasse tanto. Apesar de ter dormido por tanto tempo, Vaan se sentia drenado, e ele precisou fazer esforço para se levantar.

Caminhando para a cozinha ainda tonto, ele deu de cara com Reed, que estava sentado à mesa em puro silêncio enquanto olhava para o relógio na parede. O barulho do humano o fez se assustar um pouco, e então seus olhos se encontraram.

“V-vaan?! Desde quando você tá acordado?”

“Já faz alguns minutos.” — ele coçou os olhos — “Tá fazendo o quê sentado aí com essa cara de tacho?”

“Bem, eu tava esperando você acordar. Tava tão fofinho dormindo que me deu pena de te acordar, hehe.”

“Lá ele… Bem que eu queria ter acordado antes, porque dormi mal pra caralho.” — Vaan arrastou uma cadeira ao lado para se sentar.

“Como assim?...” — as palavras de Vaan o fizeram estremecer de medo. Será que ele se lembrava? Era o fim.

“Eu tô todo dolorido, principalmente na garganta. Acho que foi alguma coisa na comida, porque tô sentindo algo ruim na barriga e ainda por cima acordei com um gosto ruim na boca.”

“Ufa”, Reed pensou. A situação estava favorável para o gato. Ele não era um bom mentiroso, mas poderia facilmente inventar uma desculpa. E foi isso que fez.

“Eu devia ter perguntado se você tinha alguma alergia antes! Me desculpe, mestre Vaan!” — Reed juntou suas mãos como se tivesse implorando, seu rabo a balançar. A mentira não foi tão boa como ele imaginou que seria em sua cabeça, mas a atuação dele foi passável.

“Isso também foi culpa minha, relaxa.”

Vaan ouviu alto e claro como o gato o chamou de mestre. Normalmente ele faria um comentário sobre aquilo, mas por algum motivo estava começando a gostar de ser chamado assim. Reed também notou que o humano não reclamou de ser chamado daquela forma, e levou aquilo como um sinal de que podia o chamar daquela forma. Ele se sentiu aliviado. Para ele, que ainda era um gato, se referir a seu novo amigo por aquele nome parecia mais natural. Também significava que Vaan estava começando a o ver como seu animal de estimação, e logo ele estaria se esfregando nele, lambendo ele, abraçando ele, sendo acariciado por ele sem precisar fazer algo horrível como o que fez naquele dia.

“Cara, você tá babando...”

“!” — limpando a boca com o braço, Reed se desculpou, mudando o assunto para afastar aqueles pensamentos obscenos. 

“A-amanhã é o grande dia, né? Tá preparado?”

“Eu não diria que estou, mas fazer o quê. Eu não quero ficar preso nessa casa o dia todo pelo resto da minha vida. Nem me importo mais se me pegarem, não tenho nada a perder mesmo…”

“Não fica assim, Vaan… Eu não vou deixar ninguém fazer mal a você, meus planos são à prova de falhas! Além disso, nós somos amigos agora, não é? Você tem algo a perder se for pego.”

Um meio-sorriso surgiu no rosto de Vaan. Não fazia sequer dois dias que os dois se conheceram, mas o que ele disse não era mentira. Afinal, foi Reed que o abrigou em casa sem nem saber quem ele era. O gato era a única pessoa em que ele podia confiar naquele mundo estranho e também seu único amigo. A situação ainda era preocupante? Claro. Mas as palavras de Reed o animaram um pouco.

O Último Humano do Velho MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora