Capítulo 10 - Na Cozinha

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— P-por favor, sem brigas! Além do mais, ele estava na sua frente, senhor, então não fure a fila... — disse Tsavo, sua figura grande intimidando um cliente apressado e o colocando em seu lugar.

Ele suspirou. Vaan e principalmente Reed haviam o avisado sobre o quão movimentadas as coisas eram na padaria, mas mesmo depois de ter experienciado o que disseram com os próprios olhos na tarde anterior, ele subestimou a pressão que iria receber enquanto estivesse no balcão.

Não só eram os clientes mais agressivos e apressados comparados aos que atendeu durante a curta duração de seu emprego anterior, ele se sentia constantemente sendo julgado pelos vários pares de olhos dentro da padaria. Mas conforme suas mãos trêmulas passavam sacolas e trocados, ele respondia aqueles olhares com sorrisos e obrigados, não se deixando ser derrotado pelo medo e ansiedade.

Com o passar do tempo, suas mãos tremiam menos e ele se sentia mais confiante, mostrando menos traços de timidez e se tornando mais assertivo, agora aparentando ter mais controle sobre o caixa.

Conforme atendia os clientes, as portas do fundo se abriram e Reed voltou com mais uma fornada de pães, brevemente sorrindo para os clientes enquanto Tsavo o ajudava a encher as vitrines.

Cada vez que voltava com mais fornadas de pães, Reed se surpreendia com a evolução gradual que notava na postura de seu amigo. Ele olhou para trás uma última vez antes de voltar para a cozinha. Eles realmente fizeram a escolha certa em trazer Tsavo para a padaria.


***


Com todas as janelas e portas fechadas, os três se reuniram na frente, Vaan e Tsavo sentados à uma mesa esperando a chegada do almoço enquanto Reed se ocupava no caixa.

— Ha... Ahaha!... Hahaha! Foi mais que a manhã e a tarde de ontem combinadas! Precisamos de mais! Mais! Já tenho até mais algumas ideias de como lucrar ainda mais, hihi... — disse Reed para si mesmo, pupilas dilatadas e cauda balançando enquanto contava as notas nas mãos.

Em resposta ao que via em sua frente, Tsavo virou o rosto com um meio-sorriso forçado para Vaan, escondendo a boca com a mão e sussurrando:

— Nunca vi ele assim... Devo me preocupar?

— Também me assustei da primeira vez, mas com o tempo você se acostuma com o lado ganancioso desse gato. Mas mudando de assunto, como foi lá na frente?

— Hah. Bem, quando vi aquele tanto de gente entrando logo quando abrimos eu quase me mijei... Principalmente com todos me olhando. Mas não foi tão ruim, acho que peguei o jeito!

— Boa, sabia que você ia conseguir. — Ele levantou a mão, esperando um toca aqui em resposta. Tsavo demorou um pouco a entender o gesto, mas finalmente o respondeu, apesar de um pouco desajeitado. Vaan continuou. — Se eu pudesse, até te ajudaria. Mas sabe como é, né.

Tsavo corou, um pouco envergonhado. Receber aquele tipo de resposta de Vaan nunca falhava em o animar, mas também nunca falhava em criar fagulhas de pensamentos sugestivos que ele realmente não queria ter em momentos como aquele.

— Assim você me deixa sem jeito, Vaan... Ou melhor, M-mestre.

Vaan soltou uma risada fraca, evitando o olhar dele. Ele já estava acostumado com Reed o referindo daquela forma, mas com Tsavo as coisas eram diferentes, e por uma razão que ele não gostava nem um pouco: o efeito que a palavra causava nele. Aquilo não acontecia em todas as vezes que a ouvia, mas era como se seu corpo tivesse começado a associar aquela palavra a alguma forma de prazer, fazendo seu coração bater mais forte em antecipação. E naquele momento, com Tsavo o chamando de mestre, ele passava a olhar para ele de forma diferente, notando o quão fofa era a expressão em seu rosto quando sorria ou no pior dos casos, a forma com que o "rabo" dele tremia ao andar, imaginando as várias coisas que poderia fazer com aquela parte.

O Último Humano do Velho MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora