Um Humano e seu Gato

146 12 24
                                    

Conforme Reed guiava a lambreta através da cidade à procura de ruas mais esvaziadas, Vaan cozinhava dentro das roupas pesadas que estava usando. Ele tinha subestimado o calor do meio-dia e Reed não tardou em notar o desconforto de seu mestre.

"Aguenta firme, Vaan, eu vou fazer meu melhor pra gente chegar logo em casa!"

Exausto, ele simplesmente acenou com a cabeça e em um gesto fútil, tentou limpar o suor da testa protegida pelo capacete.

Um sinal de trânsito logo os obrigou a parar, e um brilho em um canto de sua visão chamou a atenção de Reed. A luz vinha do painel da moto, e enquanto um frio estremecedor percorreu o corpo dele, Reed percebeu seu erro fatal: com todo o planejamento e excitação para o dia de hoje, ele esquecera de reabastecer o combustível.

Ele engoliu em seco, e relutantemente passou a triste notícia a seu mestre.

"V-vaan... Vamos supor que a moto tá quase sem gasolina. Qual seria a sua rea-AI! Aiee!"

"Eu não tô acreditando..." — ele sussurrou, suor escorrendo pela bochecha conforme sua mão agarrava com força a cauda de Reed — "C-como você esquece uma coisa dessas?! Eu tô morrendo aqui e a gente ainda tem que ir ao posto? Se eu tirar o capacete, eu tô ferrado! Como eles vão me deixar entrar lá?"

"Aii! M-me desculpa, mestre! É realmente minha culpa, mas por favor, solta meu rabo! Tá todo mundo olhando..."

Vaan se estremeceu, seus olhos escaneando os arredores. A pequena crise de ansiedade havia chamado a atenção de quase todos, e uma tontura rodopiou por seu corpo conforme ele se lembrava de sua assustadora condição naquele mundo estranho.

Fazendo o seu melhor para não desmaiar, Vaan suspirou profundamente, gentilmente livrando o aperto da cauda do amigo e dando leves tapas no lugar machucado. — "Foi um acidente... Cuidem de suas vidas..."

"Eu entendo o seu medo, mas não precisa se preocupar. Meus planos são infalíveis. Bem, a maioria deles são..."

Vaan suspirou. A única coisa que ele podia fazer era dizer a si mesmo que nada de mal iria acontecer.

...

A brisa arrancava as folhas secas acima que dançavam conforme faziam seus trajetos em direção ao chão. Ele estava sentado em um banco de uma praça qualquer. Reed o havia deixado naquele lugar enquanto abastecia a lambreta em um posto não tão longe. Para ele, no entanto, até um centímetro se tornava quilômetros de distância. Aquela era a primeira vez que ele estava sozinho no exterior do novo mundo e seu medo não podia aumentar mais.

Apesar da brisa e da sombra projetada pela árvore, Vaan ainda estava completamente coberto por roupas da cabeça aos pés, e remover o capacete era impensável. E o pior, a mistura de sua aparência com o cheiro "exótico" que ele aparentemente exalava chamou a atenção de muitos olhos e focinhos. Felizmente sua vestimenta era uma faca de dois gumes. Ninguém queria se aproximar de alguém vestido daquele jeito. Ninguém exceto por ela.

"Ferrou..."

O som de folhas esmagadas ecoava pelo parque conforme uma figura se aproximava dele. Essa figura ficava cada vez maior, e ao chegar em sua frente, ela facilmente ultrapassava os dois metros de altura.

Levantando a cabeça o máximo que pôde, Vaan conseguiu distinguir listras negras percorrendo uma pelagem flamejante. Era uma tigresa. E uma tigresa bastante trincada. A julgar pela vestimenta, ela parecia ser uma guarda do parque.

Um silêncio cortante se sucedeu até ser quebrado pela estranha figura.

"... Boa tarde, senhor. Poderia me dizer o que o senhor tá fazendo vestido desse jeito em pleno verão? Ainda mais em um calor desses? Por acaso é algum tipo de lagarto? Hmm, mas não tô vendo cauda nenhuma. A não ser que você seja uma lagartixa que perdeu o rabo, haha." — a curta risada deu lugar a uma expressão severa em seu rosto.

O Último Humano do Velho MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora