Meredith
Sonhei acordada com Addison.
É errado, sei que é. Pensar tanto em uma mulher que não está disponível nunca é bom.
A maneira que disse pode ser errada, já que Addison é solteira, só que no fundo sei que dificilmente ela ficaria com alguma mulher que invade o seu pouco espaço.
Devo dizer que me assustei ao acordar em sua cama, até mesmo me senti embaraçada já que nem lembro o momento exato em que dormi. Não quero abusar da paciência dela, e rapidamente saí do seu quarto.
Nesse momento estou trabalhando, e não vi Addison no período da manhã e nem no início da tarde.
Me acostumei a não vê-la andando pela casa, e sei que Addison fica isolada na maior parte do tempo.
Enquanto caminhava em direção a um dos cômodos, percebi Addison vindo na direção oposta.
Meu coração acelerou, não me perguntem o porquê. Estou parecendo uma menina apaixonada, e isso não é normal para uma mulher que nem eu.
— Precisa de algo? — sorri, quando nos cruzamos.
Pareço uma idiota. É, eu sei.
— Que não me faça perguntas toda hora.
Consegue ou é subestimar demais sua inteligência?Sou uma imbecil se achei que ela iria me tratar bem depois da última noite.
Você merece, Meredith. Sua ingenuidade me espanta.
— Eu só perguntei…
— Não pergunte! Qual o seu problema com perguntas?
— Por que me trata assim? O que eu te fiz? — retruquei.
— Você é irritante, Meredith. É isso que faz.
Não… nenhuma mulher pode ser tão fria e amargurada como Addison, isso está fugindo do controle.
— E você é uma… babaca!
Ops!
Vi claramente quando a mulher estreitou os olhos e mais parecia um animal pronto para dar o bote em sua presa.
— O que disse? Acho que não ouvi bem. — deu um passo, ficando a centímetros do meu corpo, mas se ela acha que ficarei intimidada, está completamente enganada. Sou mulher o suficiente para bater de frente com qualquer mulher que seja.
— Não sei ao certo se tem problemas de audição, mas vou repetir calmamente. — tomei fôlego. — Você é uma ba-ba-ca. — a última palavra disse pausadamente, para que não houvesse erro de interpretação. — Ouviu bem ou vou precisar escrever ou desenhar? — complementei, dessa vez tirando sarro, tal como ela fez em algumas oportunidades comigo.
Addison realmente não acreditou que eu havia falado algo assim, seu rosto demonstrava isso, mas se antes ela parecia com raiva, agora então não consigo nem descrever, já que nunca a vi desse jeito.
Pela primeira vez senti medo.
— Acho que não dá valor ao seu emprego. Pelo visto quer ser demitida agora, não é?
Confesso que por alguns segundos pensei em me desculpar, mas quer saber: dane-se! Não vou ser tratada que nem um animal!
— Se quer me demitir, me demita, mas faça isso agora! — falei em alto e bom som. — Não preciso ficar aqui só porque paga muito bem! Não sou seu saco de pancadas!
— Olha a boca, Meredith…
— Espera! Já que vai demitir, você vai ouvir algumas coisas antes. — respirei, tomando ar. — Você deveria dar mais atenção ao seu filho, ao invés de ficar enchendo o saco das pessoas que te cercam! Parece que não, mas elas querem te ajudar, e não são obrigadas a conviver com seu mau humor diário. Você é muito egocêntrica, e tenho minhas dúvidas se ama alguém, ou até mesmo a si própria. Por que não pega essa raiva toda e a transforma em amor e dá para seu filho, hein? É pedir muito?! Se a sua intenção é morrer sozinha, algo me diz que está no caminho certo, já que está parecendo aqueles filhas da puta egoístas que me acostumei a notar ao longo da vida, e sabe de uma coisa?! No fim eles têm duas saídas: ou morrem sozinhos ou por algum milagre conseguem se reerguer, o que acho praticamente impossível no seu caso do jeito que você está vivendo.
Não me recordo de ter falado algo com tanto ódio, só que eu estava possessa. Não sei o que me deu.
Addison me encarou com estranheza, e a surpresa que presenciei em sua face não era normal. Apesar de ter falado isso tudo de uma vez, me arrependi no segundo que terminei a frase, já que eu poderia ser demitida por justa causa.
Com coisa que faria diferença…
— Vou relevar suas palavras. — voltou sua face ao normal, como se nada tivesse acontecido.
— Como é?
Ela não pode estar falando sério…
— É isso mesmo que ouviu. Vou relevar porque está na TPM. — falou como se fosse uma conversa normal.
— Noooossa! A poderosa Addison sabe quando uma mulher está de TPM? Isso sim é chocante! — debochei, ainda possessa.
Viu, sou tão controversa que disse que havia ma arrependido, mas aqui estou debochando da mulher novamente.
— Sim. Minha mulher ficava insuportável nesses dias. Como você está agora. — sorriu, e aquilo foi errado, já que foi um sorriso tão bonito, mas ao mesmo tempo tão sofrido e melancólico. — E sim, eu mereço ouvir tudo o que falou para mim.
— Isso só pode ser brincadeira. Você não vai me demitir?
— Do tanto que fala essa palavra me parece que deseja isso.
— Não. — pontuei rapidamente. — Só estou dizendo que te ofendi, e ainda estou irritada com você. Muito.
— Isso vai passar.
— Não vai! — retruquei.
— Não posso fazer nada a respeito. Não vou mudar meu jeito de ser.
— E nem eu o meu!
Estava boa em responder Addison.
— Pois continue assim. Não me importo. Pode não parecer, mas gosto da sua sinceridade. — falou a última frase já de costas, saindo da minha presença.
O que acaba de acontecer aqui? Por que essa mulher é tão controversa?
***
Addison
Não, eu não demitiria Meredith por ser verdadeira com suas palavras, eu só queria que ela não enxergasse tanto de mim.
Ninguém tem culpa dos meus dias de merda, e descontar nas pessoas não me faz bem de maneira alguma.
Nunca contei a ninguém, mas já consultei um psicólogo, por três meses se for dizer ao pé da letra. Pensei que me ajudaria, e por um tempo até surtiu efeito.
Mas depois da falsa sensação de ajuda, tudo começou a desabar, e quanto mais o tempo passava, menos eu aceitava o fato de ter perdido minha filha, e por isso acabei abandonando minhas consultas.
Fiz uma escolha naquela época, só que poderia muito bem estar melhor nos dias atuais.
O meu problema é a rebeldia. Sim, pareço uma jovem rebelde, e faço tudo ao contrário. Eu segui as dicas do meu psicólogo, só que ao contrário.
Quando ele dizia para eu sair, me isolava.
Quando falava para me divertir, me trancava no quarto.
Quando mostrava que era necessário conhecer pessoas novas, me perdia nas lembranças do passado.
Não tem como ajudar uma pessoa que não quer ser ajudada. Você acaba perdendo tempo, e fazendo o outro alguém perder o tempo dele. Era assim que eu me sentia, é assim que eu me sinto atualmente com várias coisas.
Por mais que pensem que sou uma mulher complicada, que faz questão de não ter ninguém por perto, sei que a maioria entende que cada pessoa sente sua dor de um jeito, e é isso que difere nossos problemas. O que eu ainda não sei é como farei para conseguir ser uma mulher melhor para meu filho e para as pessoas a minha volta. Isso soa impossível nesse momento.
***
Meredith Grey grandona sem medo.
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Broken Heart - Meddison
RomanceCom qual olhar você encararia a vida se perdesse sua esposa e filha em um acidente de carro? Addison Montgomery é uma mulher marcada por uma das piores dores do mundo: a dor de enterrar um filho. Após a grande tragédia em sua família, ela se fechou...