Choque de realidade

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“Um amigo verdadeiro aparece na hora certa, não com palavras suaves, mas sim com a verdade que não temos coragem de ouvir...”

Addison

Os dias passaram e volta e meia discutia com Meredith.

Ambas estávamos no limite, e eu não ajudava em nada, só que dessa vez quem estava em minha frente era outra pessoa.

— Veio jogar alguma coisa na minha cara também? Pode falar, já me acostumei.

Encarei Mark, que me analisava de cima a baixo.

— No fundo eu sei o que está sentindo.

— Sabe mesmo? — falei com o tom de deboche.

— Sim. Você está frustrada, e no começo não entendi bem. Sou seu amigo, e por mais que não pareça, te conheço melhor do que pensa.

— E qual o meu problema? — o desafiei.

— Você quer se recuperar, mas não consegue. É orgulhosa demais para pedir ajuda, não consegue fazer exercício algum, e isso te mata por dentro. Acho até que tenta fazê-los quando ninguém está por perto, mas desanima rápido porque você tem a necessidade de ver o resultado instantaneamente. Desde que te conheci notei que é uma mulher imediatista em tudo que faz, só que…

Parou. Eu não podia acreditar que ele sabia tanto sobre mim.

— Essa batalha da sua vida não será assim. — retomou. — Você precisa ter algo que odeia, e isso se chama paciência. Você não irá andar de um dia para o outro, isso é impossível, Addison. Também não irá melhorar seu humor amanhã, não irá ter forças nas mãos agora, não irá completar o circuito que foi proposto a você. Posso listar tantos “não irá” que a verdade é que faria você desistir de tentar agora.

A maneira com que ele falava está diferente. Nunca o vi conversando assim.

— Só você tem o poder de se recuperar. Eu, Meredith, Henry, Hanna e outras pessoas que estão te ajudando não podemos fazer nada, no fim das contas. No fundo você sabe que ninguém pode fazer absolutamente nada por você. Só você mesma.

— Mark…

— Dar forças a alguém que não quer ajuda é a pior coisa do mundo, e por isso estou dizendo que essa batalha depende mais de você. Agora, se quisesse a nossa ajuda seria diferente. Mas você se acostumou tanto a ser Addison Montgomery, a mulher que nunca precisou de ninguém, que isso está acabando com você, te matando aos poucos por dentro.

— Eu não preciso ouvir isso. Você… não sabe o quanto é difícil não conseguir fazer essas merdas de exercícios simples. — me enraiveci, porque ele tem razão. Mark está coberto de razão em tudo. Absolutamente a respeito de tudo.

— Não precisa ouvir, mas vai. — chegou mais perto e colocou uma das mãos em meu ombro. — Eu sei como é, minha amiga. Mas o que também sei é que se fosse a Addison Montgomery que conheci há anos, aquela mulher feliz que se importava com a família em primeiro lugar, tenho certeza de que faria isso não só por você, mas também pelos seus filhos. E sabe o que é pior? É que você perdeu Ella, mas há uma garota aqui que te considera mãe dela, mas está chocada por ouvir você gritando com as pessoas que querem te ajudar. Henry então… eu realmente não sei se ele terá a mãe novamente.

— O que você está dizendo é muito…

— Verídico? Grave? Sincero? Eu não me importo com o que irá pensar sobre mim após ouvir tudo isso, Addison. Se para melhorar você precisa me detestar, que seja! Meredith é boa demais com você. Preste bastante atenção… — sua face chegou bem perto da minha. — Se for para agir desse modo, não enfrentando suas batalhas de frente, eu vou te dizer a verdade agora: você não a merece!

Ficamos por alguns segundos nos encarando, mas voz alguma saia da minha boca pra respondê-lo. Falaria o quê?!

— Ela te recuperou. — seu indicador tocou forte em meu peito, fazendo voltar minhas atenções a ele. — Aquela mulher que está na porra daquela cozinha indo de um lado para o outro, correndo atrás de outros fisioterapeutas, ligando para psicólogos para tratar dos seus funcionários que entraram em choque, cuidando das crianças, chorando todos os dias por não conseguir te ajudar, lidando com o fato de que o pai de Hanna morreu por mexer com coisas erradas, se culpando por ter sido torturada porque ela simplesmente trabalha para você… sabe, essa mulher está fazendo tudo sozinha! TUDO! E sabe o que você está fazendo? NADA! — balançou a cabeça, contrariado. — Quer dizer, engano meu, você está sim, Addison. Está fazendo a porra de tudo ao contrário, a levando ao limite e acabando com Meredith! É isso mesmo que quer? Quer ser um fardo a mais para ela carregar? Porque na minha opinião, não duvido nada que ela consiga, mas e se não? Como vai dormir todas as noites sabendo que a mulher que te ama não deu conta de suportar suas birras? E, antes de falar qualquer coisa, ninguém me disse que ela te amava, eu só preciso observar os olhos dela quando estão por perto que percebo. Simples, ?

Comecei a tremer, e logo depois caí no choro.

Eu não esperava esse choque de realidade, e nem sei o que dizer. Sou fraca por não conseguir ao menos tentar mais vezes, e desisto com uma facilidade tremenda.

— Não vou passar a mão em sua cabeça. Você tem uma escolha, e acho bom se decidir rápido, pois o tempo está passando, e se não tomar uma atitude, os danos serão irreversíveis. Pare de viver no passado e se preocupe com o presente, senão, minha amiga… você irá se arrepender do futuro que te aguarda.

***

Meredith

Não sei o que Addison e Mark conversaram alguns dias atrás, mas nos três dias seguintes Addison se esforçou para fazer os exercícios, mas a partir do quarto dia… ela se recusou a tentar.

Eu vi o seu esforço, durante três dias percebi uma Addison compenetrada, séria, tentando fazer tudo que era proposto, mas algo a desanimou, e eu sei bem o que é: a falta de avanço!

Ela estava na mesma, e vi quando o brilho em seus olhos foi se esvaindo, dando lugar a uma grande escuridão.

Realmente não sei mais o que faço. Estou chegando ao meu limite, e me dói saber que ela está assim porque nos ajudou. Me ajudou.

***

Já que a gente não consegue falar as
verdades na cara da Addison o Mark
fala por nós. E o gostosão faz tudo.

Broken Heart - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora