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Ouço o barulho do despertador pela vigésima vez, e então decido levantar.
Está chovendo e o frio se instalou aqui em São Paulo. A vontade de ficar em casa, deitado embaixo das cobertas, é grande.
Mas preciso ir para o treino.
-Oi. -Digo.
Maria olha para o chão.
Vou até a cafeteira e preparo o café.
Poxa, ela estava acordada a mais tempo que eu, o que custava fazer o café?
Me encosto no armário e cruzo os braços, a espera do café ficar pronto.
Eu e a Maria permaneceremos assim até não sei quando.
Maria nunca pediu desculpas por seus erros. E eu não peço desculpas por erros que não cometi.
E mais uma vez ficaremos brigados porque nem um dos vai dar o braço a torcer.
Casamento recheado de imaturidade.
Tomo meu café e levanto da mesa.
-Tchau. -Beijo sua cabeça.
-Tchau, Richard. -Diz seca.
[...]
Cumprimento todos e vou para o vestiário.
-Que cara é essa? -Endrick pergunta.
-Nada demais. -Digo.
-Problemas em casa?
-Não. -Digo.
-Então o que?
-Só estou com sono.
Amarro minhas chuteiras e vou para o campo.
Eu sei que ninguém precisa saber o que está acontecendo em meu casamento, mas é muito complicado ficar guardando tudo pra mim.
Ouvimos o que o professor Abel tinha para dizer e logo iniciamos o treino.
[...]
Termino de almoçar e me despeço de todos.
Chego em casa e coloco a chave na mesinha.
-Chegou mais tarde hoje. -Diz Maria.
-Eu acabei me empolgando na conversa com o Endrick, nem vi a hora passar. E o trânsito estava lento. -Digo.
-Hum.
-Como foi sua manhã? -Pergunto.
-Chata, fiquei o tempo todo sem fazer nada aqui dentro dessa casa. -Diz.
-Poderia ter ido comigo no treino. -Digo.
-E ficar sentada nessa chuva vendo você só tocar numa bola e correr? Nunca.
A olho e subo para o quarto.
Raquel Moreira |
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Hoje eu recebi uma proposta de emprego muito boa. Em um ótimo lugar e com um salário muito bom. Só que eu não sei se devo aceitar.
Não quero deixar minha mãe aqui em Porto Alegre. E eu nem sei como ela irá reagir com isso.
Eu passei o dia todo pensando nessa proposta.
Ligo o carro e vou para minha casa.
-Oi, filha. -Sorri e me abraça.
-Oi, mãe. -Sorri no abraço.
-Tudo bem? -Pergunta.
-Tudo. E a senhora?
-Tudo bem. -Sorriu. -O que quer me contar?
-E-u? Nada.
-Eu conheço você, Quelzinha. O que aconteceu?
-Não sei se é o melhor momento.
-Claro que é. Quanto mais cedo, melhor.
-É, a senhora tem razão.
Ela me olha atenta.
-Mãe, eu recebi uma proposta de emprego.
-E é boa?
-Sim, muito.
-Muito quanto?
-É o triplo do meu salário. -Digo.
-Ah, que ótimo, filha! -Sorriu.
-É...
-Você aceitou, né?
-Eu queria falar com a senhora primeiro.
-Mas você não precisa da minha autorização, você já tem 23 anos, filha.
-Eu sei, mãe. Só que tem um problema.
-Qual?
-É em outro estado.
-Sério?
-Sim.
-Onde?
-São Paulo.
-Ah, Quel, nem é tão longe.
-Mas eu vou ficar longe da senhora, mãe.
-Raquel, você precisa voar. Você mora aqui em Porto Alegre desde que nasceu. É ótimo você sair daqui um pouco.
-Mas eu gosto daqui e gosto de ficar com a senhora.
-Você quer trabalhar lá?
-Eu quero, mas...
-Você quer, então você precisa ir. Além de ser onde você gosta, você vai ganhar melhor do que ganha aqui. Imagina você fazer as viagens que sonha. -Sorriu.
-Mãe...
-Vai, filha. Vai ser ótimo pra você. Vai conhecer pessoas novas. Aceita essa proposta, vai.
-Ok, eu irei aceitar.
-Ah, que bom. -Sorriu. -Prometo visitar você todo mês.
-Eu te amo, mãe. -Sorri e a abraço.
-Você bem que quando voltasse, poderia voltar com um genro pra mim, né?
-Desculpa, mãe, mas não. -Ri.
-Você e esse seu coração fechado pra romance. Algum dia você vai encontrar alguém que vai fazer seu coração amolecer todinho. -Sorriu.
-Nunca!
-Nunca diga nunca. -Riu e saiu.
Minha mãe está louca para ter um genro e me ver toda apaixonada... só que isso não vai acontecer.
