(NARRADORA)
Quando Any voltou à sala, encontrou apenas Joaquim sentado no mesmo lugar.
Any- Uai, Jo. Cadê o Josh? (perguntou a morena olhando para todos os lados do cômodo)
Joaquim- Ele tá lá fora. (Joaquim respondeu e se levantou, indo até a janela que dava para a rua) Olha lá!
Any acompanhou o filho e, pela janela, viu Josh sentado no meio-fio, debaixo daquela chuva horrenda, em frente à sua casa que não possuía muros.
Any- Por que ele foi lá para fora? (Any perguntou mais para si mesma do que para o filho)
Joaquim- Não sei, mas... Mãe. (Joaquim se virou para a morena com um olhar preocupado) Por que você trouxe eles pra cá?
Any- Olha a chuva que tá caindo, filho. Eles moram debaixo do Viaduto Oeste, perto da rodoviária. Imagina enfrentar uma chuva dessas debaixo daquela cobertura de concreto.
Joaquim- Mas existe um monte de gente que mora assim, mãe, e você nunca trouxe nenhum deles pra cá. Por que logo agora? (questionou Bernardo que, por mais que tentasse, não estava entendendo aquela caridade repentina de Any)
Any- Eu apenas resolvi fazer uma boa ação, Jo. Só isso.
Joaquim- E desde quando você faz boas ações, mãe?
Any- Desde agora, ué!
Any, para evitar novos questionamentos do filho, apressou-se em sair da casa e ir até Josh. Para isso, apanhou um dos guarda-chuvas que estavam dispostos dentro de um cesto comprido próximo à porta da sala e saiu debaixo da chuva, encolhendo os braços por conta do vento que logo a abraçou.
Josh estava sentado ali, naquele meio-fio pintado de branco, há tempo suficiente para não se importar com a chuva mais. Na verdade, preferia assim, pois, com a torrente de água que caía, seria difícil perceber as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. O motivo de seu choro era confuso. A princípio, chorou de angústia: que vida amarga aquela que tinha. Depois, evoluiu para um choro ansioso: era a primeira vez, em 4 anos, que dormiria em uma cama. Em seguida, chorou um choro de alegria: anos fazendo a mesma oração, pedindo a Deus que o ajudasse a sair da rua, e, de repente, quando menos esperou, alguém veio e o levou para casa. Teria o socorro chegado finalmente?
De repente, mesmo que tivesse o rosto apoiado nos joelhos, pois estava sentado e encolhido, tentando esconder seu semblante choroso, Josh percebeu a presença de alguém. Era Any. E ele soube apenas porque, de canto de olho, viu seu salto alto.
Any- Você vai ficar doente se ficar sentado aí, debaixo dessa chuva. (Any disse em pé ao lado de Josh. Ela o olhava por cima, vendo-o de cabeça baixa)
Um silêncio seguiu as palavras de Amy e perdurou por alguns segundos, até que a morena disse mais:
Any- Vem, vamos entrar.
Mais um silêncio e, então, sem dizer nada, Josh se levantou e quis acompanhar Any até o interior da casa sem entrar debaixo do guarda-chuva, mas ela, num simples gesto, aproximou-se dele e o cobriu.
Josh- Eu vi que tem um banheiro aqui fora. Eu posso tomar banho nele. (Josh disse parando diante da porta de entrada)
Any- A ducha do banheiro daqui de fora não esquenta. (disse Any, deixando o guarda-chuva encharcado de lado, no chão da varanda)
Josh- Eu não me importo. (o jovem rapaz afirmou olhando para baixo, para as próprias mãos)
Any estava confusa. De irritado, Josh havia passado para cabisbaixo e retraído. Agora, ao contrário de mais cedo, sua voz saía baixa e surpreendentemente calma.
Any- Josh. (Any chamou pelo rapaz e esperou que ele a olhasse, mas ele não o fez) Pode tomar banho lá dentro.
Josh- Eu não quero sujar sua casa. (Josh afirmou, ainda sem olhar para a morena)
Any riu abafado. A diferença entre Luca e Josh era tão discrepante. Enquanto o primeiro era extrovertido, curioso e alegre, o segundo era quieto e calado. Talvez fosse a diferença de idade ou apenas uma questão de personalidade.
Any- Eu não me incomodo com isso. (assegurou Any)
Pouco a pouco, Josh ergueu o olhar, até que encontrou os olhos castanhos de Any, que continuou:
Any- Tá bom? Agora, vem comigo. Vou te mostrar onde fica o banheiro.
Any abriu a porta e entrou, enquanto Josh, dando um passo com muito custo, murmurou:
Josh- Com licença.
Ele já havia chegado até aquela porta anteriormente, mas, antes, ainda estava tão irritado com o soco e o chute que levou que sequer pensou em bons modos.
Any, por sua vez, apenas sorriu de lado diante daquelas palavras e fechou a porta assim que Josh entrou.
Então ambos seguiram para o mesmo corredor onde, antes, Any havia estado com Luca e pararam diante de um banheiro próximo à lavanderia.
Any- Eu consegui essa camisa e essa bermuda... (Amy começou a dizer apontando para a muda de roupa que estava sobre a pia) É do meu irmão. Ele esqueceu aqui e... Bem, eu acho que vai te servir. Além disso, eu coloquei um sabonete, uma bucha e um shampoo aqui para você e...
Any olhou para os pés de Josh e percebeu que, ao contrário de Luca, que usava um chinelinho, o jovem rapaz usava um tênis desgastado e sem meias,
Any- Espere aí! Eu vou pegar um chinelo para você.
Josh deu espaço na porta e Any saiu, indo até a lavanderia, de onde voltou com um par de chinelos azuis.
Any- É tamanho 40... É do meu pai. Você calça quanto?
Josh- Quarenta e quatro. (Josh respondeu sucintamente e inexpressivo)
Any, por sua vez, ergueu as sobrancelhas, ligeiramente surpresa:
Any- Quarenta e quatro? Uau! (diu sozinha) Quarenta vai ser o maior número que eu vou ter...
Josh Não tem problema. (disse Josh, que olhou para seus próprios pés logo em seguida e completou:) Esse tênis que eu tô usando é tamanho 40.
Seus dedos estavam espremidos dentro do calçado, tão espremidos que Josh já quase nem os sentia, pois os calos de dolorosos passaram a ser amortecedores.
Any- Bom, nesse caso...
Any entregou o par de chinelos a Josh.
Se, por um lado, Josh se sentia deslocado com toda aquela situação, Any também sentia uma ponta de vergonha. Na realidade, estava sem graça depois de ter sido a causa do hematoma roxo no rosto do rapaz e da dor no estômago que ele ainda sentia por causa do chute que havia levado.
Any- Qualquer coisa é só me chamar. (Any afirmou, prestativa)
Josh, no entanto, apenas assentiu e entrou no banheiro, fechando a porta logo em seguida. Então, sozinho lá dentro, olhou para seu reflexo no espelho, mas não teve coragem de sustentar o olhar por muito tempo, pois tinha vergonha de sua aparência suja e desbotada. Quem poderia dizer que ele tinha apenas 23 anos?
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Autora da obra oficial: anac_ssilva
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O Malabarista✓
Romance(Adaptação) Josh é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Luca, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o se...