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(Josh Beauchamp)

Minha avó estreitou os olhos quando me viu entrar em sua casa com Luca. Eu não disse nada e nem foi preciso. Aparentemente, o meu semblante denunciava tudo.

Valéria- Aconteceu alguma coisa, Josh? (ela me perguntou)

Olhei de relance para Luca. Eu havia inventado para ele a história de que íamos à casa da minha avó porque eu tinha prometido à ela que iríamos fazê-la uma visita. Era uma mentira grotesca, mas foi a única coisa que eu encontrei para deixá-lo fora da situação. Na verdade, naquele momento, foi difícil saber o porquê de eu tê-lo levado comigo.

Eu estava confuso e... chateado.

Por sorte, minha avó notou minha resistência em falar a verdade diante de Luca. Então, procurando deixar-nos a sós, disse ao meu irmão que havia acabado de preparar os seus típicos biscoitos de nata. Ela sabia que Luca não resistiria. E foi dito e feito. Ele imediatamente deixou a sala, correndo para a cozinha, prometendo que iria comer apenas alguns.

Eu teria rido do fato de que sua promessa não vingaria e que ele, provavelmente, esvaziaria a forma, mas rir não era bem o que eu desejava fazer naquele momento.

Valéria- Me conte, Joshzinho. O que aconteceu? Você tá com um cara...

Minha avó me puxou para o sofá, onde nos sentamos.

Eu- Ny e eu...

Esfreguei minhas mãos uma na outra, envergonhado.

Eu- Nos desentendemos.

Minha avó interrompeu o carinho que ela fazia nas minhas costas e me fitou com um semblante sério, mas ainda simpático.

Valéria- Por isso que você veio para cá?

Eu- Sim. Eu precisava ficar um pouco sozinho e, se eu ficasse em casa, não ia dar...

Valéria- Mas o que aconteceu para que vocês se desentendessem?

Eu- Ah, vó. É que...eu não consigo me encaixar no mundo dela. Por mais que eu me esforce, eu nunca consigo ser o que ela quer que eu seja.

Valéria- Joshzinho, você não acha que está havendo algum mal-entendido? Eu tenho certeza que a Ny te aceita do jeito que você é.

Eu- É o que ela sempre diz, mas ela está sempre querendo me mudar. Como isso pode ser me aceitar como eu sou?

Valéria- Em que sentido ela quer que você mude?

Eu- Em todos. Se nós vamos sair e eu coloco uma determinada camisa, ela dá um jeito de me fazer trocar por outra que ela acha melhor. Se eu quero comprar um shampoo que eu achei que tinha um cheiro bom, ela diz que aquele é ruim e que vai me dar caspas e me faz escolher outro. Tudo tem que ser do jeito dela, senão não está bom. Eu nunca faço nada certo. A senhora viu o que aconteceu no Natal. Só porque eu esqueci algumas coisas, ela brigou comigo e não quis me ouvir quando eu tentei conversar. Eu sei que eu errei naquele dia, mas... Poxa!

Valéria- E você já conversou com ela sobre isso?

Eu- Não...

Valéria- Isso nunca poderá se resolver se vocês não conversarem, querido. Talvez, ela nem saiba que você se incomoda quando ela te faz trocar de camisa ou...

Eu- O problema nem é esse, vó. Até porque eu reconheço que, se dependesse só de mim, eu ia usar sempre a mesma roupa, porque eu não ligo para essas coisas. Só que... Onde fica a minha liberdade de escolha se, no final, eu sempre acabo fazendo tudo do jeito dela?

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