Capítulo 1

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Bem-vindos ao 230;


Jungkook teve um colapso, ou quase isso. Certo que sua pressão deve ter baixado, pois, por alguns segundos viu tudo rodar e, sinceramente, essa nem foi a pior das sensações, teve que engolir um bolo de vomito pra dentro porque não podia despejar todo seu nervosismo justo agora, que precisava correr e procurar Taehyung, o desaparecido. A coisinha não estava em lugar nenhum! E quando Jungkook percebeu que sair pela casa chamando o nome do filho, procurando nos armários, atrás das portas e até mesmo nos cestos de roupas dos banheiros, não iria resolver porra nenhuma, notou a porta da sala encostada. Teve um treco! Quais eram as possibilidades daquela peste ter alcançado a tranca da fechadura? Tinha certeza de que o garotinho, que mal chegava na altura de seu joelho, conseguiria abrir a porta.

E então o vislumbre de sua irresponsabilidade passou por seus olhos: a imagem muito vívida de seu corpo enorme entrando no apartamento. Com o braço esquerdo extremamente avermelhado, ao que as alças de tecido das sacolas ecológicas do mercadinho apertavam por estarem carregadas de mil categorias de vegetais e legumes, e ainda com a mão livre segurando a semelhante de Taehyung que andava de um jeito duvidoso com aquele crocs de sapinho, jurou que chutar a porta com o pé daria um bom resultado, que nada.

O alfa sentiu o rosto formigar e o nome "Taehyung" saiu de um jeito extremamente choroso de sua garganta, ao que corria para fora da casa, nem ligando para a sopinha no fogo e muito menos para qualquer calçado que deveria enfiar no pé. Inclusive, estava sem camisa, devido ao aquecedor, e todo seu corpo ardeu assim que o vento frio do corredor banhou-lhe completamente. Da porta para fora estava congelando e isso só deixou o pai mais desesperado! Taehyung iria virar um picolé! Seu bebezinho, um picolé! Alarmou os vizinhos, que abriram as portas assustados, ouvindo a voz do famoso pai gostosão do 230 gritar desesperado o nome do filho. E aquela imagem seria engraçada, se a voz esganiçada não soasse extremamente agonizada, porque era um alfa realmente musculoso — usando das palavras das filhas da vizinha Kim do apartamento 232, o moreno parecia uma grande geladeira de inox eletrolux com duas portas e duas gavetas —, com uma enorme tatuagem de dragão que descia pelas costas tensionadas e repletas de (adivinha) mais músculos e os dois braços fechados com mais e mais desenhos.

Jungkook quase morreu com a ideia do alfinha ter tentado descer as escadas sozinho, jurou que suas pernas moles, com o puro terror, virariam gelatinas, e, completamente fracas, não sustentariam seu corpo de maneira segura o suficiente para encontrar Taehyung estirado no chão do próximo andar. Mas lá foi ele, o coração batendo doído no peito, o rosto molhado de lágrimas, todo vermelho, nariz escorrendo, pelado da cintura pra cima, o pé doendo devido o chão gelado e o cabelo todo bagunçado por esfregar a cabeça mais de vinte vezes naquela situação de desespero.

Desceu todos os lances de escadas, acabando lá no térreo, onde alguns moradores que chegavam do serviço encaravam-no assustados, o síndico o interceptando, tentando acalmar Jungkook, preocupado, alegando que Taehyung nem sequer havia pisado os pequenos pezinhos na recepção. Jungkook chorou mais alto, um som agudo escapava de sua garganta, agachou-se ali no chão, as mãos cobrindo o rosto, o nome do pirralho escapando várias vezes por sua boca. A única opção que passou por sua cabeça foi a mais óbvia: haviam sequestrado o neném! E isso sempre foi um medo que invadia os pesadelos do tatuado, porque Taehyung era o pirralho mais lindo que já vira na vida, com dois olhos brilhantes e amorosos, uma franjinha que ficava um pouco acima de sua testa branquinha e um sorriso tão lindo quanto o amanhecer. Levaram Taehyung, porque ele era lindo demais e isso deixou Jungkook completamente doente, foram três segundos para que o homem começasse a hiperventilar e o velho síndico se desesperasse, tentando acudir de alguma forma, abanando aquela caderneta velha cheia de ácaros contra o morador 3 vezes maior que si, que começou a sentir a rinite automaticamente arder toda a região de seus olhos.

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