Capítulo 8

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Um sábado congelante com pintinhos e amaciantes;

Jungkook não queria acreditar e por isso permaneceu com os olhos bem fechados a fim de se convencer de que aquela pressão em sua barriga, bem como aquele chacoalhão insistente contra seus ombros, não era nada além de um pesadelo. Com toda a certeza era apenas um demônio obsessor muito dos insistentes que estava ali, tirando-o de seu sono sagrado, enquanto apertava-lhe a bochecha e falava, quase gritando, uma frase de palavras repetitivas, que ouvia bem no fundo de seu subconsciente, num eco distante... "papai, papai, acoida papai".

Tentou ignorar, até porque já sentia os ossos doerem e a cabeça dar sinal de vida com uma pontada bem das dolorosas perto dos olhos, mas teve que aceitar de vez aquela infeliz situação quando o pesadelo começou a pular sobre sua barriga, fazendo-lhe perder o ar e precipitar sua matinal vontade mijar.

Abriu os olhos com muito pesar, esfregando o rosto e repetindo um bom mantra de paciência, que havia lido em um livrinho de bolso que deixava perto dos budas do estúdio, amaldiçoando a claridade que ardia sua retina - dramático, a única luz que clareava o quarto provinha do corredor, pela porta entreaberta, e sequer estava tão forte assim. Bufou entre os dedos e encarou o relógio digital que sempre mantinha junto da babá eletrônica em uma mesinha ao lado da cama. É, papai, isso aí que seus olhos inchados estão vendo, quase cinco da manhã.

-  O que foi?

Sua voz saiu tão rouca, tão fraca, tão desanimada, tão cheia de cansaço, que qualquer um sentiria dó, menos Jeon Taehyung.

Tentava ignorar seu subconsciente entristecido que o lembrava a todo momento do horário que o filhote havia caído no sono, lá pelas duas da madrugada, porque estava agitado, como se tivesse tomado cinco xícaras de café. Consequentemente, Jungkook também foi dormir tarde, todo quebrado, como um passarinho que caiu do ninho, e realmente esperava que acordassem, talvez, quem sabe, pelo menos, quando fosse dia. Caralho, o sol nem havia despontado no horizonte ainda, Taehyung estava de sacanagem com sua cara.

-  Papai! É natal!

Não, não era natal, mas era dezembro, estava frio o suficiente para sair fumacinha da boca, não sentir desconforto calçando 3 pares de meia e para tomar chocolate quente enquanto Alvin e os Esquilos apareciam na televisão, na programação natalina. A neve cairia a qualquer momento e transformaria toda aquela paisagem morta de início de inverno em um mar de branco e Jungkook não estava tão animado assim.

Mas o principal motivo daquela grande felicidade que fez com que Taehyung dormisse tão tarde e acordasse tão cedo era culpa de Yoongi e sua bocona de sacola, que, sem querer, deixou escapar que iriam montar a tão amada árvore de natal. A intenção de Jungkook não era montar no sábado, sequer queria sair de casa e enfrentar o frio de Busan só para ir comprar enfeites e pisca-piscas, iria providenciar tudo pela internet. Entretanto, o alfa ainda não havia compreendido uma lição muito valiosa do mundo dos papais: não confie nos seus planos, principalmente se você tem um Yoongi de um lado e um Taehyung do outro.

O sapinho havia ficado louquinho.

Depois daquela importantíssima informação, não havia outro assunto tão relevante quanto, porque tudo que interessava para Taehyung era o natal, o maravilhoso natal e a maravilhosa e linda árvore de natal e os presentes de natal e os enfeites de natal e os pisca-piscas de natal e os duendes de natal e o natal, o natal, o natal, o natal.

-  Amor, não é natal.

Era sim, seu alfa chato!

Se Taehyung estava falando que era, é porque era sim senhor e ninguém iria tirar isso da cabeça dele. Tentou levantar o papai da cama, puxando-o pelo pescoço, pelos braços, pelos ombros, mas, caramba, que homem pesado, sequer havia movido um músculo. Estava frustrado e seu rostinho já ostentava uma careta chateada, um bicão maior que carreiras se formando em seus lábios fininhos, enquanto era encarado por um Jungkook de rosto amassado e olhos inchados, que não estava querendo lidar com um filhote birrento naquela madrugada. Num ímpeto de desespero, puxou o girino para debaixo das cobertas e o embrulhou num mata-leão fraquinho, enquanto ouvia a gargalhada gostosa ecoar pelo quarto. Não queria saber, queria tirar uma sonequinha.

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