Capítulo 5

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Yoongi e a sandália de Abrãao;

Era quarta-feira quando Taehyung fez birra.

Jungkook estava pronto para medir o local da perfuração quando Yoongi chegou no espaço com o telefone preso entre o ombro direito e a orelha rasgada por um antigo alargador, segurando uma caixa amarelada e aparentemente pesada dos correios. Teve a honra de ver o amigo enfiado entre os joelhos musculosos de um bombadão pequeno e de cueca arriada. Engasgou com a própria saliva, enquanto segurava a risada e voltava para trás, os olhos jabuticabas de Jungkook se transformando em um par de navalhas afiadas.

Apesar da grana alta, era uma verdadeira merda ter que perfurar apadravya, além do trabalho que os clientes davam, o sócio possuía o exímio talento de aparecer nas piores horas, pois não tinha noção suficiente para entender que entrar nos estúdios sem se anunciar era coisa de gente sem educação.

O ponto era que Yoongi não estava nem aí.

Riu arrastado, a gengiva aparecendo abaixo do lábio superior, momentaneamente levantado em um sorriso frouxo, que faziam seus olhos inchados de noites mal dormidas sumirem entre as rugas das pálpebras. Era tatuado dos pés à cabeça, talvez muito mais que Jungkook, com cabelos raspados e descoloridos que estavam sempre escondidos por um boné preto, dos caros; pareceria muito estiloso caso não usasse fielmente uma sandália velha e horrorosa nos pés pálidos e finos. O body piercing podia jurar que Yoongi tinha aquele trapo encardido a muitos anos, talvez desde que Abrãao começou a calçar 43.

Acreditava piamente que qualquer dia a sandália sairia andando sozinha, reclamando do chulé de alguma frieira mal tratada.

- Tua cria 'tá dando problema pro governo, Jungkook. Vem resolver essa parada e para de ficar cheirando o saco dos outros.

Sorte que o cliente, sendo um velho conhecido do estúdio, gargalhou horrores com a piadinha debochada e desnecessária, mesmo que sustentando sempre a mesma cara amassada, com olhos minúsculos assustadores, e, no braço esquerdo, um pônei cor de rosa com chamas saindo do focinho em formato de coração, tatuado por Yoongi. Já Jungkook quis morrer, pediu licença pro alfa grandão - recebendo dois tapinhas na cabeça e um "sem problemas, te espero" que lhe alfinetou o orgulho talvez três vezes mais - descartando a luva preta de vinil antes de deixar a sala. Olhou mortalmente para o Min, tomando o telefone dos dedos esqueléticos e jurando que quando tivesse tempo arrancaria os olhos de besouro velho do rosto anêmico.

- Jungkook. Sim, o pai do Taehyung. Sim. O quê? Não é fome não? - coçou o topo do abdômen, um Yoongi muito dos curiosos olhando-o atentamente para tentar desvendar os mistérios daquela super ligação. - E sono? Ele o quê? Ômega? Quais as possibilidades dele estar delirando? O QUÊ? Jimin?

Hmm... Yoongi apertou os olhos, desconfiado. Demorou poucos segundos para criar uma teoria muito bem estruturada em sua cabeça criativa e descolorida. Taehyung não estava com fome e não estava com sono, estava apaixonado por um coleguinha ômega chamado Jimin que era malvadinho com ele. Colocou a mão no peito, fez uma careta lamentosa e se compadeceu daquele sofrimento, que conhecia muito bem, aliás. Era triste aceitar, mas o catarrento estava crescendo sem que ninguém percebesse, já haviam se passado quanto tempo? Cinco? Sete anos? Nossa! Jurava que o fralda cagada havia feito três aninhos no final do ano passado...

- Não sei o que você tá pensando e nem quero saber, mas preciso que você busque Taehyung pra mim. - voltou do mundo da lua quando Jungkook esfregou o telefone em sua cara preguiçosa, muito mal-humorado, deixando para o sócio aquela obrigação de pai. Yoongi quase xingou o mais novo, porra, não era pai do moleque e ainda tinha que limpar bunda cheia de cocô? - E pode parar de fazer essa cara azeda, aceitou ser padrinho por livre e espontânea vontade.

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