O ômega do papai;
Jimin não queria estar ali, estava cansado daquela rotina repetitiva, daquelas conversas chatas e daquele cheiro insuportável de perfumes caros e fortes. Odiava como a sala de reuniões se tornava uma sauna de aromas que lhe moíam o cérebro, destruindo toda linha de raciocínio que se forçava a ter.
Pressionou o vinco que formou entre suas sobrancelhas, e suspirou tão audivelmente que todos se calaram, subitamente, envergonhados. E quando Jimin ergueu os olhos, os demais abaixaram a cabeça, fugindo do olhar afiado de um homem pequeno, com bochechas gordas e levemente rosadas, vestindo um moletom amarelo-lima 3x maior que o necessário.
– São essas as ideias de merda que vocês têm? Vocês acham que o caralho do meu tempo vale isso?
Ergueu-se da cadeira e apoiou as mãos contra a mesa de vidro, encarando cada um dos presentes, revirando os olhos quando percebeu que aquela reunião não iria a lugar nenhum.
Fazia cerca de 10 anos que havia tomado as rédeas da empresa e, desde o início, odiava estar ali. Jimin nunca foi uma pessoa com objetivos de liderança, muito pelo contrário, apesar de prezar por sua independência artística, nunca se imaginou à frente de uma grande empresa, tendo que lidar com todas as obrigações e dores de cabeça.
Mas acabou daquela maneira, e, consequentemente, abandonou muito do que gostava de fazer e um pouco de quem era.
Jimin, na realidade, estava completamente perdido, vivendo no automático, e todos possuíam conhecimento de que aquele ômega havia deixado para trás todos seus pequenos sonhos, mas nunca ofereceram consolo, porque não haviam brechas.
Seu mundo era uma redoma solitária, da qual ninguém conseguia o alcançar, e, infelizmente, havia se habituado a isso.
🐸
Tomou o caminho de casa já de tardezinha, sempre caminhando por cerca de 20 minutos ouvindo as mesmas músicas de sempre. Quando notou, já estava no parquinho de areia localizado próximo ao condomínio. Era um local bem iluminado, algumas crianças e muitos casais ainda permaneciam ali, apesar da brisa gelada, a maioria comendo churros, pois o carrinho colorido de Namjoon estava marcando presença, todas as segundas-feiras, vendendo o doce.
Quando se aproximou da pequena fila que se formava, percebeu o mesmo homem do dia anterior, dessa vez coberto, por uma blusa de frio branca e uma calça moletom, carregando no colo um pacotinho muito bem-vestido com agasalhos de sapinho e uma touquinha verde limão, então conteve os passos.
Estavam compenetrados em uma conversa muito das sérias, o fã de sapinhos gesticulava com as pequenas mãozinhas, piscando engraçadinho, enquanto o pai ouvia atentamente, concordando e respondendo o necessário, numa careta igualmente séria, para mostrar que sim, aquilo era muito importante. Até considerou seguir caminho, mas, por algum motivo irrelevante, entrou na fila discretamente, cobrindo parcialmente o rosto com a touca do moletom, e então, mais próximo, pode entender algumas coisinhas daquele assunto — e criticou-se silenciosamente quando percebeu que nem estava com fome.
— Poique xim, papai.
— Você tem certeza disso?
— Caro que xim. A balinha de uva é mais melhor que a balinha de banana.
E Jimin não conseguiu segurar uma risadinha, porque Taehyung era adorável com aquela voz doce e rostinho sério, falando as palavras balinha e banana com uma certa dificuldade, além de um tique bonitinho que tinha de estalar a língua no céu da boca em um compasso interessante no meio da frase. Só quando conteve o riso, notou que os dois observavam-lhe, seu rosto pegou fogo, as bochechas ficaram tão rosas quanto um pêssego e então Jimin foi pego por aquele cheiro de terra molhada mais uma vez, num aconchego gostoso de sentir, mesmo que a altura e os músculos daquele alfa soassem ameaçadoras. Pôde notar alguns desenhos aleatórios que estavam gravados no pescoço tensionado, nunca havia visto pessoalmente um homem tão tatuado quanto aquele, por isso estava curioso, mesmo que preferisse se esconder em sua cor amarela.
— Ômega!
E o grito de Taehyung foi alto o suficiente para atrair a atenção de muitas pessoas, suas perninhas se agitaram para fugir do colo do pai, alarmando o alfa, que pediu, ainda em confusão estampada nos olhos castanhos, para que se acalmasse, só recebendo ainda mais resistência. Abaixou Taehyung com cuidado no chão e, assim que o pequenininho se firmou em seus crocs de sapinho, deu alguns passos rápidos até Jimin e abraçou suas pernas. Foi uma surpresa, tanto para o ômega ruivo quanto para o alfa tatuado, que trocaram olhares alarmados, numa conversa muda que não possuía sintonia alguma.
Num pingo de reação, Jimin se abaixou e encontrou o sorriso aberto de Taehyung, que fez questão de grudar suas mãozinhas nas bochechas do ômega mais velho e estalar a linguinha no céu da boca, umas quatro vezes, antes de gritar em um tom muito alto e estridente para o pai, que terminava de pagar três churros de chocolate com granulado colorido.
— Papai! É o ômega do papai!
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Conte até 10
FanfictionJungkook era um daqueles alfas assustadores, dotado de muita altura e músculos estufados, além de inúmeras tatuagens que lhe riscavam a pele. Apesar dos pesares, morava em um condomínio familiar, numa localização privilegiada da cidade e praticament...