Pai de menino;
- Filho, não tira o sapatinho.
Jungkook pediu, lê-se implorou, com o início das sobrancelhas escuras levantadas, numa expressão típica de quem já esperava uma birra daquelas. Taehyung era um bebezinho muito alternativo, odiava, com todas as letras da palavra, usar tênis, e a avó vivia comentando sobre o quão a personalidade do pequeno-alfinha era idêntica a de Jungkook quando filhotinho. O projeto de gente gostava de escolher as próprias roupinhas e sempre - sempre mesmo - acabava com o crocs de sapinho nos pés pequenos. Era uma dor de cabeça convencê-lo a usar sapatinhos fechados e bem firmes nos pezinhos, porque o pirralho podia parecer um anjo, mas possuía uma garganta potente e um choro ardido de criança endemoniada.
- Papai! - foi um gritão.
- O quê?
- Tae qué tete.
O tatuado suspirou satisfeito, agradecendo silenciosamente a Patrulha Canina por atrair toda a atenção do alfinha, um fascinado pelo desenho desde que era bebezinho. Ergueu-se do chão, coçando a nuca, suspirando lentamente ao sentir a pontada ardente nas costas, que todas as manhãs o recordava de que já não era mais tão novinho assim. Analisou se o uniforme do filho estava devidamente ajeitadinho, uma roupa que lembrava muito uma fantasia de marinheiro, e que deixava Taehyung três vezes mais adorável. Rumou para a cozinha meio travado das costas, colocando a água para esquentar enquanto terminava a lancheira do bebê e, simultaneamente, - imagine - passava a própria camiseta enrugada, em cima da mesa de jantar. Não demorou mais de cinco minutos para que as coisas de Taehyung estivessem bem ajeitadinhas e então se dedicou a terminar a própria rotina da manhã enquanto o pequenininho mamava o tete e cochilava no sofá.
Jungkook estava atrasado, a sorte era que a escolinha ficava próxima ao condomínio, o azar era estar com muita dor no coração por ter de acordar o filhotinho. O mini-biruta ficava muito fofo dormindo, com a boca toda suja de leite e com o bico da mamadeira sendo sugado lentamente, em uma chupeta improvisada; o tatuado sempre morria um pouco quando aquele amor paternal esmagava-lhe o peito. Tentou chamar o amante de sapinhos, esfregando a barriguinha estufada, sussurrando "pitchuquinho, vamos pra escolinha", como se estivesse falando com um dragão assassino que se acordasse queimar-lhe-ia de vinte maneiras diferentes - e era muito óbvio que Taehyung não iria acordar, mas Jungkook poderia alegar que havia pelo menos tentado.
Por fim, se virou nos trinta, jogou a mochila de sapinho do filho nas costas, quase morreu do coração quando lembrou que não havia tirado o ferro de passar da tomada, trocou a mamadeira por uma chupeta ortodôntica verde limão e pegou o pingo de gente no colo, ajudando-o a se acomodar confortavelmente, cobrindo-o com a jaqueta-uniforme que havia custado os olhos da cara.
Quase agradeceu aos céus quando desligou a televisão e não precisou mais ouvir a voz do Marshall, o cachorro bombeiro, que sempre estava fazendo algum trocadilho engraçadinho que não possuía graça nenhuma. Certificou-se de apagar todas as luzes antes de sair do apartamento, às seis e meia de uma manhã de terça-feira.
Foi acalentador quando percebeu que o corredor silencioso e gélido, que ecoava o barulho das chaves, iria parecer muito maior e assustador se não estivesse com um pacotinho dorminhoco nos braços. Então, como todos os dias, fechou os olhos e agradeceu ao universo por aquele presente, com o coração aquecido de amor e gratidão.
Entrou no elevador e apertou o andar do térreo, encostando a cabeça contra o moletom quentinho do filho, se desligando do universo momentaneamente para sentir o cheirinho gostoso de neném, aquele clima sonolento ainda batendo nas pálpebras inchadas e quase o impedindo de ouvir um pedido gritado para que segurasse a porta. E foi por muito pouco que não prendeu os dedos entre a divisória da porta metálica e gélida, sentindo a cabeça latejar por sair daquela bolha de soneca momentânea com um susto. Quando o ômega baixinho, com o cabelo arruivado despontando para todos os lados, entrou estabanado, lutando contra o zíper emperrado na mochila de estrelas, Jungkook foi completamente inundado pelo cheirinho de melancia, que lhe curou de todas as dores de pai solteiro mil e uma utilidades.
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Conte até 10
FanfictionJungkook era um daqueles alfas assustadores, dotado de muita altura e músculos estufados, além de inúmeras tatuagens que lhe riscavam a pele. Apesar dos pesares, morava em um condomínio familiar, numa localização privilegiada da cidade e praticament...