Capítulo 2

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Lilian Bronks

Apesar de não ser um prédio grande, consigo ouvir de longe todo o som e movimentação que vem do meu apartamento a essa hora da noite e soltei um suspiro de cansaço por saber que mais uma vez irei perder o pouco de paz que me resta.

Há quase 3 anos consegui um emprego como garçonete num bar noturno bem conceituado no centro de Manhattan e apesar de não ganhar bem, é o único trabalho remunerado que mantém os meus armários cheios, pois tirando isso, não existe nenhum outro benefício. 

É um emprego que não agrega nada na minha vida.

Pensei inúmeras vezes em procurar outro trabalho, mas é muito difícil quando você tem apenas o ensino médio completo sem um complemento na grade curricular. Pois é, ninguém oferece uma chance melhor para uma jovem que não completou a faculdade, e eu acho isso injusto, pois eu trabalho e muito, sempre fui muito dedicada e acho que merecia uma chance de mudar a minha vida ao invés de suportar os idiotas bêbados dando em cima de mim, tentando tirar uma casquinha sempre que possível.

Eu não sou muito sociável, apesar de trabalhar como garçonete, eu sempre fico muito constrangida quando preciso colocar uniformes diferentes das demais pois o foco dos clientes acaba vindo diretamente para mim e isso sempre me coloca em problemas e situações constrangedoras, o que se torna um forte motivo de largar esse emprego, mas no momento estou de mãos atadas pois não tenho outro recurso que me garanta comida e um teto.

Depois de enfrentar uma noite intensa de trabalho, suspirei ao imaginar o que me espera assim que eu abrir a porta de casa, pois ainda preciso lidar com a bagunça e sujeira da minha irmã mais nova, Vivian.

Nossos pais morreram em um acidente de trânsito e ainda éramos jovens, e apesar de ela não gostar de morar comigo, sempre encontrava alguma amiga disposta a dividir as despesas, mas dessa vez ela não teve escolha e acredito que por isso não esteja facilitando minha vida.

Dividimos um apartamento depois que ela foi despejada de sua última moradia, segundo ela, a sua colega era silenciosa demais e por isso não conseguia fazer nada. Mas acredito que a pobre garota não seja a culpada, pois a Vivian é a pessoa mais barulhenta e festeira que conheço, perdendo apenas para meu namorado, claro.

Assim que abri a porta do nosso apartamento, encontrei no mínimo 10 pessoas espalhadas pela sala de estar, que é bem pequena e ficou ainda menor, e olhando melhor a cena, todos pareciam adormecidos.

Olhando em volta,arregalei os olhos ao ver a quantidade de caixas de pizza e latas de cerveja espalhadas pelo chão e franzindo a testa, tentei não pensar na quantidade de pessoas que estavam aqui mais cedo, caso contrário eu iria pirar.

Desviando a atenção das caixas, olhei em volta e vejo muita sujeira e bagunça, mas nenhum sinal da Lilian.

Sem dúvidas, amanhã iremos receber reclamações por isso.

Atravessando o corredor, decidi procurar pela minha irmã em seu quarto e por conta do som alto da música eletrônica que ainda tocava, não consegui ouvir nenhum movimento naquele cômodo e então abri a porta para procurá-la e me deparo com Vivian sem sutiã se esfregando em um homem na cama, os dois estavam alheios a todo e qualquer movimento fora do quarto então não perceberam a minha presença naquele quarto, e surpresa, recuei alguns passos querendo sair dali o mais rápido possível, mas antes de puxar a porta e fechá-la, vi um casaco que me pareceu muito familiar.

Era uma jaqueta de capitão de time que eu já havia visto antes, mas deixei aquilo de lado e fechei a porta me direcionando até meu quarto e girando a chave, consegui respirar tranquila sabendo que posso tomar um banho e dormir até mais tarde, pois dessa vez, não vou ajudar Vivian na limpeza da casa, já está na hora de ela amadurecer e se virar com as besteiras que faz.

Estou cansada demais.

Meu trabalho está me quebrando, mas o fato de minha irmã não me ajudar em nada, está me tirando a paz diariamente.

Assim que me despi, entrei no chuveiro e me permiti tomar um longo banho com a água quente para relaxar meu corpo. Sinto dores musculares por circular com um salto alto a noite inteira, e quem mais sofre são minhas panturrilhas, mas infelizmente não tenho escolha, eles dizem que sou a melhor garçonete do clube e que por isso preciso andar com saltos altíssimos, pois assim eu mantenho os clientes entretidos e satisfeitos com a bela visão das minhas coxas e por consequência, compram mais bebidas, ou seja, enquanto eles tentam tirar vantagem do meu corpo, automaticamente eles consomem mais.

Que nojo.

Enquanto a água descia pelo meu corpo, peguei o sabonete e me ensaboei, tentando massagear levemente meus músculos doloridos, na tentativa de diminuir a dor, pensando em deitar na cama e dormir por horas a fio para ter um bom descanso, mas então meus pensamentos me levaram ao moletom que estava no quarto da minha irmã mais uma vez, o que me fez lembrar do meu namorado, que já faz alguns dias que não dá nenhum sinal de vida e soltei um suspiro longo, ao me dar conta que sempre foi assim.

Meu namorado some por dias e volta como se fosse normal a sua ausência.

Na verdade, a desculpa dele é ser muito conhecido e popular na cidade e como é rico, precisa sempre comparecer em eventos chiques nos quais nunca coincidem com os dias que estou disponível, sem falar que ele nem me convida para acompanhá-lo.

Diferente de mim, que preciso trabalhar para comer, Kennedy já vem de berço de ouro e justamente por isso, diz que não consegue vir me ver, pois precisa cumprir sua "agenda" à risca.

Fecho meus olhos e penso no tempo que estou perdendo com ele.

Eu deveria estar com um homem que me ajude, que me apoie e me incentive a ir para frente, não com um cara que me abandona por dias, apronta todas e volta como se nada tivesse acontecido.

Não parece, mas eu sei de tudo o que Kennedy apronta pelas minhas costas e apesar de eu ter sofrido muito no inicio, hoje não faz mais diferença, o único problema é que nunca consegui terminar o que temos, é como uma dependência, eu me sinto mal com ele, mas me sinto pior sem ele.

Difícil explicar.

Pois o que me dá segurança, é saber que se eu realmente me sentir sozinha, basta procurá-lo independente se sumiu por dias pois sei que ao menos tenho ele, também acredito que Kennedy tenha me aceitado da forma que sou, e provavelmente ninguém mais iria me querer já que não tenho nada a oferecer então me contento com o que tenho e por isso aturo tudo calada.

Enrolada na toalha, saí do banheiro e me direcionei até meu pequeno roupeiro e alcancei um short curtinho e uma camiseta larga. Coloquei as roupas sem as peças íntimas, pois hoje preciso dormir sem nada me apertando pois quero me sentir confortável e preciso descansar o máximo possível pois terei um evento muito importante para trabalhar, e quem sabe eu consiga uma boa gorjeta, pois agora sei que vou precisar de mais dinheiro, pois com certeza, seremos expulsas desse apartamento.

Proibida para eleOnde histórias criam vida. Descubra agora