Capítulo 2

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Leon

Os portões da mansão Calazans sempre me impressionaram.

Dourados e imponentes. São de uma ostentação quase ofensiva, mas dizem que vovô era dado a exibicionismo quando encheu o bolso de grana, criando a dinastia Calazans.

Agora esses mesmos portões se abrem para mim, depois de anos ausente.

O terreno que rodeia a mansão Calazans é considerado um oásis em meio à cidade de São Paulo. Tudo parece igual e ao mesmo tempo diferente, enquanto diminuo a velocidade do carro alugado percorrendo o caminho verde quase bucólico, ladeado de árvores e flores. Tantas lembranças que gostaria que fossem bonitas como aquela paisagem, mas que só me trazem raiva ao acessá-las.

Gostaria de chutá-las para os escombros das minhas memórias e deixá-las apodrecendo lá, como ficaram nos últimos anos, mas neste momento é necessário que eu as acesse novamente, faça downloadde todas elas e as deixe visíveis no meu cérebro. Aquelas lembranças alimentam minha fúria. E é essa fúria que preciso para me manter no foco.

Estou aqui para iniciar uma guerra.

Uma guerra da qual pretendo sair vencedor.

De repente, meus pensamentos sombrios se embaralham quando noto algo branco entre os jardins de margaridas. Diz a lenda que foi minha avó quem plantou uma a uma das primeiras mudas quando meu avô comprou o terreno.

Quando pequeno, era meu lugar preferido, onde me escondia entre as flores para chorar depois de alguma humilhação sofrida por meus queridos irmãos. Franzo o olhar, atento ao que parece um feixe de luz que se ergue entre as margaridas e noto, curioso, que o branco é o vestido de uma mulher.

Ela se ergue como em câmera lenta, com uma flor entre os dedos, de costas para mim, seus cabelos castanhos brilham ao sol da manhã quando ela se vira de lado, levando a margarida ao nariz, aspirando. Um pequeno sorriso se quebra nos lábios bonitos e ela se vira em minha direção, com os olhos fechados para o sol, enquanto coloca a flor atrás da orelha, o vento embaraçando os cabelos escuros, espalhando a franja para que eu possa apreciar toda a beleza do seu rosto bonito.

Meu olhar masculino desliza para o corpo revestido pelo vestido branco quase angelical que adere as suas curvas de forma suave até as coxas brancas que desaparecem por entre as flores.

— Linda pra cacete — murmuro me perguntando quem é aquela mulher.

Ela é jovem, talvez alguns anos mais jovem do que eu e não é da minha família, certamente.

Fred tem uma filha, mas se não me engano ainda é uma criança de oito anos. Cassandra não tem filhas meninas, e sim um garoto que já havia nascido quando fui embora há dez anos e que hoje deve ser um adolescente. E Álvaro tinha um menino que deve ter a idade da filha de Fred.

E com certeza aquela garota jovem não é a esposa malhada de Frederico que adora mostrar a barriga negativa nas redes sociais, ou a esposa elegante e quarentona de Álvaro.

De repente, a moça abre os olhos e os focaliza em mim.

Olhos castanhos intensos.

Olhos de ressaca, a famosa expressão que nunca entendi me vem à mente.

Mas entendo perfeitamente agora o que quer dizer.

São olhos que te devoram e destroem o que vê pela frente, te arrastando para as profundezas.

É assim que me sinto, sob o escrutínio do olhar escuro da moça de branco entre as margaridas.

Eu a quero pra mim.

Dinastia Calazans - Lobo em Pele de CordeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora