19 - Um bom partido

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Envolta em um sentimento de desânimo e frustração, Antonieta encontra-se deitada e introspectiva, refletindo sobre os eventos recentes que estão acontecendo em sua vida.

A primeira onda de desafios começou em seu emprego, aquele lugar que a faz escrever textos que jamais pensou um dia digitar, ela pensou que criaria coisas incríveis para as leitoras, coisas que fariam todas pensarem melhor sobre a visão do patriarcado.

Além disso, Antonieta foi expulsa do grupo feminista no qual ela acreditava e se envolvia ativamente. A sensação de exclusão e o questionamento de suas próprias convicções a deixaram magoada e sem um lugar onde se sentir acolhida. Sem contar que perdeu totalmente a amizade de sua melhor amiga.

Ela se sente como se estivesse presa em um ciclo de eventos negativos, onde cada passo que dá parece levar a mais desilusões e cada vez mais tentada a desistir de tudo.

Alguém bate a porta de seu quarto.

- Pode entrar! - autoriza, já não se importando mais com nada ou alguém.

Ela está deitada de costas para a porta, e ouve o som da maçaneta girando e os passos de seu pai, a mãe e Maria, se aproximando.

- Antonieta - ela sente-se instantaneamente alerta ao reconhecer a voz do seu pai, vira-se rapidamente e senta-se na cama. Seus olhos encontram os olhos dele em um misto de surpresa e apreensão, enquanto seu coração acelera. A tensão no ar é palpável. O olhar do pai dela é intenso, carregado de significado

- Papai! O que faz aqui? Aliás, o que vocês fazem aqui?

- Vim levá-la de volta para casa. - o pai lança um olhar severo.

- Por qual motivo? - pergunta, ainda assustada.

- Não se faça de burra, Antonieta! - esbraveja, fazendo-a arregalar os olhos de susto. - Você sabe muito bem o porquê.

- Eu contei tudo aos seus pais. - diz Maria.

- Tudo? - ela pergunta, esperando melhores esclarecimentos.

- Sim. Sobre o rapaz.

- Filha, você anda se encontrando com um rapaz aqui no seu quarto toda a noite? - a mãe questiona com uma esperança de que seja mentira. - Olhe em que você se transformou? Sabe o quanto é abominável conhecer a fruta antes da hora? Olhe o que esse tal de feminismo te transformou?

- Mãe, pai... eu continuo sendo a mesma Antonieta, porém, dessa vez, mais madura. Deixem-me ficar, eu nunca mais irei causar problemas para vocês.

- Jamais! - o pai ainda está alterado. - Você manchou sua honra, é a vergonha da familia!

Em choque, ela não sabe o que dizer ou o que fazer e encara o pai. O peso das tradições e da imagem da família sobre seus ombros é avassalador. Ela nunca pensou que, sair em busca da própria felicidade seria vergonhoso.

- Te dou 1 hora para arrumar suas coisas e vir conosco. - ele ordena.

- Eu não quero ir! Daqui ninguém me arranca! - ela reluta, gritando.

- Você não entendeu, Antonieta. Não estou te pedindo um favor, estou te dando uma ordem!

- Eu não posso sair sem pagar o que devo à dona Maria. Preciso continuar no meu emprego atual para pagar todos os meus débitos.

- Não precisa mais trabalhar, pagarei tudo o que você deve. Vamos, Antonieta, não demore!

Lá no fundo, Antonieta sente um certo alivio em sair da revista, mas lembra-se de que ainda não teve nenhuma oportunidade de escrever um artigo de sua autoria.

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