O menino segura um copo de leite com suas mãos pequenas e olhos ansiosos observando Antonieta e Vicente, que olham-no com expressões assustadas. Cada gole parece uma eternidade, cada movimento uma batalha contra o desconhecido. Quando o último gole é tomado, ele deixa o copo sobre a mesa.
- Obrigado pelo leite.
- De nada. Qual é mesmo seu nome? - Vicente pergunta, sentado no sofá ao lado de sua namorada.
- É Otávio.
- E onde está sua mãe? - Antonieta agora pergunta.
- Em casa, ela está muito doente de pneumonia. - ele responde, e abaixa a cabeça, com tristeza.
- E seu pai? - Vicente pergunta novamente.
- Eu não tenho pai. Ele já morreu. - o menino permanece de cabeça baixa.
O casal se entre olha, numa conexão de olhares, e Antonieta cochicha.
- Por isso ele estava aqui comendo aquelas torradas, ele está passando necessidade em casa!
Com compaixão, ambos olham novamente para o menino, em seguida, entre eles novamente.
- Ainda tem daquelas frutas? Coloque dentro de uma cesta e dê para o menino levar para a mãe doente. - Vicente dá a ideia e Antonieta concorda com um balançar de cabeça, seu coração pesado de preocupação enquanto se levanta do sofá.
Em poucos minutos, ela retorna segurando uma cesta cuidadosamente arrumada. Otávio, com os olhos marejados de gratidão, aceita a cesta e agradece com um sorriso emocionado. Com um aceno de despedida, ele parte, seu coração mais leve e contente por ter encontrado apoio com aquele casal.
Alguns dias depois, Antonieta se encontra imersa na reescrita do seu livro, completamente absorvida pelas palavras que fluem de sua mente para o papel. Seu namorado saiu para negociar novos livros para a livraria, deixando-a sozinha em sua concentração. Tão envolvida está ela, que não percebe o suave ranger da porta se abrindo, nem o leve passo de Otávio se aproximando até que ele esteja parado ao seu lado, observando-a com um sorriso afetuoso enquanto ela trabalha.
- O que está fazendo? - ele pergunta repentinamente.
Antonieta é surpreendida pelo som da voz de Otávio e ergue os olhos da página, seu coração dando um salto ao vê-lo ali de pé ao seu lado.
- Ah, oi Otávio, tudo bem? Que bom te ver novamente - ela responde, um sorriso enquanto fecha o caderno. - Estou escrevendo um livro.
- Legal! - ele responde, cheio de entusiasmo.
- Quando eu terminar, você gostaria de ler?
- Eu não sei ler. Tenho idade para ir a escola e aprender a ler e a escrever, mas eu nunca fui.
- Ah, que pena... Mas um dia você ainda vai, tenho certeza!
Ele concorda, balançando a cabeça.
- Está com fome?
- Sim!
- Então venha até a cozinha, preparei um bolo de milho. - eles se levantam, animados. - Bom, está um pouco queimado, mas dá para comer...
O garoto passa a ir até lá todos os dias, e Antonieta acolhe sua presença, compartilhando questões importantes sobre igualdade de gênero e empoderamento feminino enquanto reescreve seu livro.
A cada sessão de escrita, ela explica a importância do feminismo e relevância na sociedade atual para o menino. Otávio absorve essas lições com entusiasmo, seus olhos brilhando com a descoberta de novas ideias e perspectivas.
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Amor e ideais.
RomanceNos vibrantes anos 50, em uma pequena cidade do interior, vive Antonieta, uma jovem determinada e apaixonada pela escrita. Enquanto o mundo ao seu redor tenta encaixá-la em padrões estereotipados, ela se esforça para encontrar sua voz em meio ao con...