20 - O artigo especial

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Em uma manhã outonal, onde nuvens pesadas dominam o céu, Edgar direciona seu olhar para além da janela, discernindo das condições climáticas a frieza iminente, refletida em seu semblante carrancudo.

Resgatando seu chapéu do cabide, ele se encaminha decidido para a saída, pronto para dar início às suas obrigações.

Na entrada, seu olhar se fixa no vislumbre de um carteiro que se aproxima.

- Bom dia, sr Almeida. Tenho uma correspondência para o senhor hoje. - ele entrega uma carta nas mãos dele. - Quero dizer, para Antonieta, sua filha.

- Obrigado. - o homem agradece, olhando com curiosidade a carta, enquanto o carteiro acena com a cabeça e se retira.

Com um olhar atento, Edgar notifica que o remetente ostenta um nome masculino, o que gera uma fagulha de suspeita. Sem hesitar, ele rasga o envelope por completo, eliminando qualquer barreira que impedisse sua visão do conteúdo, mesmo sem ter aberto a carta propriamente dita.

Enquanto isso, Antonieta abre a janela de seu quarto e vê, além do mal clima, seu pai saindo de carro, evocando um misto de tristeza e apreensão à medida que recorda a conversa que involuntariamente escutou entre seus pais. Ciente da imposição que paira no ar, ela compreende que é chegada a hora de agir para interromper esse destino forçado.

Afastando-se da janela, ela toma assento à penteadeira e começa a passar a escova pelos fios curtos e castanhos de seu cabelo, mergulhando em pensamentos profundos em busca de soluções.

Enquanto cada minuto parece esticar-se em tormento, uma centelha criativa enfim se manifesta em sua mente. Uma ideia brilhante toma forma, uma estratégia para afugentar os pretendentes que seu pai insistentemente arranjará para ela. Um sorriso de esperança se forma nos lábios de Antonieta, impulsionada pela possibilidade de tomar as rédeas de seu próprio destino.

Sem saber que seu pai obrigou Vicente a se afastar dela, e muito menos que rasgou a carta dele, Antonieta sai de casa confiante.

Seu objetivo do dia é verificar na livraria mais próxima se a aguardada nova edição da revista "Mulher Perfeita" já está disponível. O mistério a instiga: teriam eles finalmente reconhecido seu texto? Teria ela alcançado seu intento?

Ao chegar à livraria, seus olhos se fixam em uma capa notavelmente distinta, revelando a chegada recente da edição tão aguardada. Ansiosa, ela alcança um exemplar, pronta para fazer a aquisição. Com uma agitação controlada, abre as primeiras páginas ali mesmo e se depara com o título que a faz sorrir de satisfação: "Dicas para Ser uma Mulher Autêntica." A sensação de realização a envolve, afinal, este é o artigo especial que ela tanto ansiava escrever.

Sabendo que a revista tem muitas leitoras fieis, ela toma a decisão de se sentar em uma das mesas convenientemente posicionadas, com o objetivo de observar as reações de suas colegas leitoras.

Enquanto a maioria efetua suas compras e parte para suas casas, há aquelas que preferem absorver o conteúdo no local, gerando uma série de reações diversas.

Algumas leitoras demonstram choque diante do conteúdo do artigo, suas expressões revelando surpresa e desconforto. Outras trocam olhares e comentários, compartilhando a percepção de que o artigo parece desconexo e absurdo neste mês. Entretanto, um grupo seleto encontra humor nas dicas apresentadas, e expressa o desejo de incorporá-las em suas próprias vidas.

Em meio a tudo isso, Antonieta se regozija internamente, ciente de que ninguém à sua volta suspeita que ela é a autora por trás das palavras controversas. Ela parte daquele local com uma sensação de triunfo, apreciando o sigilo que envolve sua identidade enquanto observa as reações, uma maestrina invisível de emoções.

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