26 - Entre o desespero e a esperança

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Com a mente repleta de preocupações e incertezas, Vicente atravessa as ruas em direção ao seu escritório. Apesar de sempre se apresentar impecável, com chapéu combinando e sapatos sempre engraxados, seu semblante abatido contrasta profundamente com sua habitual elegância.

Ao chegar à porta da pequena sala, ele percebe um pedaço de papel branco dobrado cuidadosamente e enfiado embaixo da porta.

Com o coração um pouco mais preocupado e ansioso em saber o que é aquilo, ele se abaixa para pegar o papel, desdobrando-o. Seus olhos percorrem rapidamente as palavras escritas à mão, e uma onda de choque percorre seu corpo enquanto ele absorve o conteúdo da carta.

"Prezado Sr. Vicente,

Estamos entrando em contato para informar que seus aluguéis estão consideravelmente atrasados e, infelizmente, não podemos mais tolerar essa situação. Se os pagamentos não forem regularizados até o final deste mês, seremos obrigados a tomar medidas legais para recuperar o valor devido.

Além disso, gostaríamos de chamar sua atenção para o fato de que seu espaço de escritório está sujeito ao fechamento caso os aluguéis atrasados não sejam pagos dentro do prazo estipulado.

Atenciosamente, Administração do Edifício"

Um sentimento de desespero se apodera dele enquanto lê as palavras cortantes na carta. Ele sabe que suas finanças estão apertadas, mas não imaginou que a situação chegaria a esse ponto.

Engolindo em seco, ele fecha os olhos por um momento, tentando conter a enxurrada de emoções que ameaçam inundá-lo. Sua mente corre freneticamente em busca de soluções, mas parece que cada caminho está bloqueado.

Com um suspiro pesado, Vicente guarda a carta no bolso, ele sabe que precisa encontrar uma maneira de superar essa crise financeira e continuar perseguindo sua paixão pela escrita, custe o que custar.

Com um fardo de preocupações pesando em seus ombros, Vicente lembra-se dos exemplares restantes do livro de Antonieta guardados em seu escritório. Embora consciente da decisão de censura, ele decide arriscar e vendê-los na rua, na esperança de angariar fundos para pagar os valores atrasados. Determinado, ele carrega a caixa em seus braços e parte para uma rua movimentada, onde espera encontrar potenciais compradores.

Enquanto isso, no silêncio reconfortante de seu quarto, Antonieta se recosta diante de uma antiga escrivaninha de madeira. Cada traço de tinta que a caneta deixa no papel, é uma extensão de seus sentimentos tumultuados, uma expressão do desejo ardente que queima dentro dela.

Com a mente repleta de angústia e o coração transbordando de amor, Antonieta dá forma às palavras que clamam por liberdade. Ela expressa seus mais profundos anseios, suas esperanças e seus medos, numa carta destinada a Vicente.

Ela confia que, através das mãos de Teresa, suas palavras encontrarão seu destino. Dobra o papel com cuidado, antes de entregar à sua amiga, uma emissária de seus mais profundos desejos, que a aguarda ali, ao seu lado, no quarto.

Agora, resta apenas esperar, torcendo para que Vicente receba sua mensagem e compreenda a urgência de seus sentimentos. Com o coração na garganta e repleta de esperança, Antonieta aguarda ansiosamente por um sinal de que ele tenha sido encontrado.

Ao descer às escadas para acompanhar Teresa até a saída, Antonieta se depara com Lúcia já aguardando por elas. Um sorriso afável se forma nos lábios da mãe ao ver a jovem ruiva, cuja timidez aparente a faz parecer inofensiva aos olhos dela, pois não a enxerga como uma ameaça de forma alguma, mas sim como uma simples visita da filha.

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