27 - Resistência

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Usando um avental azul florido e um lenço vermelho nos cabelos, Antonieta está parada na cozinha, rodeada por uma bagunça de ingredientes e utensílios. A panela está no fogão, mas não tem certeza se colocou os temperos certos. Ela balança a cabeça nervosamente enquanto tenta se lembrar das instruções.

Com um suspiro, ela pega a colher de pau e começa a mexer o molho na panela, embora não tenha certeza se está no ponto certo. Ao mesmo tempo, ela tenta cortar os legumes, mas as fatias saem desiguais e desajeitadas. Ela olha para o relógio e percebe que o jantar já está atrasado, aumentando sua ansiedade.

Finalmente, ela coloca os pratos na mesa, mas é uma bagunça. O frango está um pouco queimado, os legumes estão meio crus e o molho está um tanto aguado. Antonieta olha para o resultado final com desânimo, sabendo que não é nada parecido com o que ela tinha imaginado.

Em pânico, ela se lembra das peças de roupas que colocou na máquina de lavar antes de se aventurar na cozinha. Ela corre até a lavanderia, ansiosa para conferir o estado das roupas.

Ao abrir a máquina, Antonieta percebe que cometeu um erro ao misturar as peças brancas com coloridas. As camisas de seu marido agora têm manchas de tinta azul e rosa. Ela olha para a mistura de cores com os olhos arregalados, sem acreditar no que fez.

Desesperada, ela tenta esfregar as manchas, mas isso só piora a situação. Agora, além de manchas coloridas, suas roupas também têm áreas desbotadas. Antonieta suspira profundamente, percebendo que seu dia de dona de casa inábil não está se limitando apenas à cozinha.

- Querida, cheguei! - ela escuta a voz de Doutor Gomes chegando em casa de repente - Que cheiro de queimado é esse?

Com o coração acelerado, Antonieta volta à cozinha ao ouvir a voz do Dr. Gomes, seu marido, que acabara de chegar em casa.

- Acho que passou um pouco do ponto. - ela responde, tentando minimizar o estrago.

Dr. Gomes, insatisfeito, corta um pedaço do frango queimado e o joga sobre o prato, expressando claramente sua decepção.

- Um pouco? - ele retruca, com um olhar crítico. - Você chama isso de jantar?

Antonieta engole em seco, determinada a compensar seu erro. Ela olha para a cozinha bagunçada, com a panela queimada ainda sobre o fogão, e respira fundo, preparando-se para começar tudo de novo.

- Eu vou melhorar, prometo! - ela murmura para si mesma, reunindo coragem para recomeçar.

Dr. Gomes, já retirando a gravata do pescoço, e jogando em qualquer lugar, lança um olhar sério para Antonieta antes de se retirar.

- Acho bom. Trate de começar outro, imediatamente! - ele ordena, deixando-a sozinha na cozinha. - Estou com muita fome!

Antonieta suspira e começa a limpar a bagunça enquanto pensa em uma maneira de fazer um novo jantar sem cometer os mesmos erros. Porém, apesar da frustação, internamente ela se regozija por ter falhado e um sorriso sutil aparece em seus lábios. A ideia de que o marido possa se arrepender por tê-la escolhido sem considerar os verdadeiros sentimentos alimenta um fogo silencioso dentro dela. Cada erro na cozinha, para ela, é como uma pequena vingança silenciosa, uma maneira de ecoar a ausência do amor que deveria ter sido a base de seu casamento.

- Antonieta!

Ela faz uma careta quando ouve o grito de Gomes ecoando pela casa, vindo da lavanderia. Ela já sabe o que aconteceu e, mesmo assim, não consegue conter um sorriso travesso que se forma em seus lábios.

Mais tarde, quando já está na hora de dormir, Antonieta está deitada na cama, envolta em seu pijama rosa comprido, os cabelos presos em um coque desarrumado. Pepinos cobrem seus olhos fechados, proporcionando uma sensação refrescante e relaxante. Uma máscara facial verde adorna seu rosto, dando-lhe uma aparência um tanto engraçada.

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