5- perdição

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P.O.V Tom

Os dias têm sido difíceis. Bill acorda a noite desesperado e com muito pavor. Tenho dormido com ele já tem uma semana e a mamãe anda triste por essas crises dele.
Para ela falamos que é apenas pelo bullying que ele anda sofrendo, o que também não é uma mentira.
Essa semana um garoto deu um soco em seu nariz e o fez sangrar. Eu não pude fazer nada porque ou escolhia bater nele de volta ou escolhia ajudar o Bill.
-Obrigado.-Bill fala bem baixinho, me tirando dos pensamentos.
Ele está deitado em sua cama  e eu estou sentado no chão olhando para a frente.
-Nao tem o que agradecer.-falo e me levanto.-Eu vou descer bem rápido e logo volto.
-Vai fumar né?!-ele fala com um ar de desapontamento.
Apenas aceno com a cabeça e beijo sua testa antes de deixar o quarto.
Desço as escadas enquanto pego o cigarro e o isqueiro do bolso. Não faço ideia de que horas são, mas com certeza já passa de meia noite.
Vou até a calçada na frente de casa e me sento.
A fumaça que adentra meus pulmões me dá a sensação de alívio e por alguns segundos me faz esquecer a realidade.
O amor da minha vida está assim e eu realmente não posso fazer nada.
-Eu vim ver como você está.-ouço a voz de Bill e logo ele se senta ao meu lado.-Esta tarde para ficar aqui na frente sozinho.
-Eu tô bem, tá?!-sorrio para ele.-Volta pra dentro, tá muito frio aqui e você está de regata.
Ele faz um estalo com a língua e puxa o cigarro da minha mão, o tragando em seguida.
-Desde quando você fuma?-pergunto assustado.
No mesmo momento ele tosse e logo percebo que ele fuma desde agora.
-Melhor você não fazer isso.-pego o cigarro de sua mão.
-Minha vida já está acabada mesmo. Um cigarro não faria muita diferença.-ele pega o cigarro novamente e logo traga.
-Sua vida não está acabada. Não fala isso.
-Qual é, Tommy?!-sinto borboletas voando no meu estômago quando ele me chama assim.-Eu não consigo nem ver meu futuro mais.
-Vamos andar?!-chamo ele, me levantando.
-É perigoso.
-Eu te protejo.-sorrio.
-Tem que ser rápido. Se a mamãe não ver a gente, ela enlouquece.-ele se apoia na minha mão e levanta também.-Voce não me falou mais do menino que está gostando. Me conta como ele é.
-Ah, Bill. Não é hora disso.-falo enquanto começamos a andar pela rua.
-Eu só quero falar sobre algo que não seja minha lamentável vida.-ele fala, me passando de volta o cigarro.
Trago o cigarro e devolvo para ele.
-Tudo bem, eu falo. Eu poderia listar muitas coisas sobre ele. Ele é meigo, carinhoso, atencioso.-um sorrisinho bobo vai se formando em meu rosto sem eu poder ter controle.-Diria até que é romântico. Ele é surreal, acho que essa é a definição certa. Parece não ser real, sabe?!
-E ele beija bem?
-E-eu não sei.-travo na hora de responder
-Voce nunca beijou ele?-a sua voz soa assustada.-Como nunca beijou ele?! Ele parece ser perfeito.
-E ele é.-olho para os seus olhos que brilhavam como nunca.-Os olhos dele são mais brilhantes que qualquer estrela que possa surgir no universo. Não trocaria o brilho deles por nada.-suspiro e volto a olhar para a frente.-Só não tive a oportunidade ainda de beijar ele.
-Voce já beijou alguma vez na vida?-ele pergunta curioso.
Posso sentir meu rosto formigar e ruborizar e logo ele chega a conclusão de que não, eu nunca havia beijado.
-Hora de voltarmos.-falo e pego o cigarro de sua mão antes de darmos meia volta.
-Como que nunca beijou?
-Chega desse assunto.-falo começando a me irritar- não quero falar sobre isso.
-Eu não sabia disso. Como que eu não sabia disso, Tom?!-ele para em minha frente e pega em meus ombros.-Voce sempre falou tudo pra mim. Por que escondeu isso?
-Por que está tão irritado por isso?
-Porque se você esconde isso, pode esconder coisa pior. Sabe que não precisa esconder coisas de mim.-ele parece realmente desapontado.
-Olha, desculpa. Eu juro que essa era a única coisa que você não sabia.-falo, mas olhando para baixo.
-Olha nos meus olhos e diz isso.- ele pega delicadamente no meu queixo e levanta meu olhar.
Meus olhos estão marejados e ter que falar isso vai ser como ter agulhas enfiadas no meu estômago.
-Sim, eu juro que essa era a única coisa que você não sabia.-falo num sussurro e fecho os olhos deixando as lágrimas escorrerem por meu rosto.
Logo sinto seus braços me envolvendo em um abraço quentinho.
Me deixo ser envolvido e o abraço de volta. O seu abraço parece tirar um grande peso das minhas costas. É como se eu flutuasse para fora do planeta.
-Vamos pra casa.-falo me desvencilhando de seu abraço antes que eu chorasse.
Ele sorri levemente e logo se põe ao meu lado e entrelaça sua mão na minha.
-Agora somos namoradinhos.-ele fala brincando e sorrindo.
Mal sabe ele que isso foi quase como morrer e voltar.
Apenas sorrio para não deixá-lo se sentindo mal.


***×***

Hoje é domingo e o Bill está estranhamente animado. Ele está me observando tocar violão há horas e tagarela sem parar.
Parece que eu dormi com uma pessoa e acordei com outra totalmente diferente.
Eu com certeza não prefiro assim, porque sei que ele se escondeu de novo dentro de si.
Como se fosse uma caixinha em sua mente que você abre e joga todas as coisas dentro como: sentimentos, angústias e até mesmo você de ontem a noite. Eu sei exatamente isso porque já fiz e faço o tempo inteiro.
Me esconder em uma máscara de papel fajuta é o que tenho feito de melhor há alguns anos.
Sempre que a noite cai ao meu redor, eu sinto a máscara se desfazer e revelar o meu interior.
Às vezes a caixinha de sentimentos se desfaz e realmente não há nada que eu possa fazer a não ser esperar o dia amanhecer novamente. Esperar por um novo dia e esperar que esse dia seja melhor, o que nunca acontece.
O sentimento de estar morrendo aos poucos por dentro, destrói e dilacera. É como uma dor insuportável que eu tenho que sentir todos os dias por amar alguém inalcançável.
-Tommy?!-Bill me tira dos meus pensamentos que já estavam me levando para outro universo.
-Sim?!-falo, soltando a fumaça da minha boca.
-Me ensina a tocar violão?-ele pergunta totalmente empolgado e feliz enquanto deixa seu cigarro de lado.
Aparentemente ele gostou de fumar e eu me sinto um pouco culpado por isso.
Sorrio para ele e o chamo com a mão. Eu estou sentado no chão e ele estava no sofá ao meu lado.
Ele se senta no chão em minha frente, de costas para mim enquanto entrego o violão em suas mãos.
-Eu estou tão empolgado.-ele fala olhando para mim.
Seu rosto está definitivamente muito perto do meu e eu posso sentir sua respiração e o cheiro de cigarro que sai de sua boca. Ok! Isso definitivamente me deixou muito excitado.
-Concentra. Olha pra frente.-falo olhando involuntariamente para sua boca.
-Ta bem. E agora?-ele se ajeita com o violão em suas mãos e olhando para ele.
Vou guiando suas mãos e seus dedos e eu posso jurar que isso não dará certo. Se eu estivesse com uma gota de álcool em meu corpo eu já teria perdido o controle no momento que ele quase sentou no meu colo.
Mas eu com certeza não aguentarei muito tempo guiando suas mãos com seu corpo relativamente perto do meu assim.
-Essa mão sempre fica aqui e essa aqui...
-Meninos?!-somos interrompidos pela graça de Deus que mandou Gustav e Georg.-Chegamos para alegrar seu jardim.
Eles se acomodam no sofá e o Bill levanta feliz da vida:
-Eu estou aprendendo a tocar violão.-ele fala dando pulinhos de alegria e batendo as mãos.
Jogo minha cabeça para trás, fechando meus olhos e controlando ao máximo meus pensamentos impuros.
-O que houve, Tom?-ouço Bill perguntar preocupado.
-An?!-me ajeito.-Nada, só uma dor no pescoço mesmo.
Ele logo dá de ombros e segue conversando com os meninos.
Essa com certeza é minha pior perdição...

The color of hellOnde histórias criam vida. Descubra agora