17. συνενοχή

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Nunca compreendi o grande fascínio em observar pessoas dormindo, como uma mãe protege o sono de seu filho todas as madrugadas, para mim não fazia muito sentido, até agora. Ainda não entendo completamente o impulso que nos faz incapaz de desviar os olhos, mas a beleza permanece, totalmente alheia a mim. 

Ela tem pesadelos. 

Em alguns momentos apesar de não abrir os olhos ou gritar seu corpo se encolhe, retraído como jamais vi antes e seu semblante torna-se triste, uma sequência de murmúrios ininteligíveis que roubam sua calmaria. Jovem e vulnerável em sua inconsciência, entretanto não é isso que me mantém olhando-a. 

Na verdade, não tenho certeza do que, me intriga nela. É a mesma pessoa que dança como uma deusa, a aluna convicta e insolente das minhas aulas e a mulher encantadora dos instantes de intimidade, mas a serenidade de seu repouso é o único momento em que os alertas dela descansam.

Me pergunto o que a fez assim, erguida em desconfiança e em regras para manter distância, armada contra tudo e todos, e me pergunto também quem ela era antes de precisar se proteger, o que a feriu tanto que não pode ser visto ou curado.

São tantas perguntas que desejo fazer, um milhão de respostas surgindo na minha mente e nenhuma adequada o suficiente, embora saiba que se der vazão a cada uma delas, Ravine vai me afastar, e quando os olhos dela abrem lentamente num despertar vagaroso sei que ainda não estou pronto para deixar ir.

O que foi? — Pergunta, a voz falhando na pergunta.

— Nada, estou apenas te olhando.

— Não faça isso, é estranhamente perturbador — Resmunga em um barulho desgostoso.

— Por que?

— Já assistiu atividade paranormal? — Balanço a cabeça em negativa, um riso surgindo antes mesmo dela terminar. — Bem, a mulher ficava observando o marido, tipo toda noite em pé parada por horas, e sabe o que acontece no final? Ele morre.

— Desculpe o olhar dela… fuzila ele? 

— Não. Ela mata ele — Conclui com uma pausa. — Resumindo não fique me observando dormindo, um dia eu posso me assustar e sem querer atirar em você.

— Ah sim, você e sua arma imaginária.

— Por que exatamente eu não posso ter realmente uma arma?

— Você precisaria de uma licença, para começo de conversa, o que não se consegue facilmente. 

Ravine resmunga algo, enterrando o rosto no travesseiro, apoia ambos os braços no mesmo e se espreguiça ainda deitada enquanto ressoa um gemido. O movimento arrasta a coberta para baixo, descendo quase intencionalmente para a base das costas, perto da curvatura de suas nádegas. 

Distraída, ela não registra a mudança dos meus olhos, como eles seguem o caminho de sua espinha e estancam na tatuagem, que rouba minha atenção como se gritasse e precisasse ser vista.

Detidamente, redesenho os contornos das flores, primeiro as três maiores, depois as menores, aquelas que se vistas de longe fogem à visão, mas que aqui vejo-as plenamente, arrasto o dedo sobre cada uma delas uma vez, após outra; o suficiente para o corpo dela tensionar e resfolegar, e quando chego as palavras ela estremece. 

Porém, não é sobre prazer, é como se minha ação a fizesse sentir as palavras em sua memória, é quando sei que a tatuagem apesar de linda pode carregar um significado não tão belo quanto.

— O que significa?

Sussurro, a entonação requer intimidade e acredito que o significado das palavras eternizadas nela também. 

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