Um castelo de areia não precisa de muito para se desmanchar, basta manter-se em pé e a qualquer momento sua estrutura está ameaçada. Eu não pensava na minha família como um castelo de areia, antigamente não.
Acreditava fielmente que nossa base estava firmada no amor que compartilhavamos, e que todos os anos ele se firmava mais. No entanto, não se pode subestimar o poder de uma tragédia, porque quando ela chega, pode não restar nada.
Para mim, não restou muito, somente eu.
A morte do meu irmão carregou minha mãe que aos poucos se deixava morrer, enquanto eu a olhava apenas tentando ser suficiente para que pudesse voltar à vida outra vez. Quando ela estivesse pronta para seguir em frente, eu estaria esperando.
Um ano depois, com as malas feitas no corredor da casa, o silêncio da madrugada interrompido pelo choro constante, tive o golpe final. Assombrado pelo acidente do filho e a dor da perda que pegou o melhor de todos nós para ser enterrado, meu pai nos deixou.
Era engraçado como minha versão de dezessete anos que chorava pela morte do irmão pensou que a união seria suficiente para que dias melhores viessem, como ela pensou que meus pais lidariam como um conjunto. Mas, não aconteceu, e os dias melhores se ausentaram por um longo tempo.
Minha mãe se recolheu para tão dentro de si mesma que era impossível fazê-la sair, sempre visitando o quarto vazio de Oliver, cheirando suas blusas e chorando a perda. Quebrada e inconformada, ninguém a alcançava quando desmoronava em seu próprio mundo.
Meu pai carregava uma culpa pesada que calava sua voz e esfriava seu amor. Mais turnos tardios no trabalho para não encarar a falta que meu irmão fazia, mais horas longe para ignorar que não podia salvar sua vida, pois ele tinha partido. Uma junção de coisas que finalmente o fizeram ter seu desejo, sair e não voltar para a casa.
Eu tinha tentado melhorar, com o passar do tempo o meu esforço esgotava a mente e deixava muito evidente a falta dele.
Tentava arrancar sorrisos dela, o que não era meu forte tentar ser engraçada para contagiar as pessoas ao meu redor, mas eu tentava tanto ser diferente para que minha mãe pudesse sorrir. Eu lembro de uma única vez que seu sorriso acanhado apareceu, sobre a sombra de uma história com meu irmão, ela estava presente por alguns segundos; até não estar mais.
Às vezes, tarde da noite eu esperava na sala encolhida debaixo das cobertas que ele chegasse do seu turno, mas quando meu pai estava aqui o cansaço dominava-o totalmente. Seu andar parecia exigir muito e as respostas monossilábicas matavam todo meu ânimo.
Meu companheiro de confidências estava fora de alcance, não ouvia sua voz e temia me esquecer como era sua risada. Ele era o oposto de mim, jovem, alegre e corajoso com uma luz tão forte que quando se apagou nos deixou sem direção.
Estávamos no escuro, eu era a única desejando ser encontrada.
Agora, seis anos depois da morte do meu irmão, em uma cidade completamente diferente eu não desejava ser encontrada, não estava perdida de ninguém e sentia-me livre. Porque ao remoer a falta de todos me amavam eu finalmente tinha compreendido, não existe uma base real na vida, tudo é um castelo de areia.
E não importava realmente quem chegasse na minha vida, quando tudo desmoronar ainda serei somente eu.
Às vezes eu esqueço o quão quebrada estou, olhando a longas distâncias uma vida que não parece minha mas promete tanto que por longos segundos posso sonhar. Fechando os olhos em um desejo forte que grita "seja para mim", no entanto quando a luz da sala se infiltra em minha visão, enxergo a realidade.
O silêncio nunca me incomodou muito, não quando sempre existia alguém para interrompê-lo com a força de uma vontade. Essa vontade que minha mãe deixou morrer, vontade que fez meu pai carregar malas e ir embora, uma vontade que Oliver podia emanar quilômetros longe.
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Partenon • Jjk • Longfic
Fiksi PenggemarRavine é uma dançarina independente com um futuro promissor de bailarina na melhor faculdade que poderia sonhar. Longe de todos os olhos ela se torna outra, a deusa que dança no Partenon enfeitiçando seus clientes, mas uma noite conhece um homem que...