𝐀 𝐍𝐄𝐖 𝐇𝐎𝐌𝐄 | avatar

bonus 04: For Myself

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O'hau, Junho de 2024

Eram raros os dias frios e chuvosos durante a primavera, porém aquela quinta-feira havia se tornado uma completa exceção. Havia prometido a Lo'ak que passaria na sua casa após o horário do almoço, porém Spider estava atrasado.

Com o braço enrolado no de sua abuelita, segurava com a mão livre um guarda-chuva para proteger a cabeça da avó dos chuviscos finos e gelados que caiam do céu nublado. Havia recebido sua carta de admissão em uma faculdade nos Estados Unidos no começo daquela semana e graças a sua avó supersticiosa, Spider estava sendo - de certa forma - obrigado a ir visitar o túmulo de sua mãe.

Paz não havia sido enterrada no Hawaii, porém Maria fazia questão de pagar todo ano um pequeno espaço no terreno do cemitério local para que pudesse ter um lugar para visitar nos feriados e rezar pela alma da filha quando quisesse. Spider não entendia a necessidade de sua avó de querer ter um túmulo para visitar, porém respeitava a vontade da mais velha. Era apto a ideia de que para orar por alguém, não era necessário estar em uma igreja ou em um cemitério.

— Mi hijo, fique aqui. Preciso falar com o coveiro sobre o pagamento da manutenção do túmulo — abuelita diz batendo na mão do neto e retirando o guarda-chuvas dele para caminhar em passos arrastados até a pequena casa onde o coveiro ficava durante a tarde.

Sentindo as gotas finas molhando-lhe a face, Spider olhou ao redor. Com túmulos brancos gastados pelo tempo e clima, ele conseguiu ler alguns nomes desconhecidos. Estar naquele lugar lhe trazia um sentimento melancólico, nostálgico que gostaria de esquecer. Olhou, então, na direção da casa do coveiro, onde a abuelita já havia entrado e voltou a olhar para os túmulos, encontrando alguns metros de distância o túmulo de sua mãe.

Diferente dos outros, dava para se perceber que o túmulo de Paz Socorro não havia tido sua terra remexida, já que não houve nada - nem ninguém - para ser enterrado naquela terra. Spider se aproximou da sepultura e ajoelhou-se na grama molhada. O nome de sua mãe estava escrito na pedra com delicadeza e logo abaixo havia uma cruz grande e por último as datas de nascimento e de morte dela.

Conviveu com sua mãe por apenas cinco anos e após isso ficou pulando de lar temporário por lar temporário até finalmente sua abuelita conseguir sua tutela legal. Com uma mãe morta e um pai na prisão, Spider passou boa parte da sua infância e início da adolescência com pessoas que fingiam se importar, mas na realidade, no final das contas, não estavam nem aí para ele ou para sua situação.

Paz havia morrido em quatro de setembro e mesmo que já tivesse se passado doze anos do acontecimento, Miles se lembrava de algumas coisas daquele dia. Não do dia em si, pois sua mente infantil havia feito questão de apagar aquela horripilante memória, porém ele conseguia se lembrar perfeitamente do sentimento que sentiu naquele domingo.

O medo, a angústia, a certeza de que algo ruim estava acontecendo.

— Eu passei na faculdade, mãe — sua voz sai calma e baixa, como se não estivesse nem mesmo com a intenção de falar algo — Consegui uma bolsa de cinquenta por cento na Trinity College. Fica longe da vovó, é lá em Connecticut, mas eu vou visitá-la em todos os feriados. Não quero deixá-la sozinha por muito tempo.

Ficou um momento em silêncio, não era como se esperasse por uma resposta, porém a ideia de receber um sinal do além, uma aprovação de sua mãe por ter conseguido entrar na facudade - mesmo que não fosse uma facudade de renome, como Yale ou Stanford - era reconfortante. Esperou por alguns minutos até que a voz de sua abuelita ecoou em suas orelhas.