Nenhuma Dentro

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Miyeon não retorna à festa sem antes fazer uma parada rápida no banheiro, em uma tentativa esperançosa de conter os danos em sua aparência.

Ela encontra toalhas limpas sob a pia e seca os cabelos o melhor que pode, tentando ignorar a evidência arroxeada de sua estupidez ganhando mais e mais cor na lateral de seu pescoço, bem como o inchaço óbvio em seus lábios, dos beijos que ainda queimam sua pele.

Miyeon suspira. Ela tem certeza de que Yuqi saberá o que aconteceu no momento em que der uma rápida olhada nela.

As pessoas ainda a encaram, sorriem ou movem as sobrancelhas de forma sugestiva conforme Miyeon se move pela casa, a memória de sua cena na piscina aparentemente ainda muito viva em suas mentes bêbadas. Ela rouba um shot de tequila de um cara que passa segurando duas doses em cada mão. Ele não parece se importar nem um pouco com sua falta de modos, e grita com entusiasmo quando ela o vira de uma vez, o álcool descendo queimando por sua garganta.

Ela segue com o queixo erguido, a coragem líquida deixando-a um pouco mais confiante e menos irritada sobre a idiota que deixou para trás no andar de cima. Mas quando Miyeon chega ao núcleo da festa, onde todos se reuniram para assistir Soyeon no comando da mesa de som, Shuhua já está lá, em jeans secos e regata justa, parecendo gostosa demais e perfeitamente satisfeita em ignorar sua existência.

Ótimo. Ela será obrigada a conviver com essa imbecil.

Miyeon prende os cabelos para cima, o calor de tantos corpos ao redor atingindo-a em cheio. Ela eleva a barra da camiseta enorme de Soyeon e dá um nó na cintura, o cós da calça bem abaixo de seu umbigo fazendo o trabalho restante de expor seu corpo ao ar ligeiramente mais fresco.

"Exatamente quem eu estava procurando!" ela é erguida subitamente pelos braços de alguém: Sana, uma amiga do programa de artes da faculdade que Miyeon tem quase certeza de que tem uma queda por ela. A garota enrosca os dedos nos seus quando a devolve ao chão, então a faz rodopiar no lugar. "Vamos dançar, Hot Girl!"

Miyeon se deixa levar pela garota e pela música, sentindo sua mente flutuar conforme mais tequila vai chegando até ela por fontes diversas e o álcool começa a bater. Soyeon está tocando uma composição nova, que Miyeon não tinha escutado ainda, a batida vibrante fazendo-a se sentir gostosa, destemida e com uma vontade repentina de revidar.

Sana continua movendo o corpo muito perto do seu, dançando livremente e sem se importar com as pessoas olhando de maneira descarada para o balanço de seus quadris — Miyeon admite que também está olhando. Ela puxa a amiga para mais perto, envolvendo sua cintura e balançando-se no mesmo ritmo, a ideia meio-formada em sua mente decidida a ganhar vida.

Um sorriso satisfeito parte seu rosto quando ela sente aquela pequena mudança no ar. Do outro lado da sala espaçosa, escorada contra a parede e com uma lata de cerveja na mão, alguém finalmente teve a atenção capturada.

Miyeon enterra uma mão nos longos cabelos de Sana, espalmando a outra na base de sua coluna, os olhos sempre fixos nas íris escuras da garota ao fundo. Seus lábios baixam até o ponto que liga o ombro ao pescoço da amiga colada a ela, seu cheiro agradável infiltrando-se por suas vias nasais. Ela a prova ali, testando a possibilidade de incluí-la no jogo.

Quando Sana solta um ofego, mas não a afasta, Miyeon agarra a oportunidade com as duas mãos. Ela lança um último olhar para Shuhua, um sorriso ínfimo escapando pelo canto de sua boca, então se move para capturar os lábios da inocente garota usada em sua provocação.

Talvez ela se arrependa mais tarde. Talvez perceba, quando o álcool sair de seu sistema, o erro que cometeu... E quando o beijo termina e Miyeon não perde meio segundo prestando atenção na amiga que tem nos braços antes de procurar pelos olhos de outra pessoa, ela sabe que não ganhou absolutamente nada com isso.

What Now? | MISHUMINOnde histórias criam vida. Descubra agora