Quente e Frio

322 41 72
                                    

Miyeon não sabe há quanto tempo está ali, encarando a gaveta aberta da cômoda de Soyeon.

Seus cabelos úmidos, ainda pingando ao redor, caem frios e pesados por seus ombros nus, provocando arrepios em seu corpo e fazendo seus lábios tremerem. Ela provavelmente deveria ter pego uma toalha para secá-los, mas não sabe onde Soyeon as guarda – talvez no banheiro, do outro lado do corredor. Mas agora que Miyeon está ali e toda a confiança que tinha se esvaiu no momento em que entrou por aquela porta, nada a fará querer sair do quarto tão cedo.

Seu olhar percorre as peças de roupa dispostas em pequenas pilhas organizadas dentro da gaveta, cada peça parecendo infinitamente mais despretensiosa do que as que Miyeon mantém em seu closet. Ela não esperava encontrar nada diferente ali, considerando o gosto muito prático da DJ, e totalmente oposto ao seu. Mas todas aquelas camisetas enormes, estampadas com personagens de anime ou letras de músicas que ela nem mesmo conhece, fazem-na pensar no quanto Soyeon se orgulha de ser alguém que não dá a mínima para parecer qualquer coisa diferente do que é.

Isso a faz invejá-la um pouco. Porque, ao contrário do que todos pensam, Miyeon não se sente sempre confiante em sua própria pele.

A ideia de ficar escondida pelo resto da noite no quarto da amiga passa por sua mente mais de uma vez, mas ela sabe que em algum momento terá que voltar para a festa, encarar suas escolhas estúpidas de queixo erguido e fazer com que todos acreditem que ela é aquela garota confiante que desfilou por uma casa lotada apenas em suas roupas de baixo.

Miyeon solta um suspiro, antes de fazer uma última varredura pelas gavetas, resgatando a camiseta menos nerd otaku que encontra, junto de um par de jeans que ela torce para que sejam do tamanho certo, exceto talvez pelo comprimento, afinal, Soyeon é quase uma cabeça mais baixa que ela.

Ela remove o fecho do sutiã e puxa a calcinha pelas pernas, as duas peças úmidas demais para que possa vestir algo por cima. Depois, passa a camiseta branca e lisa pela cabeça, deixando-a escorregar até o meio de suas coxas. O tecido é macio e cheira bem, algo pelo qual Miyeon é grata. Depois da noite que teve, a única coisa que ela ainda deseja é se sentir confortável da maneira que puder.

Miyeon alcança a calça jeans sobre o móvel, e está prestes a enfiar uma perna nela, quando a porta se abre de uma vez e a faz tropeçar na barra arrastando no chão, fazendo-a afundar de bunda no chão. Um ofego deixa seus lábios quando seu olhar encontra o da idiota da piscina, antes de baixá-los para a barra da camiseta embolada em torno de seu quadril, graciosamente revelando tudo dela.

"Merda." a garota pragueja e bate a porta fechada imediatamente, deixando-a ali, com o rosto em chamas e atordoada demais para pensar numa boa forma de morrer antes que o constrangimento o faça.

Ela geme para si mesma conforme ergue o corpo do chão e tenta se recompor. Mas antes de conseguir avaliar os danos em sua dignidade, a porta se abre novamente e, desta vez, a garota entra, suas costas forçando a madeira para trás até que o estalo do trinco atinja seus tímpanos.

Miyeon prende a respiração, aguardando em completa aflição até que a voz da garota quebre o silêncio no quarto. "Você está usando a minha camiseta." ela diz, ou acusa, Miyeon não consegue definir pelo tom baixo, quase rouco de sua voz.

Instintivamente, seu olhar desce para a peça em questão.

"Mas eu peguei da..." ela hesita, um dedo apontando para a cômoda.

"É? Bem. Algumas delas são minhas." Miyeon está prestes a perguntar como as roupas daquela estranha teriam acabado nas gavetas de sua amiga, quando a garota continua, "Soyeon não te contou? Nós somos primas. E a cama que você acabou de ensopar com o seu adorável cabelo pingando cloro? Eu durmo nela."

What Now? | MISHUMINOnde histórias criam vida. Descubra agora