Íntimo - Parte II

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Os raios solares penetravam as janelas do quarto que mantinha as cortinas parcialmente fechadas, iluminando pontos estratégicos do ambiente em que Clara dormia.

A mulher praguejou ao se virar de frente para a janela, recebendo o feixe de luz diretamente em seus olhos que nem sequer tinham se aberto ainda.

Se arrependeu amargamente de não ter fechado as cortinas e persianas completamente e também de não ter se lembrado de colocar sua máscara de repouso para dormir já que era sensível à claridade que atrapalhara seu sono.

Não passava das oito, o despertador programado ao lado da cama ainda não havia tocado, o que lhe rendeu seus cinco minutos de sossego ainda deitada debaixo do cobertor pesado que a aconchegava. Se espreguiçava levando as mãos ao rosto em desânimo tomando coragem para levantar em pleno sábado de manhã, como quem tivesse bebido durante a noite toda, a sensação de ressaca compenetrava sua cabeça, fazendo com que seu corpo também se sentisse pesado.

Ainda pensava na noite passada, pensava tanto no que acontecera entre Helena e ela, que chegou a sonhar com o beijo caloroso e cheio de intenção que haviam dado.

Helena.

Como pôde esquecer que a personal estava em sua casa, dormindo no quarto ao final do corredor?

A onda de desânimo e deleixo deram vez a um entusiasmo que jamais pensou que fosse capaz de sentir em plena manhã.
Lembrar que Weinberg estava em seu apartamento, trazia um sentimento de alegria que Clara tentava entender de onde vinha e o motivo pelo qual a arrebatava.

Se levantou em um pulo, se dirigindo ao banheiro para jogar uma água gelada em seu rosto um pouco marcado pela posição que dormia, e escovar seus dentes.
Passou breves minutos planejando o que faria para ambas comerem no café enquanto se desfazia de sua camisola e vestia sua roupa bastante usada para frequentar a academia que tanto gostava de ir.
Optou por deixar os cabelos presos em um rabo de cavalo, com a franja solta em seu rosto, e calçar um par de chinelos, se retirando do closet e abrindo a porta nervosa para sair do quarto.

Seu nervosismo vinha com certa rispidez, por mais que Helena e ela haviam se resolvido na noite anterior, ainda lhe causava arrepios lembrar da sensação que tivera quando sentiu os lábios e a língua de sua personal contra os seus. Mas eram duas mulheres adultas, uma bem resolvida e outra nem tanto, não encontrava razão em agir assim, tentava se portar de maneira natural, mas seu interior a desobedecia sem pudor.

Com os pés já para fora da suíte, Clara pensou em ir em direção ao quarto de hóspedes e chamar por Helena para que pudessem tomar café juntas e a empresária levar a amiga para sua casa para depois se encontrarem na academia do condomínio. Mas desistiu da ideia ao constatar que a porta já se encontrava aberta e após uma rápida olhada pela sala, não visualizar a bolsa da mais nova em lugar nenhum.

Seus passos quietos e inseguros tomaram conta do seu corpo, que trazia uma postura incerta e temerosa.
Nem precisou bater na porta ou chamar pelo nome da mulher. Assim que bateu os olhos, observou a cama milimetricamente arrumada e vazia, com um papel dobrado ao meio em cima da cabeceira.

"Desculpe sair assim, tive um imprevisto e precisei voltar pra casa. Não precisa se preocupar, tá tudo bem! Obrigada pela noite e nos vemos na academia.

- Helena"

Sentiu um arrepio correr da ponta dos seus dedos do pé até os fios de seu cabelo.
Se perguntou frustrada o que havia acontecido, se realmente estava tudo bem ou a personal apenas optou por ir embora após pensar sobre o beijo que haviam dado.

Se passava um turbilhão de coisas em sua cabeça. Havia se sentado à cama, passando sua mão esquerda pelo travesseiro e apertando a fronha. O pegou e abraçou o objeto, levando ao seu nariz e inspirando o cheiro que Helena deixou no mesmo.
Aquele perfume que tanto a agradava, com notas levemente amadeiradas que a lembrava o cheiro dos troncos de árvores quando chovia. Um frescor delicioso de se sentir que poderia ser sentido por horas pela empresária, o que a fez cogitar seriamente em retirar a capa que o cobria e colocar em seu próprio travesseiro para que pudesse dormir com Helena todos os dias, mesmo que não fisicamente, o aroma a tornava próxima de Clara.

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