O vento característico dos finais de tarde da cidade batia com força no rosto e cabelo de Helena, os fazendo se bagunçarem em meio às lágrimas que se espalhavam por toda sua face. Lágrimas que secavam rapidamente por conta da brisa, mas não se demoravam em escorrer novamente por seu rosto já vermelho de tanto chorar.
Depois de tantos meses vivendo com Clara, era estranho estar de volta ao apartamento que morava antes de se mudar. Já havia se acostumado com a sua presença dia e noite, andando para lá e para cá aflita com os problemas que estavam a cercando.
Não que estar sozinha fosse ruim, aliás, a mulher estava precisando desse tempo, mas era de fato algo que a mesma havia se desacostumado.A briga entre ambas foi feia, intensa. Mal teve tempo de pegar todas as suas coisas e sair correndo da casa da namorada depois da discussão.
Doía. Doía muito.
Ver Clara cedendo às chantagens do ex marido era revoltante demais, Helena não podia mais aguentar aquilo. E depois da sua proposta absurda de reatar a relação que haviam construído e simplesmente ignorar toda aquela situação grotesca com Theo, a personal não conseguia seguir com o que tinham.Helena sabia que aquele casamento abusivo deixaria sequelas e estava disposta a ajudar a lidar com todos os problemas que a rondavam, mas não podia mais aguentar a sensação de que Clara não estava fazendo o menor esforço para se desvincular do homem que sempre a fez tão mal. Tudo isso por dinheiro, dinheiro esse que era dela por direito.
Já havia passado da metade da primeira garrafa de vinho quando o sol se pôs por completo e a mulher de cabelos castanhos permanecia estática no mesmo lugar.
Não tinha o costume de beber por frustração, afinal de contas, o álcool só piorava seu estado mental, mas sentiu uma necessidade imensurável de afogar as mágoas para tentar esquecer tudo o que acontecera mais cedo.Amava Clara demais e isso não era novidade alguma, mas também se amava demais para se submeter a isso e enfrentar tudo fazendo vista grossa, ignorando sua própria índole por um amor que àquela altura, lhe parecia partir apenas de um lado.
Se perguntava se Clara sentia o mesmo. Não por não verbalizar essas exatas palavras , mas sim por atitudes que tomava sem pensar nas consequências que poderiam acarretar no namoro das duas.
A mais velha parecia irracional, parecia disposta a comer na mão do ex marido por dinheiro, a fazer tudo o que ele mandasse porque não conseguia abrir mão de luxos que teve a vida toda.Helena sabia que era uma situação delicada, sempre fora muito compreensível com aquilo, mas passar por cima das coisas que a chateava, e fingir que estava tudo indo bem, era fora de cogitação.
Segurava seu relógio de pulso que tanto gostava, pensando ainda em Clara indo o entregar pela manhã na academia, e com sua outra mão segurava sua taça já vazia.
A encheu novamente, levando-a a boca e tomando goles generosos que rapidamente fizeram o objeto se esvaziar novamente.Estava absorta nos próprios pensamentos, e por mais que tentasse dispersa-los, se perdia entre tantas questões e novamente voltava ao centro de tudo; Clara Albuquerque Bastos.
Precisava se distrair, estava cansada de chorar por uma mulher que parecia não fazer tanta questão do seu amor.
A primeira garrafa já se encontrava vazia e caída em cima da mesa da varanda. Por conta da falta de costume em beber, se sentia zonza, mas nada que a fizesse perder a noção do que estava fazendo.
Então abriu a segunda, pegando seu celular dentro da bolsa que havia jogado no sofá, e discando o número de uma amiga.– Alô, Helena? Tá tudo bem? – a mulher do outro lado da linha atendeu, indagando preocupada. – Você nunca me liga.
– Oi, Carla. Eu tô bem... – respondeu com a voz já um pouco arrastada por conta da quantidade de vinho que havia bebido. – Na verdade, não. Eu não tô nada bem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
One shots Clarena
RomanceTento criar algumas continuações pra cenas da novela e escrever coisas da minha cabeça