XXII. Consern

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"[...] pedimos que aguardem a abertura de portas para se levantarem. Suas malas estarão à sua direita assim que passarem pelo portão de desembarque. Esperamos que tenham feito uma boa viagem e ficamos felizes por terem escolhido voar conosco. São 21h03 no horário local, uma boa noite a todos!"

Estava tão cansada que só lembro de encostar a cabeça no ombro do Castiel antes mesmo da decolagem. Aguardamos a maioria das pessoas saírem e o Cass segurou minha mão para que saíssemos juntos. Ainda bem que nossas malas são facilmente reconhecíveis, afinal, quem mais teria uma mala com "Winged Skulls" enorme e uma com o nome "Babinha" em cristais?!

- Só não reclamo dessa obra da minha mãe porque ajudou bastante a reconhecer...

- Sua mãe é uma artista, ela pensa em tudo mesmo! — Cass pegou a minha mala e pôs no carrinho junto com a dele e a do Lys. Nenhum sinal da mala da Rosa, ainda.

- Podem ir, gente! O Leigh disse que está lá fora com o carro do Lys.

- Claro que não, viemos juntos e vamos juntos — Castiel disse e se apoiou no carrinho de malas.

- Pessoal, vou ao banheiro, preciso lavar o rosto — saí em direção ao banheiro mais próximo.

Entrei no banheiro e fui direto no espelho, tinha uma mulher se maquiando do meu lado e só, estava vazio, pelo visto não saem voos em todos os horários no aeroporto daqui. Encaro minha imagem de cansada e abro a torneira para molhar o rosto. Queria me sentir pelo menos viva, pois mal estou acordada. Lembro de mandar mensagem aos meus pais falando que chegamos bem e ouço a mulher do meu lado.

- Pelo visto você decidiu voltar pra ser um pouco mais humilhada, não é? — me viro e posso ver o rosto de quem estava ali: Debrah.

- Não te reconheci, está parecendo bem menos uma prostituta barata agora — ela estava com uma peruca e com roupas neutras. — Deixe eu adivinhar: está fugindo dos seus "fãs"? Ou dos clientes que pagaram e não receberam um bom serviço? — fiz questão de fazer as aspas com os dedos.

- Você é uma idiota mesmo, ainda bem que eu vou desmascarar essa sua cara de aproveitadora, afinal, você tirou tudo o que era meu — ela chegou perto. — Se eu não tiver o que eu quero, você também não terá. Eu vou atrás de você até no inferno mas você vai me pagar por tudo que me fez passar.

- Eu fiz? Você é burra ou o quê? Você fez a si mesma — olhei para ela, que estava bem próxima.

- Não é nisso que as pessoas acreditam, sonsa — ela jogou um lenço no lixo e saiu pela porta como se estivesse desfilando, ai que ódio.

Saí do banheiro ainda sonolenta, mas com o sangue ardendo em raiva. Como pode uma pessoa ser tão maléfica a ponto de se vangloriar da única coisa que acredita ser uma qualidade? Ela ser manipuladora está bem longe de ser considerado bom.

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No carro do Lys, a Rosa comentava sobre cada detalhe da viagem e podíamos ouvir os risos do Leigh em resposta ao que ela dizia. Castiel sabia que tinha algo errado comigo, e ainda bem que ele não comentou nada na frente de ninguém. Leigh nos deixou em frente ao prédio do Cass, agradecemos e não falamos nada até entrarmos em casa. 

- Eu chateei você? Fala comigo, Lynn — Castiel cuidou das nossas malas e perguntou assim que se sentou na cama.

Senti tudo de uma vez só, a dúvida, o cansaço, a impotência, o medo... Só senti que iria desabar quando já estava desabando, ainda bem que fui segurada pelos seus braços antes de ir ao chão. Me desfiz em lágrimas e ele não perguntou mais nada, somente me despiu e me colocou debaixo do chuveiro, se colocando embaixo também de roupa e tudo.

Enquanto ele esfregava o sabonete em meu corpo, eu fungava e algumas lágrimas ainda ousavam sair, mesmo que eu não quisesse. Ele me secou, pegou uma calcinha e um pijama que eu tinha deixado aqui e me colocou na cama.

- Vou tomar um banho, ok? Mas estou aqui com você, qualquer coisa me chame — ele beijou minha mão e deixou a porta meio aberta para que pudesse vir ao meu encontro.

Tenho tanta sorte... Acho que ele deve ter voltado logo, mas eu já estava no mundo dos sonhos quando isso aconteceu.

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Acordei sem o Castiel do meu lado, e surpreendentemente sem dor de cabeça. Olho para o lado e percebo que ele deixou um umidificador com óleos que o Lysandre usa para dores de cabeça.

- Amor? — pergunto.

Sem resposta. Sinto o cheiro de ovos temperados e torradas, acho que ele deixou o café para mim. Me levanto com dificuldade e vou em direção à cozinha, percebo um bilhete no balcão:

"Estou no estúdio, peguei nossas coisas na sua mala.
Te vejo depois do trabalho, linda"

Tomei meu café sem pressa e decido ir mais cedo para o café. Hyun não irá hoje, mas a Clemence está lá, vou aproveitar para falar com ela sobre o meu projeto de TCC que idealizei fazer lá. Como eu sei que ela não é fácil, já falei com o Hyun sobre minha ideia e ele acha que a consegue convencer, caso ela recuse logo de cara. Já na porta do Cosy Bear, respiro fundo e entro. Clemence está atendendo alguns clientes, então vou direto para a cozinha.

Visto o avental e o boné, coloco o celular no silencioso e vou preparar os pedidos que estão nas comandas. Dois mocha, um frapuccino e um suco de laranja para a mesa 2... ok.

- Bom dia, Clemence — digo enquanto ela passa por mim durante o preparo do pedido.

- Bom dia, Lynn! Ainda bem que você voltou, vou viajar com meu esposo amanhã! Espero que você e o Hyun consigam lidar com a burocracia, os fornecedores virão no sábado, tudo bem?

- Sim, sim, claro! É... Clemence? — ela se virou para mim. —Preciso pedir algo depois, tudo bem?

- Não sendo mais uma semana de folga, ótimo por mim! — ela entrou cantarolando na cozinha, nunca a tinha visto de tão bom humor.

Depois do horário de pico da manhã, Clemence se sentou comigo e pediu para que eu falasse mais sobre o que seria o projeto. Falei que por ser um trabalho de conclusão, eu não poderia ter lucros, mas que iria arcar com todos os custos e passar algum possível lucro à ela, como se fosse um aluguel do espaço pelos dias do projeto. Ela disse que nunca havia pensado em transformar o café em nada além de um café, e que tinha gostado de eu ter pensado em fazer como se fosse uma galeria por alguns dias e incentivar que artistas locais paguem para expor seus quadros aqui. Ela me disse que como seu marido finalmente conseguiu passar no concurso que queria e agora a situação deles melhorou bastante, ela tinha pensado em se desfazer do local, mas vai fazer o máximo para adiar esse plano até depois que eu apresente o projeto.

Nunca pensei que fosse fazer isso, mas eu a abracei e agradeci muito! O restante do dia de trabalho foi até bem tranquilo, tirando o fato de que tivemos que limpar uma mesa onde tinham 10 adolescentes conversando...

Bom, uma preocupação já foi, agora faltam as outras milhares...

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FIM DO CAPÍTULO 22

JEALOUSY - castielOnde histórias criam vida. Descubra agora